domingo, 29 de dezembro de 2013

[Eu Cinza] Continuaçao do Capitulo 8

Tiro a rede e a levo para dentro. Faço algo para comer  e decido ver tv. So faz algumas horas que me despedi dele e ja me sinto mais sozinha que o habitual. Ele era meu unico amigo e eu vou ter que aceitar as consequencias disso. As nossas escolhas interferem de uma maneira mais avassaladora na nossa vida do que a gente acaba imaginando.
Minha mae me acorda e a tv ainda esta ligada. Estava tao cansada que nem percebi o sono chegar. Ela me encara com um ar de desconfiança. Raramente eu vejo tv e muito mais raro é eu dormir no sofa.
- Laura,voce esta bem? - ela me pergunta com um tom de preocupaçao sentando a meu lado. - Esta tudo bem entre voce e Gabriel? - ela parece advinhar. Eu fito o chao por um momento antes de responder. Suspiro...
- Nao... nós nao estamos mais juntos. - ela afasta seu olhar do meu por um segundo e depois me fita novamente.
- Mas, como? Voce fez algo para ele? - e os dedos sempre se voltando contra mim.
- Nao. Fizeram a cabeça dele. Ele pensa que sou fraca demais para suportar o seu problema. - eu paro engasgando um pouco. - E talvez eu seja mesmo.
- Oh meu Deus! Esse tipo de coisa meche muito com o emocional de uma pessoa. Tudo ainda é recente para ele. Lhe dê um tempo e quem sabe ele reflita...
- Ele nao vai voltar! - eu digo a interrompendo bruscamente. - Eu nao vejo porque ter esperanças. Eu o conheço muito bem para saber que quando ele toma uma decisao, ele nao volta atras. - ela me da um olhar triste, de pena.
- Fique calma. - ela fala passando a mao em meu ombro. - Vai dar tudo certo. Eu tenho certeza que ele vai voltar atras. Eu o conheço desde pequeno tambem. O que voces tem um com o outro é especial. Ele sabe disso. - eu olho para ela assustada porque nunca tivemos uma conversa assim, de mae para filha como deve ser.
Sinto meus olhos marajarem, nao de tristeza por Gabriel,mas pela felicidade que mesmo de longe ele ainda consegue me proporcionar. Me sinto feliz e triste ao mesmo tempo. Me lanço bruscamente em direçao a ela para um abraço e ela nao protesta, mas me abraça firme e carinhosamente. Inspiro e quase posso esquecer de tudo se nao fosse pelo fato de isso tambem ser um pedaço dele. Fecho os meus olhos e ela passa a mao em meus cabelos.
- Eu estarei sempre aqui com voce. Sempre que precisar pode falar comigo,ok? - ela me afasta para que eu olhe em seus olhos. Me vejo como uma menina de 7 anos machucada por qualquer motivo e sua mae vindo lhe dizer que esta tudo bem em meio a lagrimas e sangue. Ela me chama e eu pisco afastando meu devaneio.
- Eu vou tentar ser melhor,mae. Nao quero mais brigar e viver nessa vida de cao e gato que temos tido. Eu prometo que vou cooperar daqui em diante. - ela toca de leve meu rosto e coloca um cacho detras da minha orelha.
- Voce ja esta sendo,querida! - ela diz me dando um sorriso tao acalentador que me sinto mais revigorada. - Vamos! Vou fazer um lanche para nós! - ela diz se levantando, e vamos em direçao a cozinha em meio a abraços e risos. Como se meu coraçao nao estivesse dilacerado.
Comemos o lanche e ela me fala um pouco sobre seu dia. Ela me trouxe um livro que comprou na livraria onde trabalha, ele se chama Soul Love - A Noite o Céu é perfeito. Prometo para ela que vou começar a lê-lo logo, ja que terei tempo de sobra sem ter com quem sair ou conversar. Eu gosto de ler e sempre que possivel eu tento comprar algum novo para mim. Eu costumava comentar todos que eu lia com Gabriel quando ainda tinhamos 12 anos (ele 13 ja que é um ano mais velho que eu). Eu  emprestava o livro para ele e depois ficavamos horas falando sobre ele. Mas depois que as brigas aqui em casa ficaram mais intensas eu acabei deixando para la. Ja tinha assunto suficiente para lidar na vida real.
Deixo-a cuidando dos serviços de casa e vou para o meu quarto. Sem ter o que fazer abro meu guarda roupa procurando por algo que eu sei que aqui eu nunca vou achar. Abro minha caixinha de joias e pego o colar que ele me deu com um pingente do infinito. A ultima vez que o usei foi quando ele ainda estava no hospital. Sento na minha cama e fico brincando com ele entre meus dedos. Eu me lembro do dia em que ele me deu ele com tal intensidade que parece estar acontecendo agora.
Estavamos no Bosque, sentados embaixo da minha arvore rindo de uma historia que ele havia me contado. Ele me encarou ainda sorrindo, me olhando com uma intensidade que nunca havia me olhado antes. Como se estivesse enxergando a minha alma. Entao,ele tirou a correntinha do bolso. Brilhava a luz do sol como quando um raio de sol brinca na face espelhada de um lago no final do dia. Ele me entregou e fiquei ruborizada com a sensaçao que aquele gesto me causava. Foi a primeira vez que eu percebi que algo se transformava dentro de mim.
- Quando eu o vi na vitrine de uma loja me lembrei de voce. Ele brilha como seus olhos a luz do dia. - ele falava aquilo de una forma muito natural, com a inocencia de seus 13 anos. - O infinito representa a nossa amizade. No meu coraçao eu sinto que ela nunca vai acabar! Uma promessa entre nós de que nada vai nos distanciar.
- É lindo,Gabriel! Simplesmente, encantador! - ele tocou o meu rosto de leve em um breve momento.
- Eu sabia que iria gostar...
A lembrança se esvai e as suas palavras se chocam contra o meu peito o deixando dolorido. Uma promessa que ele quebrou hoje e que eu acho que ele nao lembra mais que a fez. Eu, pelo contrario, nao consigo esquece-las. Me agarro a elas como a uma ultima esperança. Pedindo a Deus que toque no coraçao dele para que ele veja a verdade. Que eu nao me sinto como se estivesse carregando uma cruz quando estou com ele. Ao contrario, o peso da minha alma se vai me deixando livre. Meus pensamentos se tornam claros e limpidos como agua recem tratada. Eu preciso dele com todos os seus defeitos e com todas as suas qualidades.
Acordo pela manhã me sentindo triturada pelos pesadelos que me assobraram a noite e pela fadiga. Nao tenho vontade de ir a escola,tampouco de me levantar da cama. Me obrigo a me arrumar, a tomar o café e ir em direçao ao portao. Quando chego ate ele hesito e paro. "O que eu vou ter que encarar hoje?",penso. Me sinto como se estivesse sendo arrastada para algum tipo de condenaçao. Abro a porta e saio, indecisa em cada passo. Com medo do que terei que encarar assim que chegar no ponto de onibus.
Meu coraçao acelera assim que viro a esquina. Atravesso a avenida e pela primeira vez em anos faço esse trajeto sozinha. Assim que subo na calçada vejo Gabriel no ponto de onibus. Ele olha para a direçao contraria e entao percebo para quem ele esta olhando. Juliana esta a seu lado conversando com um dos meninos que estava com eles ontem. Tenho vontade de voltar e me esconder,mas ela me avista. Me encara por dois segundos e se volta sorrindo para Gabriel e o beija. Nao consigo suportar ter que olhar para isso. Viro meu rosto e sinto as lagrimas ameaçando a cair. Me forço a conte-las. Eles nao podem me ver fraquejar. Daria mais um motivo para que pensassem que sou uma garota altamente sentimental e que nao consegue lidar com uma situacao assim.
Repentinamente, Gabriel vira a cadeira e lança seu olhar diretamente a mim. Paro a uns bons metros deles me sentindo sem folego como se eu houvesse corrido de casa ate aqui. Seu olhar é serio e penetrante. Ele nao move os labios, mas posso ouvi-lo dizer: "Voce se lembra do que lhe disse?" Me questionando de uma maneira que so ele sabe que eu entenderia. Isso dura apenas alguns segundos ate que ele se vira de volta para eles. Engajando em uma nova conversa.
Me sinto como se estivessem arrancando uma parte de mim que nem eu mesma conhecia. Drenando toda a cor da minha 3° dimensao, do meu 3° eu. Me deixando nua e cinza. Ja ele parece esta lidando muito bem com isso tudo. Como se tivesse sido lapidado como se faz com uma pedra bruta. Vendo-o assim nao reconheço nele nada mais do que a aparencia.
Por sorte,dois onibus vem juntos em direçao ao ponto. Juliana empurra Gabriel pra o segundo que possui o elevador. Entao,entro no primeiro para nao ter que ficar olhando para eles. Sento e apoio minha testa no vidro gelado. Vejo os borroes passarem pelo lado de fora. O motorista dirige a uma velocidade absurda e desejo que o onibus vire e que eu me va entregando minha alma estraçalhada a quem ela pertence. Ums ideia plenamente egoista ja que nao estou sozinha aqui dentro. Mesmo assim nao consigo deixar de pensar que seria tranquilizador para mim. Mas a vida nem sempre conspira a nosso favor e nada acontece. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário