sábado, 28 de dezembro de 2013

[Eu Cinza] Capitulo 8

Vou para o quintal e armo a rede entre o pé de manga e o de laranja. Nao quero me deitar,mas me balançar como eu fazia quando era criança. Quando minha mãe me empurrava cada vez mais alto pedindo para qie ela balança-se com mais força, ate que eu criava coragem e saltava em pleno ar caindo de pé no chão. Quando eu buscava adrenalina para fugir dos meus pensamentos. Um dos poucos momentos calmos e alegres que eu tinha. E hoje eu tambem quero fugir dos meus pensamentos.
Aproveito que minha mae foi trabalhar e estou sozinha. Teria vergonha de que ela me visse assim, nessa idade ainda me deixando levar pelos desejos infantis de outrora. Mas , só quando estou sozinha é que me sinto eu mesma. Como se eu me deixasse sair da gaiola. Me sento e me impulsiono. Sinto o vento no meu rosto e um frio na barriga tal qual quando eu era pequena. Aquele sentimento que é repulsa e atraçao. Quando chego a uma altura boa me lanço da rede. Sao poucos segundos ate tocar o chao,mas sinto como se pudesse realmente voar. Caio agachada e de uma maneira suave. Passo a mao pela grama e me deito encarando a folhagem acima. Alguns resquicios de luz fazem seu caminho ate mim. Fecho meus olhos e inspiro fortemente. Lembro de Gabriel inevitavelmente. De quando eramos apenas duas crianças inocentes brincando de pique na rua em frente a minha casa. Rindo e correndo um atras do outro como se nao houvesse o amanha. Me pergunto onde foram parar essas crianças. Apesar de saber que a minha ainda esta viva aqui dentro e de vez enquando resolve comandar meus sentimentos tomando o lugar da razao.
Eu abro meus olhos e vejo uma folha se desprender de um galho e cair aos meus pés. Penso que quando a vida se vai voce acaba assim tambem. Murchando e secando. Ate que toda ela te deixa e voce cai. Nao sabemos para onde vamos,mas nos encontramos todos em um lugar como essa folha se encontra agora no chao.
Gostaria que Gabriel estivesse aqui. Ele,assim como eu, gosta de ver a vida se desdobrar diante de seus olhos e de analisar os fatos. Quem sabe ele poderia me contar uma historia sobre para onde vamos. Apesar de eu saber para onde. O nosso folego de vida veio dEle e é para Ele que voltamos. Como se Ele aspirasse a nossa vida e a guardasse no mais recondito do seu ser. Viramos um catalogo de nós mesmos.  Minha mae costumava me falar sobre isso quando eu era menor e nao esqueço dessas palavras agora e nunca esquecerei.
Meu celular vibra e me assusto me pondo sentanda. Um torpedo de Gabriel. Fico olhando para a tela por alguns segundos tentando decidir se quero ou nao deixa-lo para tras. Se eu poderia me desprender dele. Mas a resposta é a mesma desde que o conheci e clico em visualizar a mensagem.
" Laura, eu espero que voce tenha encontrado a carta que lhe deixei naquele lugar. Se nao a encontrou, por favor va ate la e a encontre. Se a achou, entao eu espero que esteja tudo bem."
Eu deixo que o celular caia sobre a grama e me encolho tomando minhas pernas entre meus braços. Pensei que ele iria voltar atras. Que a razao o encontraria, mas ele quer apenas se certificar de que eu entendi sua mensagem. Para que amanha eu nao lhe cause problemas. Para que eu nunca mais fale com ele. Decido nao responder a mensagem. Se for para se desligar dele o farei agora. Porem nao é o que o meu coraçao deseja.

Nenhum comentário:

Postar um comentário