quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

[Eu Cinza] Continuação do Capitulo 5

Resolvo que o melhor agora é ir para casa. Devo contar a mamae o que aconteceu com ele. Ela ira ficar sabendo de qualquer maneira,melhor que seja por mim. E depois eu vou ao bosque para pensar um pouco. Apesar de achar que sera um pouco doloroso ir ate la ja que foi onde passei meus ultimos momentos com ele antes do acidente.
Quando chego em casa procuro por mamae. Ela esta no quintal varrendo as folhas que se acumulam debaixo do pé de manga.
- Mãeeee! - a chamo da porta da cozinha e ela se vira meio espantada. Nao esperava que alguem falasse com ela. Ainda menos eu.
- Venha ate aqui! - ela me chama. Quando ouço sua voz vejo que estava com saudade dela. A tantos dias nao a ouvia.
- Mae,aconteceu uma coisa com Gabriel... - eu falo olhando para a pilha de folhas que ela juntou. Ela me olha fixamente sem esboçar nenhum tipo de emoçao. - Ele sofreu um acidente. - agora eu a encaro e posso ver passar um pouco de tristeza em seu rosto.
- Eu fiquei sabendo hoje pela manha. As noticias por aqui correm rapido.
- Eu fui visita-lo hoje. Falei com os pais dele e ele vai precisar fazer uma cirurgia. E mae... - minha voz falha - ele pode ficar paralitico. - começo a chorar e soluçar. A dor é enorme demais para ser contida. Minha mae chega mais proximo de mim e me da um abraço. Me assusto e paro de chorar.
- Vai ficar tudo bem. - ela diz com uma voz reconfortante. - Eu sei que vai da tudo certo. Nao chore. Onde esta a rebelde durona que voce sempre foi?
- Eu nao sei. Eu realmente nao sei. - ela me solta e eu olho em seus olhos castanhos como mel. Me sinto mais confiante agora. E eu nao sei porque.
- Voce pretende fazer o que agora,Laura?
- Agora eu vou tomar um banho e ir a um lugar. - sei que nao foi bem essa a pergunta que ela me fez,mas nao pretendo responde-la.
- Ah sim. - ela pega a vassoura e retoma o que estava fazendo. Acho que nossa conversa acabou por enquanto. Vou em direcao a casa novamente,mas ela me chama:
- Laura?
- Sim,mãe! - me viro para ela.
- Me mantenha informada sobre o estado dele?
- Pode deixar! - ja me viro novamente quando ela me chama de novo.
- Ah! E coma alguma coisa antes de sair e volte logo! - eu rio um pouco.
- Claro! - e agora vou para dentro.
Vejo uma coisa boa em tudo isso afinal;agora estou voltando a falar com a minha mae meamo que seja sobre uma coisa tao ruim quanto essa. E Gabriel ficará feliz em saber que ele ajudou em alguma coisa mesmo que dessa forma.
Eu me banho,e vou almoçar. Apesar de ter passado da hora,nao quero trocar uma refeicao por um lanche qualquer. Enquanto como nao deixo de pensar em como ele esta se sentindo. Se esta consciente,com muitas dores. Se lembra de mim. Meu peito doí e solto um longo suspiro. Olho pela janela e vejo que esta escuro. Parece que vai cair uma tempestade,mas nada me impedira de ir onde eu quero. Pego minha pequena bolsa de lado ainda com o biscoito dentro e um sombrinha. Resolvo vestir um cardigã cinza por cima da blusa que estou por causa do frio que ja estou começando a sentir.
A chuva começa assim que chego no ponto de onibus,mas para minha sorte o onibus nao demora mais do que dois minutos para passar. No caminho,meus medos me assombram em minha mente. Como vai ser se ele ficar mesmo paralítico? Ele que é tão vivo e que gosta de liberdade tanto quanto eu? E como vai ser para mim? Me imagino empurrando a sua cadeira de todas pela escola e todos os olhares de pena focados em nós. E eu vou ser agora não mais a garota anti social e sim a 'coitada namorada do garoto da cadeira de rodas'. Como eu vou suportar isso?! E eu me odeio por pensar assim. Nao posso abandona-lo agora. Que amiga,ou melhor,namorada eu seria se fizesse isso. Ele nunca me perdoaria.
Desço do onibus e ainda chove forte. Meu guarda chuva vermelho se destaca no meio de tanto cinza. Mesmo com ele alguma quantidade de chuva encontra seu caminho ate mim molhando minha calça. Vou pela trilha que esta uma lama só e me amaldiçou por ter vindo de rasteirinha. Esculto apenas o som da chuva e de meus pés em contato com o chão. Clac clac clac. Chego ate a minha arvore e agora que estou aqui nem sei o motivo de ter vindo.
Me lembro de Gabriel dizendo: "Porque você foge de qualquer coisa que você nao consegue controlar." E era verdade. Eu sempre fujo e sempre é para cá que eu venho. Encosto meu rosto no tronco da arvore úmido e percebo que a chuva acabou.
Fecho o gurada chuva e o engancho em um galho. Abro a bolsa e  procuro algo cortante e encontro uma lapiseira. A quebro e pego a lamina.
Com ela tento fazer nossos nomes no tronco bem fundo para que nao desapareça logo. Isso me faz lembrar do sonho que tive e começo a chorar. 'Nao,eu preciso ser forte por nos!',penso passando o braço no rosto para secar as lagrimas. Ele nao gostaria de me ver assim.
Pego meu celular e ainda sem nenhuma ligacao da mae de Gabriel. É muito angustiante ter que esperar uma noticia. Decido ir ao hospital.
Quando chego la,nao vejo os pais deles em nenhum lugar. Vou ate a bancada de informaçoes.
- Ola! Eu queria saber alguma coisa sobre o paciente Gabriel. Nao vejo os pais deles em nenhum lugar da sala de espera.
- Nome completo do paciente por favor. - digo e ela digita no computador. - Ele foi encaminhado para sala de cirurgia a pouco. Os pais dele devem estar perto de la.
- Onde fica a sala? - ela aponta para o outro lado da sala de espera. Para um corredor.
- No final daquele corredor vire a esquerda. É a ultima sala. Mas voce nao pode entrar la.
- Ta bom. So quero falar com os pais dele. Obrigada! - ela me da um sorriso frio e vira o rosto para o computador. Deve ser muito estressante trabalhar em um hospital.
Sigo as indicacoes,e perto do fim do corredor vejo os pais dele sentados em um banco abraçados conversando. De repente,me sinto uma intrusa.
- Boa noite! Como estao? - eles param a conversa e olham para mim. Eu sei a resposta,mas pergunto por educaçao.
- Bem,na medida do possivel. E voce?
- O mesmo. - suspiro antes de prosseguir me sentando ao lado da mae de Gabriel.
- Como ele esta?
-  Começaram a cirurgia a pouco. Muita sorte dele porque tem muitos pacientes esperando tambem. Eu ia te ligar agora,mas voce chegou. - meu coraçao acelera so de pensar que ele esta na sala no final deste corredor. Tao perto e tao longe.
- O que os medicos falaram sobre o caso dele? - nao quis perguntar diretamente se ele ia ficar paralitico.
- Disseram que ele esta instavel. Com algumas hemorragias internas que foram controladas. Mas ele... - ela olha para suas maos que tremem e fico tensa. - ... teve um compromentimento na coluna. Estao tentando o maximo na cirurgia,mas nao se sabe o que pode acontecer. - ela se vira e encosta o rosto no peito do marido. Tentando abafar o choro.
Esta quase confirmado que ele pode ficar paraplegico. Isso tudo parece um pesadelo terrivel. Me belisco com força no braço,mas continuo acordada. E eu terei que viver com isso. ' Ele é forte! Vai ficar tudo bem. Pode da certo!',eu penso tentando me agarrar a alguma esperança,mas parece uma coisa distante.
Olho fixamente para o chao desejando que fosse eu la dentro. Eu mau tenho um relacionamento instavel com minha mae,meu pai se foi,nao tem ninguem que precise de mim. Mas ele tem uma familia que o ama e que precisa dele. Ele tem que sobreviver. Ele tem que sair andando daqui.
As horas se passam e ninguem aparece.

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