sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

[Eu Cinza] Capitulo 10

Vou para o ponto com Jefferson e Bianca ao meu lado. Ele assovia algumas vezes e vejo um pombo branco passar voando proximo a nós. É Leandro. Quando chegarmos no ponto de onibus vamos acertar os detalhes da ida deles ate minha casa hoje a noite. Meu coraçao esta batendo mais forte desde que ele me falou que iriamos espionar hoje. Nao tenho bons pressentimentos em relaçao a ideia. Nao planejamos nada e parece ser uma açao muito equivocada. Eu quero resgatar minha mae o mais rapido possivel,mas nao quero que ela corra riscos no percurso. Mas seria muito dificil convencer Jefferson. Ele é muito deterninado e parece que quando coloca uma coisa na cabeça nao tem que mude a ideia dele.
Quando chegamos no ponto de onibus me sinto um pouco fraca e me apoio em Jefferson. Ele me olha atordoado e me abraça. Nao tenho forças para afasta-lo e me deixo ficar em seus braços.
- Esta se sentindo bem,Laura? - ele fala levantando meu queixo.
- Nao. Senti uma tontura, mas ja esta passando.
- Fique aqui junto a mim. Voce esta um pouco fria. Pode ser febre.
Eu nao respondo e fecho meus olhos por alguns minutos. Estou assim so de pensar que Juliana pode nos capturar, em qual sera o estado que verei minha mae. Sinto nauseas e pressiono meu corpo contra o de Jefferson em busca de algum alivio. Ele passa a mao em meus cabelos e pouco a pouco a fraqueza vai me deixando. Abro os olhos e vejo Juliana empurrando a cadeira de rodas de Gabriel. Ela sorri maliciosamente quando encontra meu olhar. Ela quer me desestabilizar. Gabriel segura os braços da cadeira com força e me da um olhar de odio.
Me solto do abraço de Jefferson no momento em que eles passam por nós. Gabriel nao me olha, mas seu rosto esta serio com a raiva. Ouço Jefferson rir as minhas costas e me viro para encara-lo. Tento lhe dar um olhar de raiva, mas so consigo transparecer a tristeza. Ele fica serio imediatamente. Olha para Gabriel por um longo tempo e depois se aproxima de mim.
- Sabia que ele nao te merece? Voce é tao delicada, tao linda, tao cheia de vida! Eu nao sei como ele teve coragem de te trocar pela Juliana. - ele fala passando a mao de leve em minha bochecha e me afasto.
- Nao é questao de merecimento. Ele tem meu coraçao sem de nada. Nao podemos mandar no coraçao. E voce tambem nao o conhece. Ele é melhor do que isso. Muito melhor do que eu posso ser. - falo olhando para o outro lado sem ter coragem de olhar nos olhos dele.
- Voce gosta mesmo dele. E por isso eu acho que ele te merece menos ainda. Eu nao faria isso com voce.
- Eu nao quero falar sobre isso,Jefferson. Nao piore as coisas para mim.
- Como voce quiser! - ele fala se afastando um pouco e desvia seu olhar. Bianca aproveita e me puxa um pouco para o seu lado.
- Laura, voce acha uma boa ideia irmos hoje? Por que se voce nao quiser nao iremos.
- Eu ja nao sei mais de nada. Eu gostaria de poder acordar desse pesadelo agora mesmo. - falo me sentindo esgotada. - Mas precisamos descobrir logo o plano deles. Antes que seja tarde.
- Se voce acha, eu estou com voce! - ela fala sorrindo e segurando minhas maos entre as dela. - Tenha fé,Laura! Tudo vai da certo no final.
- Espero que voce esteja certa. - Jefferson e Leandro se aproximam de nós interrompendo a conversa. Nao percebi a chegada de Leandro.
- Nos vamos passar na sua casa por volta das 20:00 hrs. Estejam prontas. - Jefferson fala serio.
- Tudo bem. - eu falo. - Mas antes de irmos vamos planejar alguma coisa,certo?
- Claro. Eu ja vou com alguma coisa traçada em mente. Bom, eu e Leandro ja vamos. Nao iremos com voces. Temos muito a conversar. Nao quero que nada dê errado. Ate mais! - ele diz e me da um abraço rapido e um aceno para Bianca. Leandro o segue e nos da um sorriso de despedida. Sigo eles com meu olhar ate que dobram a esquina.
Os dois onibus de sempre param no ponto e eu e Bianca embarcamos no segundo, enquanto Juliana e Gabriel vao no primeiro. Sento do lado da janela com Bianca ao meu lado. Ela esta ouvindo musica no fone de ouvido e parece nao esta preocupada. Eu pelo contrario nao consigo parar de pensar em mais tarde. Como eu gostaria de ir ao Bosque, mas eu prometi a mim mesma que so voltaria la quando voltasse com Gabriel. Mesmo tendo sido levada praticamente a força por Bianca quando todo esse novo mundo foi exposto para mim por ela. Mas esse dia nao conta e nao voltarei ate la enquanto nao tiver trazido ele de volta. Lá é mais que o meu refugio, é um segredo entre mim e ele, um lugar que eu so quis repartir com ele, foi onde tudo começou.
Quando chegamos em casa, Bianca deixa que eu destranque a casa para quebrar o selo. Vou para o meu quarto e me jogo na cama me sentindo exausta. Bianca entra e noto que ela nao esta mais com a farda da escola. Como eu gostaria que a minha vida tivesse essa praticidade. Tudo parece tao facil e simples para ela. Apesar de eu achar que deve ser um fardo ter que lidar com um adolescente como uma baba 24 horas. Ela senta na cadeira da minha mesa de estudos e fica encarando o nada.
- Bianca?
- Sim? - ela fala me dando um breve sorriso.
- Voce gosta do que faz? De ter que cuidar de um humano. Nao é um fardo para voce? - pergunto curiosa.
- Nao, pelo contrario,Laura. Eu gosto de ajudar, de me sentir util. Nos fomos criados para isso e é o objetivo da minha vida. É o melhor que eu posso ter e ser. E, nao, voce nao é um fardo para mim. - ela fala sinceramente e me sinto feliz com suas palavras.
- Voce ja foi Slaver de muitos humanos? Quantos anos voce tem,Bianca? Nao em anos humanos, mas como anjo.
- Voce é a minha primeira acompanhante. Eu so tenho 100 anos. So apartir dessa idade que somos considerados aptos para o trabalho.
- 100 anos? Voce fala como se fosse poucos anos. - falo um pouco assustada.
- E,é! Por isso, eu estou aqui como uma adolescente. Se eu tivesse mais alguns seculos eu estaria no corpo de uma mulher adulta, mas eu gosto da forma como eu estou.
- Quer dizer que voce é uma iniciante?! Me sinto lisonjeada por ser sua primeira acompanhante! - falo rindo.
- Sou iniciante, mas sei de muita coisa. Tive 100 anos para estudar, aprender e praticar. Eu me sinto bem de ser sua Slaver. Ja comecei meu trabalho com muita açao, viu?! - ela fala entusiasmada e me sinto triste ao lembrar de mamae. - Oh, desculpe,Laura! Eu nao queria te entristecer. Foi so uma maneira de dizer. - ela fala se desculpando.
- Nao tem problema. A culpa nao é sua. Eu so quero que tudo acabe logo.
- E vai acabar! Voce vai ver. - ela fala me dando um sorriso de consolaçao. - Vamos almoçar?
A tarde passa lentamente por que estou contando cada segundo dela. Estou ansiosa, aflita e nao a nada que me acalme. Eu tento nao pensar nisso, mas estou em um labirinto no qual so uma saida e eu bato de frente com ela sem saber o que fazer. Tenho medo do que posso encontrar do outro lado. Sao tantos 'se' que se passam em minha mente, tantas possibilidades que podem se tornar reais. Eu gostaria de ser forte como as heroinas dos livros. Enfrentar tudo de cabeça erguida, focada no objetivo maior. Mas, pelo contrario, eu quero me esconder, fugir, me encolher em algum lugar e esquecer da vida. Tudo parece triplicar de tamanho aos meus olhos. Talvez por isso eu precise de uma guardiã. Alguem para cuidar das coisas que eu deixo para la, para me incentivar, para nao deixar que eu faça uma besteira ou que simplesmente nao faça nada.
Vou ao meu quarto e vasculho meu guarda roupa. Uma mania que tenho quando estou nervosa ou impaciente. Procurando por algo que eu sei que nao estara aqui, mas pelo menos algo para fazer. Entre minhas roupas, no canto vejo um livro. O tiro do lugar e olho a capa. É o livro que minha mae me trouxe da livraria e que eu prometi que leria. Passo os dedos pelo titulo me lembrando de mamae. Eu deveria lê-lo como prometi, o minimo agora que posso fazer por ela. A lembrança faz meus olhos marejarem e um unico fio de lagrimas solitario desce por minha bochecha.
O livro é um romance intitulado Soul Love - A Noite o Céu é Perfeito. Parece ser bom e o coloco em cima da cama para ler depois. Agora nao conseguiria destinguir uma palavra da outra e isso nao seria uma leitura. Sento na cadeira em frente a minha mesa de estudos e pego caneta e papel. Eu nao quero ficar com todos esses pensamentos pairando na minha mente, mas tambem nao quero falar sobre eles com alguem. Entao, eu decido escrever. Nao que eu escreva bem, mas é uma maneira de me expressar sem precisar falar. Antes eu escrevia sempre. Poemas, poesias. A maioria tristes por que minha vida nunca foi um mar de flores. Eu acabei deixando de lado assim como o desenho, mas hoje eu preciso deixar que as palavras saiam ou eu irei sufocar.

Cinza, como um ceu de tempestade
A vida a muito se esvaiu
As cores, eu as conheci um dia
Mas, alguem veio e as tirou de mim
Ele levou para longe o meu motivo para sorrir
Me trouxe palavras boas
Porem so sabia mentir
Deixou que eu ficasse com o coraçao quebrado
Ferida, estilhaçada
Um corpo maltratado
Mas alguem chegou
Para ocupar seu lugar
Mesmo que eu nao queira
Eu posso enfim amar
Se ele nao voltar.

Termino a ultima palavra e releio o poema inumeras vezes. Quando escrevo me deixo levar pelos sentimentos e nao me sinto eu. Se ele nao voltar pode haver outra possibilidade. Eu trarei minha mae de volta custe o que custar. Nem que isso custe Gabriel.

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