sábado, 21 de dezembro de 2013

[Eu Cinza] Capitulo 7

Quando chegamos a minha casa o ajudo a subir a rampa e o coloco para dentro. Minha casa não é adaptada. Entao ele tem um pouco de dificuldade em passar de uma area mais baixa para uma mais alta e eu o ajudo. Ele vai ao meu lado em direçao ao meu quarto e ele me da um olhar feliz. Sinceramente feliz.
Ele entra devagar olhando para tudo,como se quisesse se lembrar de cada minimo detalhe, ate que para de frente para a parede onde estao meus rabiscos de uma era pré-historica para mim. Ele se aproxima mais e quando vê nossos nomes,ergue o braço e passa os dedos sobre eles de uma forma carinhosa.
- Que lindo,Laura! Nao sei como sua mae deixava voce rabiscar as paredes da casa. - ele ri com um olhar brincalhao.
- Ela nao deixava. Mas eu sempre fazia escondido. Depois de umas brigas, eu fiz estes apenas aqui no meu quarto. Aqui a voz dela nao tem alcance para mim.
- Você colocou nossos nomes aqui por que razao,ja que voce diz que nao sabia gostar de mim? - ele olha para mim e depois se volta para os desenhos.
- Eu nao sei. Me parece agora uma coisa inconsciente. Como se eu apenas deixasse os sentimentos irem sem pensar neles. Fluiu. - dou de ombros e ele vem em minha direcao e sento na cama para ficar no mesmo nivel que ele.
- O que sua mae pensaria de nos ver aqui assim sozinhos? Voce me mostrando esses rabiscos em um gesto altamente romantico? - ele levanta uma das sombrancelhas em um gesto muito sedutor.
- Eu nem quero saber! - puxo sua cadeira de rodas para mais perto. Uma mao em seu rosto e outra no braço da cadeira para me dar apoio. Ele coloca suas maos em minha cintura e nos beijamos livres de qualquer pensamento. Nossos labios viajam nao mais apenas em busca apenas um do outro, mas ,incontrolavelmente, se tornam selvagens em busca de novas sensaçoes. Ele me puxa e ainda com nossas bocas unidas,pede para que eu me sente em seu colo. Eu o faço sem pensar o que essa situacao pareceria aos olhos de outra pessoa. Ele me segura firme e nossos olhos se encontram,ardentes de desejo. Deixo meus labios se moverem por seu pescoço e ele solta alguns gemidos enquanto suas maos deslizam por minhas costas. Quando ele tenta subir minha blusa tenho um choque de realidade e saio de seus braços,sentando novamente na cama. Ainda sem folego,digo:
- Nao,Gabriel. Eu nao posso... - nao tenho coragem de olhar para ele.
- Eu te entendo. Como voce se sentiria a vontade de pensar nisso comigo assim? - levanto meu rosto e vejo-o se afastar de mim. Seguro firmemente no braço da cadeira.
- Nao é isso! É só que eu... - sinto um travamento em minha garganta e as palavras nao querem sair. - ... eu nao estou preparada para isso. Nao é por voce estar assim. Eu me sentiria assim com qualquer pessoa,entende? - me ajoelho ao seu lado me sentindo muito mal por te-lo chateado.
- Esta bem,Laura. Eu entendo. Eu so nao consigo parar de pensar em como eu posso ser alguma coisa para voce assim. - ele fala com a voz embargada.
- Nao se martirize! Voce é muito mais do que pensa. É muito importante para mim! - o abraço e falo em seu ouvido. - Nunca pense que voce é tao pouco para mim, por que voce nao é!
Acaricio seu rosto e sua expressao vai se acalmando aos poucos. Ele pega um dos meus cachos e o enrola como de costume. Me levanto e o puxo para perto da cama novamente e me sento.
- Eu me sinto realmente cansada. - ele afaga meu braço de leve.
- Por que nao se deita? Eu adoraria ficar aqui vendo voce dormir. - ele sorri gentilmente para mim o que me faz me sentir ainda mais sonolenta.
- Acho que vou aceitar sua ideia.
Me deito na cama virada em direçao a Gabriel, para poder ficar olhando para ele. Ele ajeita a cadeira e passa a mao em meus cabelos. Fecho os olhos vendo-o sorrir levemente para mim e me sinto embalada e confortavel como nao me sentia a tempos. Durmo e tenho um sonho. Estou em uma praia ao entardecer,caminhando sozinha. A uma floresta fechada logo atrás. Eu nao sinto medo ou qualquer outra coisa. E a melhor coisa que há é nao sentir nada. Como se voce estivesse completa e nao precisasse demais nada. Eu me sento na areia com a espuma das ondas batendo em meus pés. Indo e voltando. Eu sinto como se todos os problemas estivessem sendo retirados de mim. Eu sorrio e olho o sol indo em direcao a linha do infinito. "Eu gostaria de ficar assim para sempre!",penso. Ate que percebo algo boiando na agua. As ondas o jogam aos meus pés. Uma garrafa com algo dentro. Tiro a rolha e um papel enrolado cai. Abro e vejo uma foto minha e de Gabriel na sua cadeira de rodas. Estamos de costas em um lugar que nao reconheço,mas que parece uma praça. Na foto,estou meio abaixada apontando algo para que ele veja. Sigo com o olhar para onde meu dedo aponta e vejo ao longe,meio desfocada,a silhueta de uma criança.
Deixo a foto cair na areia e as ondas a fisgam e a levam antes que eu a pegue. "Uma fotografia do meu futuro?",pergunto alto o bastante para que alguem possa ouvir mesmo sabendo que ninguem me respondera e acordo. A primeira coisa que vejo é Gabriel ao meu lado imovel na cadeira. Esta dormindo tao calmamente que parece ate estar sorrindo. Os cabelos caidos sobre a testa meio suada. Tao lindo e tao meu. Levanto e passo a mao em seus cabelos. Ele acorda e olha para mim contente. Pega a minha mao e me puxa para um abraço. Respiro sentindo o seu cheiro,uma fragancia so sua. O solto me espreguiçando e digo:
- Que tal um lanche antes de eu ir te deixar em casa? - ele sorri.
- Claro! Quero provar dos seus dons culinarios!
Vou em direçao a cozinha e ele vai empurrando a cadeira de rodas para perto da mesa. Decido fazer dois sanduiches simples com queijo,presunto e tomate e suco de laranja. Ele nao tira seu olhar de mim como se nao quisesse perder nenhum detalhe do que estou fazendo.
- O que foi? - eu pergunto levantando uma sombrancelha para ele enquanto recheio o pão.
- Nada. É so que voce nao tem ideia do quanto fica linda cozinhando! - ele diz sorrindo para mim.
- Que bom que acha isso. Mas... vamos comer por que eu ja acabei! - falo erguendo a bandeja com os sanduiches e sucos levando para a mesa. Sento ao lado dele e olhando assim para ele nem parece que ele sofreu um acidente.
- Humm! Estao muito bons,Laura! - ele fala parecendo muito satisfeito.
- Nao fale de boca cheia! - falo meio brincando.
- Voce sempre se esquivando. Ate de elogios.
- É a minha natureza. O que posso fazer? E coma logo que sua mae deve estar para ter um colapso nervoso sem noticias suas,e prometi te levar antes de anoitecer.
- Falando assim,parece que voce quer se ver livre de mim... - ele diz me encarando com um olhar triste.
- Voce tem uma mania de achar que eu nao quero sua companhia! - falo pegando em sua mao. - Nada me faria mais feliz se voce pudesse ficar aqui sempre! - dou um beijo em seu rosto e volto a comer. - E,Gabriel... Eu nao sei se irei ficar indo muito na sua casa. - ele me olha meio chocado.
- Depois voce diz que quer minha companhia... - ele fala deixando o sanduiche cair no prato.
- Nao é isso! É so que eu nao me sentiria a vontade com seus pais nos cercando e mimando voce o tempo todo. Eu nao gosto de ter muita atencao,voce sabe!
- E como vamos nos ver?
- Eu ainda vou la,mas nao sempre e tem a escola tambem,esqueceu? - ele olha fixamente para seu prato antes de falar.
- Eu nao sei se minha mae me deixara ir a escola agora. Ela tem receio que eu me machuque, tipo  caindo por la. Como se eu nao pudesse me cuidar...
- Eu vou conversar com ela! Eu estarei la e tem seus amigos tambem. Ela vai mudar de ideia! - ele me olha carinhosamente e acaricia meu rosto.
- Obrigada,Lau!
- Pelo que? - digo meio sem entender.
- Quantos paraliticos voce vê com uma namorada?
- Nunca vi um...
- Eu tenho muita sorte! - ele fala me puxando para um beijo.
No caminho,de volta para casa nao consigo deixar de olha-lo. O vento bate em seus cabelos e ele erradia vida. Ele tem muita força de vontade. Eu nao estaria assim se estivesse no lugar dele. Eu estaria em depressao com certeza. Afogada em uma poça de lagrimas. Ele olha para mim de vez enquando,rimos e ele parece estar se sentindo livre.
- Parece que voce fez isso a vida toda,Gabriel! - digo sorrindo para ele.
- Voce acha? Ainda nao me sinto confortavel com ela. Me movimentei nela algumas vezes no hospital para praticar e o medico disse a mesma coisa que voce! - ele olha para a cadeira e para si mesmo com um pouco de orgulho.
- As vezes, nem parece que voce esta assim. Eu falo nao fisicamente,mas do ponto de vista emocional. Voce esta lidando muito bem com isso. Se fosse eu,voce imagina como eu ficaria.
- Voce se substima demais. Voce é mais forte do que eu,Laura!
- Nao sei de onde voce tirou isso. Voce mesmo diz que eu fujo de qualquer coisa.
- Mas voce sempre volta para enfrentar seus problemas. Sempre. - eu nao falo nada,por que nao quero contraria-lo.
- Laura,eu nao estou tao bem quanto aparento. Eu me sinto revoltado com essa situacao mais do que voce imagina.  So que eu sei que nao adianta resmungar, eu vou continuar assim independente de tudo. Por isso,eu quero me adaptar. - eu seguro o braço da cadeira de rodas o parando.
- Eu que tenho sorte de ter um namorado. Ainda mais um como voce. As vezes, eu acho que nao vou dar conta da situacao,mas voce sempre me coloca para cima. E essa é a unica razao de eu ser forte. É por ter voce ao meu lado. - digo para ele sinceramente e ele me olha como se estivesse analisando o que eu digo e sorri.
Quando chegamos a sua casa ja esta noite e dona Julia esta no portao nos esperando. "Que bom!",penso. Assim vou poder conversar com ela sobre o Gabriel ir a escola.
- Boa noite,dona Julia! - falo enquanto ajudo Gabriel a subir a rampa.
- Pensei que ia ter que busca-lo! - ela diz abrindo o portao para que ele entre. - Nao vai entrar,Laura?
- Nao. Eu so quero conversar uma coisa com a senhora antes de ir. - falo e me abaixo para dar um beijo em Gabriel.
- Mais tarde te mando uma mensagem. Tudo bem? - pergunto a ele.
- Tudo bem. Ate mais,Laura! - ele fala olhando para mim e sua mae antes de entrar.
- Pode falar,Laura! - dona Julia fala meio impaciente.
- O Gabriel me disse que a senhora nao quer deixa-lo ir a escola. Isso nao tem logica. Ele tem que estudar,dona Julia. - falo suavemente. Nao quero que ela pense que quero mandar na vida do seu filho.
- Pois eu vejo logica nisso sim. Ele voltou do hospital hoje. Ainda esta se recuperando. Ele pode se machucar por la! - ela fala decididamente.
- Mas ele nao foi a minha casa? E ele tem a mim,seus amigos e professores na escola. Nada vai acontecer a ele. Voce pode ficar tranquila.
- Eu nao sei. E se ele cair? Pode piorar a situaçao dele!
- Ele tem que viver,dona Julia! Voce nao pode protege-lo de tudo. Eu asseguro que ele ficara bem! Eu tomarei conta dele.
- Esta certo. Mas se acontecer algo com ele, voce sera a responsavel! Eu lavo minhas maos! Agora vou entrar. Passe bem! - ela fala e entra fechando a porta atras de mim. Espero nao estar arrumando sarna para me coçar.
Quando chego em casa preparo uma comida rapida para mim. Me sinto triste aqui sem minha mae,sem Gabriel. Eu estou tao sozinha no mundo quanto um pacote de bombom jogado no lixo. O ruim de nao se relacionar com muitas pessoas é a solidao. Hoje a sinto sentada comigo na mesa enquanto como. Posso ouvi-la dizer: "Do que adianta fingir que voce nao precisa de ninguem? Olhe para si mesma!" Ela esta certa. Do que adianta formar um casulo entre mim e o mundo se tudo que eu quero é liberdade. Pareço com um passaro que nasceu em cativeiro. Mesmo nao sabendo como é a vida la fora anseio por ela todos os dias,mas se abrissem a gaiola eu nao teria coragem de sair. Suspiro e nao consigo colocar mais nada para dentro. "Eu sou uma derrota.",penso.
Meu celular vibra na mesa e nao preciso ver o nome para saber quem é. Meu inico amigo. Meu namorado.
"Nunca pense que voce nao é nada pq para mim voce é mais que tudo. Te amo!"
Parece que estava lendo meus pensamentos. Respondo a mensagem.
"Eu nao sei como vc faz para advinhar o que estou pensando..."
Dois minutos depois outro torpedo chega.
" Voce é muito previsivel. Kkkkkk Na verdade,é pq eu te conheço mto bem!"
" É verdade! Mudando de assunto,sua mae falou com vc sobre nossa conversa?"
"Sim. Nao sei como vc a convenceu. Vc é demais!"
" Ela quase me ameaçou de morte,mas sou demais mesmo. Kkkkkk"
"Isso é o que se chama de sogra! Kkk Amanha nos vemos na escola!"
"Eu vou te pegar na sua casa ou sua mae super protetora vai vir te deixar aqui? kk"
" Nunca! Tenho meu orgulho,voce sabe! Falando nela.... Hora do remedio! Ate amanha,Lau! Bjo"
"Mães! Até! Bjo"

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