sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

[Eu Cinza] Mais do Capitulo 8

Entao,entro no primeiro para nao ter que ficar olhando para eles. Sento e apoio minha testa no vidro gelado da janela. Vejo os borroes passarem pelo lado de fora. O motorista dirige a uma velocidade absurda e deseho que o onibus vire e que eu me va entregando minha alma estraçalhada a quem ela pertence. Mas a vida nem sempre conspira a nosso favor e nada acontece.
Entro na minha sala e ainda nao se iniciou a primeira aula. Avisto Bianca sentada com um ar impaciente. Quando me sento, ela espera para que eu arrume minhas coisas na carteira para começar a tagarelar.
- Oi,Laura! - ela fala com um amplo sorriso no rosto. - Como você está? - ela me pergunta de uma maneira que ja fica claro que ela sabe de alguma coisa.
- Bem,na medida do possivel. - eu falo abrindo minha mochila e entrego o caderno para ela. - Obrigada,Bianca! Consegui copiar quase tudo. Acho que consigo terminar com o resto no intervalo.
- Que bom. Mas,Laura... - ela diz parecendo um pouco sem jeito. - Eu vi o Gabriel hoje chegando com a Juliana. Aconteceu alguma coisa? - nao falo nada por alguns segundos pensando se devo ou nao contar tudo para ela. Mas se eu quero começar uma amizade com ela eu preciso falar dessas coisas.
- Ele terminou comigo ontem. - falo e olho para longe nao querendo ver meu reflexo nos olhos dela. Sei que ela deve estar com muita pena de mim ou nao.
- Como assim?!? - ela diz se exaltando,mas se controla rapidamente. - Como assim,Laura? Ele falou pessoalmente com voce,por telefone ou e-mail? Me conte tudo!
Falo para ela dando quase todos os detalhes, tirando as partes que eu fico emocionalmente abalada e finjo ser uma criança de 10 anos brincando em uma rede. Ela fica muda e totalmente atenta, nao querendo deixar escapar nenhum detalhe do que digo.
- Oh,Laura! Eu nem sei bem o que posso dizer. Eu sinto muito. Nao so por voce,mas por ele tambem. Como ele pode ter se deixado levar pela Juliana? Todo mundo sabe que ela é uma falsa e arrogante garota mimada! Ele parece ser tao sensato.
- É o que eu penso tambem. Depois do acidente ele começou a ter crises de existencialismo. Ele pensa que eu nao posso suportar a condiçao dele. Mas isso nao é verdade. Para mim, isso é minimo perto da falta que ele me faz! - minha voz embarga e sinto que posso chorar a qualquer momento.
- Eu estou com voce,Laura. Para o que precisar, pode contar comigo! - ela fala segurando minha mao, sorrindo gentilmente. Ela me puxa para um abraço e eu nao ligo. Nessas horas,ate o mais forte tem suas recaidas. Quanto mais eu que apenas finjo ser forte.
As horas passam rápido e o sino da escola bate indicando a hora do intervalo. Bianca foi para fora com suas amigas de outra sala e eu fiquei para terminar de copiar os exercicios. A essa hora,ele deve estar la fora rindo e conversando com seus amigos. Aos beijos com ela para que toda a escola veja. Toda a escola,menos eu que nao posso me dar ao luxo de me deixar ainda mais cinza do que ja sou. Eu ainda nao sei como conseguimos chegar a essa situaçao tao rapidamente. Tudo aconteceu de uma maneira tao ligeira que ainda nao parece ser a realidade. Como se fosse apenas um pesadelo do qual me lembro de apenas alguns fragmentos.
Tento afastar meus pensamentos enquanto escrevo,mas eles sao como cobras traiçoeiras que a gente cria e terminam nos dando o bote. Quando termino a campa bate novamente e os alunos voltam para a sala. Fecho o caderno e o coloco na mesa de Bianca quando ela ja esta entrando. Ela vem correndo parecendo que precisa salvar alguem que foi condenado a forca. Ela se senta ao meu lado recuperando o folego e fala.
- O Gabriel acabou de pedir a Juliana em namoro!
As palavras me escapam e eu me sinto com um grande nó na garganta. Olho para longe e tenho um flashback de quando ele me pediu em namoro,do quanto aquele momento foi especial para mim e nao posso acreditar que agora ele fez o mesmo com ela. Sem pensar,em um impulso automatico, como se eu pudesse ter um intinto animal rerbeverando por dentro de mim, me levanto e corro em direçao a saida. Eu me sinto com raiva, uma sementinha de odio que acabou de ser plantada em meu interior. Preciso dividir isso com ele ja que ele foi o causador de toda essa dor.
Avisto Gabriel empurrando sua cadeira ao lado de Juliana em direçao a sua sala,mas antes que ele chegue la, seguro firme o braço da cadeira de rodas e o viro em direçao a mim. Ele me olha assustado, totalmente despreparado para a situaçao,mas eu nao. Me sinto destemida.
- Como voce pôde!! - eu falo sacudindo sua cadeira com tanto impeto que as ligaçoes dos meus dedos doem.
- O que,Laura? Voce esta ficando doida? Me largue! - ele fala tentando se puxar para longe,mas nao o deixo. Juliana tenta puxa-lo tambem.
- Solte-o sua cretina! Solte-o ou eu vou enfiar minhas unhas em sua garganta e fazer voce se arrepender do dia em que entrou em meu caminho! - ela o larga dando de ombros,nem um pouco intimidada.
- Laura, o que foi que aconteceu com voce? - ele fala me dando um olhar rancoroso.
- O que me aconteceu? Voce tem coragem de me perguntar? Ontem voce terminou comigo,nao teve nem coragem de falar olhando nos meus olhos e agora esta namorando com essa aí!
- Voce vai deixar ela falar desse modo comigo,Gabriel? - ela fala tentando parecer uma vitima.
- Laura, por favor se controle! Esta vendo porque eu nao quis falar com voce pessoalmente? Voce nao consegue se controlar. Esta fora de si. Voce sabe muito bem que nao ia dar certo.
- Eu sei? Como eu posso saber se voce fez questao de acabar com isso antes mesmo de começar? Eu estou entendendo tudo! Aposto que voce e ela fizeram algum tipo de aposta para me ridicularizar! So pode ser isso! Eu nunca esperei isso de voce! Nunca!
- Voce nao sabe do que esta falando! Eu era seu amigo se voce nao esta lembrada. E ainda podemos ser se voce entender a situaçao e se acalmar. Ainda podemos ser alguma coisa!
- A unica coisa que eu sentia por voce, voce acabou de matar. Se voce quer ser falso que seja,mas nao comigo. Um dia voce ainda vai perceber a burrada que esta fazendo! - me viro saindo de perto deles,mas ouço ele me chamar.
- Se voce repensar sabe onde me encontrar.
Eu nao me viro e nem respondo,mas posso ouvir o arrastar da cadrira de rodas e os passos de Juliana. Agradeço por ninguem ter presenciado essa cena. É muito lamentavel para qualquer um de nós. Como nao posso voltar a sala pois a aula ja teve inicio, sento em um banco do outro lado da sala. De repente, vejo Bianca se aproximar,parece ter se materializado do nada. Nao tinha percebido que ela estava aqui.
- Eu não tinha te visto aqui. Pensei que ninguem teria assistido ao espetaculo que eu dei. - falo me sentindo envergonhada.
- Eu estava ali atras. É, eu acabei vendo o desenrolar da situacao. Pensei que voce fosse querer conversar. Entao nao fui assisti a aula.
- Talvez voce nao saiba,mas eu nao costumo gostar muito de falar sobre a minha vida assim, se voce me compreende. - eu digo da maneira mais despreocupada que eu posso para nao parecer tao evasivo.
- Eu sei. Foi o que me disseram antes de eu vir... - ela para subitamente no meio da frase de uma maneira um tanto suspeita.
- O que? Quem te falou sobre mim,Bianca?
- N-ninguem importante! Deixe para la! Bobagem minha. - ela fala de um modo estranho,mais nervosa do que deveria. Mas deve ser so por causa da minha situacao.
- Esta bem. Voce ouviu toda a conversa?
- Consegui pescar alguma coisa. Acho que voce foi meio dura com ele.
- Meio dura com ele? Depois de tudo que ele me disse? Ainda me parece pouco o que eu falei.
- O problema nao esta so nele,Laura. Tem toda uma historia por tras disso tudo. A Juliana sim, tem muito a ver com o tal problema. - ela fala de uma maneira tao calma e convicta que sinto arrepios.
- Como voce pode saber?
- Pense um pouco,Laura! Ele mudou tao repentinamente. Voce nao acha isso estranho? - sinto uma nova rodada de arrepios e me sinto uma sensaçao esquisita com toda essa conversa. O que poderia ter mudado ele assim como ela esta sugerindo...
- Eu nao sei se eu acho estranho. So me parece que ele esteve o tempo todo a me iludir quando na verdade ele estava de coluio com a Juliana. Desde que ele sofreu o acidente e ate mesmo antes disso eles sempre estiveram muito proximos.
- Eu creio que nao seja apenas isso. Se eu fosse voce investigaria esse assunto a fundo. - quando penso em perguntar o significado de tudo isso a campa bate e ela se levanta.
- Ja vou indo. Depois nos falamos!
- Voce nao vai assistir a proxima aula? - eu falo estranhando essa subita mudança de jeito dela. Algo de muito esquisito esta acontecendo e ela nao quer me dizer.
- Nao. Tenho que resolver uma coisa. Tome aqui meu numero. - ela fala me dando um cartao com seu telefone. Parece que ele sempre esteve em sua mao e eu nao o percebi antes.
- Ah, tudo bem! - ela me da um breve sorriso e se vai.

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