sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

[Eu Cinza] Continuação do Capitulo 11

Nao vou para casa mesmo com a chuva. Eu nao quero ter que encarar Jefferson agora. Quero ficar sozinha e ter um tempo para pensar. Nunca mais tive um tempo so para mim sem estar acontecendo nenhuma coisa sobrenatural. A chuva continua forte me açoitando com seus pingos enormes e chega a doer um pouco. Gelada, tao gelada quanto a sensacao que preenche o meu coracao. Eu tento nao pensar em nada, mas a sensacao so aumenta. Um pavor, uma pressao muito grande. Sinto como se eu fosse responsavel por sustentar o peso do ceu. Esse novo mundo que me foi apresentado so me trouxe coisas ruins com ele. Tenho um pressentimento que se eu nao resolver toda essa situacao logo eu irei enlouquecer.
Esculto cada passo meu fazendo 'clac clac' ao encontrar o chao enlameado. Dou a volta no quarteirao que é basicamente um conjunto de casas iguais no meio do nada. So a o matagal em volta e um outro adiante nao muito diferente deste. Paro em frente a casa de Jefferson encarando-a. Decidindo se entro agora ou nao.  A chuva passou, mas estou completamente ensopada. Meu cabelo molhado e embaraçado. Me obrigo a subir os degraus para o terraço. Me obrigo a entrar na casa. Paro na sala, minhas roupas gotejando e molhando o chao. Bianca esta dormindo tranquilamente no sofa. Jefferson me encara sentado no outro.
- Voce nao deveria ter ficado na chuva. Pode ficar doente. - ele fala se levantando. - Venha comigo! Voce precisa se trocar. - ele fala parecendo realmente preocupado indo em direcao ao resto da casa.
Vou atras dele entrando em uma pequena sala de jantar com uma mesa redonda de quatro lugares. Vejo tambem a cozinha minuscula, o banheiro e outro quarto. Imagino que seja o dele ja que Leandro parece esta instalado no primeiro. Ele abre a porta e entramos. Esta uma zona, roupas pelo chao, em cima da cama, da cadeira em frente a mesa de estudos. A roupas penduradas em todos os lugares possiveis. A um pequeno guarda roupa tambem, mas imagino que tenha poucas roupas dentro dada a bagunça que esta do lado se fora.
- Parece que voce nao gosta muito de lavar suas roupas. - eu falo enquanto ele recolhe algumas bermudas e camisas do chao.
- Muita coisa para fazer. Acabo nao tendo tempo. - ele diz fazendo um monte com as roupas no meio do quarto. Ele vai em direcao ao guarda roupa e volta com uma toalha e mudas de roupas as entregando para mim.
- De onde voce as tirou? - eu falo as recebendo.
- Leandro arrumou para voce. Nao tenha medo. Estao limpas. - ele fala forçando um sorriso. - Voce pode se trocar aqui. Vou levar essa roupa para lavar. - ele fala pegando as roupas, fechando a porta ao sair.
Olho para as peças que ele me deu. Uma camiseta amarela, short jeans e peças intimas. A toalha é branca e tem um cheiro bom de amaciante como se tivesse sido recem lavada. Me troco e junto as roupas molhadas para levar para lavar. Antes de sair nao consigo deixar de sentir uma vontade de bisbilhotar as coisas dele. Olhando melhor agora vejo alguns cartazes de bandas de rock que nao conheço em uma das paredes. Me forço a andar em direçao a porta antes que ele volte e me pegue "admirando" suas coisas.
Ao sair do quarto ouço um barulho leve de uma maquina de lavar vindo da cozinha. Assim que chego la, vejo Jefferson clicando em uns botoes da maquina e enfiando as roupas la dentro. Ele esta sem camisa usando apenas um calçao estilo surfista. Ele ainda nao me viu por esta de costa para mim. Meus olhos estao fixos em seus musculos aparentes, os braços definidos, ombros largos. De repente ele se vira e quando me ve ali parada olhando para ele da um leve sorriso.
- Deixe suas roupas aqui. - ele fala apontando para um espaço ao lado da maquina. - Quando eu terminar com as minhas posso lava-las. - ele me olha e coro ao imaginar ele pegando em minhas peças intimas.
- Pode deixar que eu mesma lavo. So me explique como ela funciona. - faço um gesto com a cabeça em direcao a maquina.
- Hum. Claro. - ele fala se voltando para ela. - Voce nao ficou chateada com o que eu te disse a pouco, ficou? Eu acho que fui um pouco apressado com toda aquela conversa.
- É, voce foi, mas nao estou chateada com voce. - falo olhando para as roupas em minhas maos. - Voce tem me ajudado muito e teremos que trabalhar juntos... Entao eu nao tenho por que me chatear. Voce so expos sua opiniao.
- Fico mais aliviado ao ouvir isso! - ele fala apertando um botao na maquina e ela desliga. - Venha aqui para eu te explicar como ela funciona. - ele fala e eu me ponho ao seu lado. - Basta voce clicar aqui para escolher o modo de lavagem e depois aqui para iniciar. Entendeu? - ele fala me olhando fixamente e me sinto hipnotizada. Seu corpo tao perto do meu. Ele cheira a sabao.
- Entendi. - falo meio desconcertada. Ele abre a maquina e retira suas roupas para que eu coloque as minhas.
- Vou estende-las no varal. Qualquer coisa pode me chamar. - ele fala abrindo a porta da cozinha e saindo.
Coloco as roupas dentro da maquina e faço como ele falou. O som que escapa dela começando a encher o ar. Eu nao sei como ele consegue mecher dessa forma comigo. Uma hora me deixa irritada ao ponto de explodir de raiva. Em outros momentos, me enche com um desejo a flor da pele. Me sinto muito confusa ao seu lado. Eu ainda gosto de Gabriel,mas desde que conheci Jefferson nao sei se o amor que  sinto ainda é o mesmo. Talvez seja so por conta da separacao ou talvez nao. Pode ser tambem por que Jefferson divide do mesmo segredo que eu e por isso eu sinta uma ligacao com ele. Eu precisarei de tempo para colocar meus sentimentos em ordem.
Eu desligo a maquina e vou para o "quintal". Nao é bem um quintal ja que nao existe separacao, so um espaço aberto de poucos metros separa uma casa da outra. A poucos metros, em um varal improvisado, Jefferson estende a ultima peça em suas maos. Começo a colocar as minhas no espaço que sobrou. Ele me olha com se estivesse procurando me entender. Repentinamente, ouço a voz de Leandro nos chamando dentro da casa. Termino de pendurar a roupa e sigo Jefferson para dentro. Quando chegamos na sala, Leandro e Bianca estao sentados lado a lado, cada um com uma pequena caixa de madeira nas maos.
- Sentem-se. - Leandro fala para nos. Me sento ao lado de Jefferson no sofa menor, o espaço apertado de mais para nos dois. - Bom, por causa dos ultimos acontecimentos, eu e Bianca decidimos que era hora de entregar um instrumento novo para voces. - ele fala nos encarando enquanto abre a fechadura da caixa em suas maos. - Venha ca,Jefferson.
Jefferson se levanta e fica parado na frente de Leandro aguardando. Leandro retira da caixa o que eu acho ser uma pulseira de couro branca. Ele a ergue na direçao de Jefferson que a pega e olha para ela a analisando.
- Isto é uma Twin. Uma pulseira localizadora. - ele fala naturalmente. - Como o nome ja diz, ela serve para que um acompanhante possa localizar o outro. Essa pedra verde no meio muda de cor e intensidade dependendo da distancia que voce esteja do seu acompanhante. Verde para perto, amarelo para longe e branco para caso algum de nos tenha morrido. - ele pega a Twin das maos de Jefferson e a vira. - Aqui voce pode ver seu nome escrito nela. Ela so funciona para voce me localizar. Caso outra pessoa a usasse, a pedra ficaria transparente e sem uso.
- Temos que usa-la sempre agora? - é a unica coisa que Jefferson fala enquanto abotoa a pulseira em seu braço.
- Sim. Daqui por diante temos que ser cautelosos. - ele fala lacrando a caixa.
- Venha,Laura! Pegue a sua! - Bianca fala abrindo a sua caixa e eu me levanto. Paro em sua frente e ela me entrega a minha Twin. O couro é gelado e quando a viro vejo meu nome escrito em dourado. Antes de Bianca fechar a caixa vejo de relance um pequeno livro branco parecido com uma agenda.
- O que é isso dentro da caixa,Bianca? - pergunto enquanto ela a  lacra.
- Ainda nao é hora de voce saber. - ela diz e me sinto intrigada,mas resolvo nao perguntar.
Aboto-o a Twin no meu braço e fico olhando para a pequena pedra redonda encrustada no meio dela. Tem um tom verde como uma pedra de jade.
- Voces nao deveriam ter uma tambem? - eu questiono.
- Eu tenho este colar. - Bianca fala retirando de dentro da sua blusa um colar prateado com um pigente redondo em verde. - Ele é uma versao da sua Twin.
- Eu tenho uma pulseira como a de voces, mas nao estou com ela no momento. - Leandro fala. - Eu gostaria de falar a sós com Bianca. Voces nao se importariam de ir la para fora? - ele diz com um meio sorriso e eu e Jefferson saimos para o terraço. Posso ouvir as vozes agitadas deles la dentro, mas nao consigo destinguir nenhuma palavra. Jefferson fala me tirando do meu torpor.
- Voce viu o mesmo livro que eu na sua caixa? - ele me pergunta.
- Creio que sim. Voce sabe o que é?
- Leandro uma vez me falou dele quando eu o questionei sobre o conteudo da caixa. Eu vi ele mechendo nela um dia e fiquei curioso. Ele o chamou de Book Rule. Ele é dado pelo nosso acompanhante quando enfrentamos e ganhamos nossa primeira batalha. - ele fala satisfeito. - Eu nao vejo a hora de poder tê-lo!
- E o que tem nele? - pergunto.
- Eu nao sei. Isso ele nao me disse. - ele fala meio emburrado.
- Eu sinto que as coisas estao ficando realmente serias agora. Nao que sempre nao estiveram assim, mas receber esses instrumentos faz a coisa toda parecer ainda mais assustadora. - falo entristecendo a medida que ouço minhas palavras.
- Nao se preocupe,Laura. Voce tem a mim, a Leandro e a Bianca. Estamos juntos nessa! - ele fala acariciando minhas costas e me dando um leve sorriso.
De repente, sinto uma necessidade de esta mais perto dele e o abraço. Ele me envolve com um aperto forte em seus braços e encosto minha cabeça em seu peito. Inspiro e sinto cheiro de sabao. Um sentimento de segurança me preenche e me sinto confortavel. Ele apoia a cabeça na minha e passa uma de suas maos em meus cabelos.
- Eu nunca te deixarei sozinha,Laura. - ele fala serio. - Nunca.
Fecho os meus olhos e tento afastar os pensamentos. Deixando Gabriel, Juliana e todo o mal fora da minha mente. Tentando apenas relaxar e aproveitar esse pequeno momento. Agora eu sinto a duvida diminuir em meu peito. Talvez eu esteja deixando para tras mais do que eu gostaria. Nao so deixando a velha Laura para tras, mas tambem deixando de amar.

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