segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

[Eu Cinza] Final do Capitulo 10

Paramos em uma praça em um local desconhecido para mim. Nunca andei para este lado do bairro e se estivesse sozinha nao saberia me localizar. Contei 15 quarteiroes ate chegarmos aqui. Desmonto das costas de Bianca e nao consigo nao admirar a beleza do tigre em quem ela se transformou. Quando eu poderia imaginar que eu fugiria de demonios na garupa de um tigre? Nunca poderia. Ela volta a ser ela mesmo de novo e esta com um semblante triste e cansado. Me aproximo dela.
- Eu sinto que deveriamos voltar. Para tentar ajuda-los. - eu falo.
- Eu nao poderia. Mal consegui chegar ate aqui com voce. Se um Damn aparecesse aqui agora estariamos perdidas. - ela fala se sentando em um banco. Sento ao lado dela.
- Voce acha que eles conseguiram escapar? - pergunto encarando o chao.
- Eu espero que sim. - ela fala sua voz quase sumindo.
- Nem deu tempo de o Leandro copiar o arquivo. Com certeza tem haver com Gabriel. Aquele G so pode derivar do nome dele.
- E ele continha bastante coisa. - ela fala parecendo distraida.
- O que foi,Bianca? Voce esta com uma expressao muito pensativa. Fale.
- Eu me sinto frustada! Nao so por ter fugido e deixado eles pra tras, mas por nao termos encontrado nenhuma pista da sua mae. Eu ainda nao consigo entender por que nao conseguimos senti-la. Aquela quantidade de Damns so pode significar que ela esta la. - ela fala com a culpa acentuada em sua voz.
- Nao foi culpa sua! Nao é culpa de nenhum de nos! Juliana ainda vai pagar por todo esse tormento que ela esta nos causando. - eu falo determinada. - Eu acho que ela nao esta la. Se voce e Leandro nao sentiram mais ninguem na casa é por que ela deve esta em outro local. Talvez os Damns so estejam vigiando aquelas informaçoes.
- Pode ser. - ela fala parecendo nao da muito credito ao que eu falei. - Temos que ir para casa.
- E se eles forem ate la? E se eles estiverem la esperando por nos? Voce nao aplicou o selo na casa. - falo com o medo transparecendo em minha voz.
- Eu havia aplicado um Shawl enquanto voce dormia. Imaginei que sairiamos as pressas. - ela diz.
- Shawl? - falo sem entender.
- Desculpe. As vezes, me esqueço que voce nao entende nossa linguagem. Shawl é um tipo de saddle. Um selamento secundario de protecao. É mais fraco que o selamento tradicional, mas vai manter os Damns afastados de la.
- E se eles estiverem esperando por nos do lado de fora?
- Nos teremos que voltar para la de qualquer forma. Mas nao iremos agora. Estou muito cansada para poder me transformar e te carregar ate la.
- Nos vamos dormir aqui na praça? Nos estariamos indefesas.
- É o jeito,Laura. Nao posso me transformar agora. Vamos para o interior da praça e procuramos um banco para nos deitar. Eu posso criar uma redoma ao nosso redor. Nao sera forte o bastante contra um Damn, mas sera o suficiente contra um humano. Caso algum tenha segundas intençoes. - ela fala sem transparecer nenhuma emoçao.
Ela levanta e vamos em direco ao meio da praça. Ela é grande e bastante arborizada. Tem alguns bancos, mas nenhum proximo ao outro. Ou ficaremos sentadas ou uma de nos ira dormir no chao. Apesar de eu achar que nao conseguirei pegar no sono essa noite. Nao sem saber se Jefferson e Leandro estao bem.
Bianca me indica um banco que fica atras de uma touceira de bambu. Fica imperceptivel para quem entra pela rua principal que da acesso a praça.
- Voce pode deitar. Aproveite para tentar dormir que amanha nao sabemo se teremos que ir atras deles. - ela fala e me sento no banco.
- Mas, e voce? Vai dormir onde?
- Eu posso dormir no chao. - ela fala sem nenhum momento deixar sua expressao seria de lado.
- Como eu vou dormir vendo voce deitada nesse chao sujo e com frio? - falo preocupada.
- Eu nao sinto frio. Mas voce esta certa sobre o chao esta sujo. - ela fala com um pouco de nojo. - Posso dar um jeito nisso. Voce deve esta com frio tambem. - ela fala indo para tras dos bambus. Quando ela da a volta, vejo duas mantas beges em suas maos. - Tome essa. - ela diz me entregando uma das mantas.
- Eu ainda nao me acostumei com essas coisas! - digo me deitando e me embrulhando. Bianca faz um gesto com a mao como se estivessr abanando o chao e a terra afasta do lugar. Olho ela estender a manta no chao e sentar sobre ela. Ela abaixa um pouco a cabeça murmurando algumas palavras e uma dobra de ar é projetada dela. Uma redoma para nos separar do mundo exterior. Ela se deita de lado em direcao a mim.
- Voce nao ira a escola por enquanto. - ela diz normalmente.
- Todos vao estranhar. Eu ainda nao sei como nenhum vizinho nao foi bater la em casa procurando por mamae e nem como ninguem do trabalho dela ligou la para casa. - falo so agora me dando conta dessas coisas.
- Eu liguei para o trabalho dela e informei que ela estava tendo uns problemas pessoais, mas que assim que resolvesse iria entrar em contato. Eles entenderam bem a situaçao. - ouço suas palavras e sei que teve um pouco de manipulacao no meio dessa historia. - Sobre os vizinhos, eu tive uma conversa com uma senhora que mora na sua rua que me parece ser a sua vizinha mais fofoqueira. Imagino que ela deve ter espalhado que sua mae esta viajando para cuidar de um parente doente. - ela diz com um sorriso nos labios.
- Voce pensa em tudo,Bianca. Mas  e a escola? O que voce vai inventar para livrar nossa cara? Voce tambem estuda la.
- Eu ja pensei em tudo. Nao se preocupe.
- As vezes, voce me assusta com todas essas suas ideias. - ela rola os olhos para mim e ri.
- Tente descansar,Laura. Sera melhor para nos duas. Quanto melhor voce estiver, melhor eu estarei tambem. - ela fala fechando os olhos. Uma das poucas coisas que ela conserva de um humano é o sono.
Deito de barriga para cima olhando para a copa das arvores. Gostaria de poder ver as estrelas para me destrair, mas é impossivel em meio a folhagem. Sei que nao vou conseguir dormir. Me sinto deslocada aqui no meio da praça a noite como uma sem teto. Fecho os meus olhos na esperança de o sono chegar, mas apenas imgens passam por minha mente como fanstasmas. Leandro lutando, o rosto de minha mae e o que me doi mais, a lembrança de quando Gabriel me pediu em namoro. Tenho vontade de chorar, mas me contenho por que nao quero acordar Bianca. Ela precisa descansar mais do que eu. Se eu nao a tivesse comigo eu nao sei o que eu ja poderia ter feito. Ela é tao boa como minha guardiã e eu nao lembro de ter dito isso a ela. Prometo para mim mesma que falarei em breve enquanto me sinto puxada para o nada pacifico do sono sem sonhos.
Sinto uma cutucada no meu braço e quando abro meus olhos vejo o rosto de Jefferson proximo ao meu. Mais perto do que geralmente eu deixaria ele chegar, mas hoje eu nao me importo. Me lanço em seus braços lhe dando um abraço o assustando, mas ele me abraça de volta me colocando de pé.
- Eu pensei que teriamos que ir atras de voces. Que talvez eu nunca te visse novamente. - eu falo tristemente. Bianca esta acordada conversando com Leandro a alguns metros de nos. - Como voces escaparam?
- Nao foi facil, mas Leandro conseguiu. Eles nao nos seguiram o que eu achei estranho, o que é uma grande sorte! - ele diz parecendo cansado.
- Como voces nos acharam aqui? - falo perplexa.
- Leandro sentiu o rastro de Bianca. Coisas de anjos. - ele toca de leve em meu rosto e me vejo inclinando para a direçao de sua mao e me afasto.
- Leandro conseguiu alguma parte dos arquivos?
- Nao sabemos ainda. Saimos de la e viemos direto para ca. Nos descansamos em uns bancos proximos daqui. Nao quisemos acordar voces. - ele diz. - Eu estou muito feliz de saber que voce esta bem. - ele fala me olhando fixamente e me sinto corar.
- Eu tambem estou contente de voce ter escapado. - eu falo me sentindo aliviada.
- Acho que temos que ser cautelosos agora que eles sabem que estamos atras deles. Possivelmente sabem que tentamos pegar alguns daqueles arquivos. - ele fala coçando a cabeça. - Voces vao la para casa hoje. Nao acho seguro voces irem para sua casa. Eles sabem que voces sao mais fracas e tambem eles nao sabem onde eu moro.
- Fracas? Obrigada pela parte que me toca! - falo emburrada.
- Voce viu o que aconteceu ontem. O Damn conseguiu quebrar a harmonia de voces duas muito facilmente. Melhor precaver do que remediar! - ele fala serio e Bianca e Leandro se aproximam de nos.
- Ora de irmos! - Leandro fala. - Estamos dando muito na vista aqui.
- Como vamos fazer para ir para sua casa? Ir para qualquer ponto de onibus aqui perto poderia ser arriscado. E nao tenho nenhum dinheiro comigo.
- Eu tambem nao trouxe. Nao havia pensado que o plano daria errado. E uma das poucas coisas que anjos nao podem fazer aparecer é dinheiro. - ele diz pensativo. - Bianca, voce acha que consegue aplicar uma manobra Pass individual? - ela parece analisar a ideia antes de responder.
- Acho que consigo. Se sua casa nao ficar muito longe daqui. Ainda estou fraca com tantas transformaçoes que tive que fazer ontem. Fora a redoma que mantive durante toda a noite.
- Certo. Nos estaremos de olho em voces para qualquer eventualidade. Leandro nao esta tao esgotado e vai conseguir manter o Pass em mim sem problema.
Leandro se aproxima de Jefferson e toca atras do pescoço dele. O ar ao redor deles começa a girar como se eles estivessem no meio de um redemoinho. O vento se desloca cada vez mais perto de Jefferson ate ser sugado pelo corpo dele por completo. Bianca se aproxima de mim e faz comigo o mesmo que nos acabamos de presenciar. Quando ela toca dois de seus dedos em meu pescoço sinto uma eletricidade percorrer meu corpo desde o ponto em que ela toca ate a ponta dos meus pes como um calafrio. Um redomoinho se forma ao nosso redor espalhando poeira. Ele se aproxima de nos e fecho meus olhos para que nao entre terra e sinto como se uma camada invisivel aderisse a minha pele e tudo volta ao normal.
- Pronto agora voces ja podem se tranaformar no que quiserem. Isso so dura o bastante para uma tranaformaçao com tempo estimado de duas horas. Mas voces podem voltar ao normal quando quiserem durante esse tempo.  Basta visualizar mentalmente o que querem ser e serao. - Leandro fala parecendo um daqueles professores chatos da escola com toda aquela linguagem deles.
Bianca se abaixa ao meu lado virando o que eu acho ser o seu animal preferido, uma coruja branca. Em frente a nos, Leandro se dobra virando uma coruja tambem. Jefferson se transforma em uma especie de gaviao, mas na tonalidade tradicional. Penso por um instante em qual ave quero ser. Visualizo uma pequena andorinha enquanto me agacho e meu corpo se dobra.
É dificil descrever a sensacao de se esta em outra forma. A unica coisa que se destaca dentro de mim é a ansiedade por liberdade. Leandro levanta voo, seguido por Jefferson e Bianca. Eu estico minhas asas ainda nao acostumada com meu pequeno corpo e sem jeito tento me colocar em voo. Quando ja estou perdendo eles de vista consigo sair do chao. Depois que me habituo consigo chegar a uma velocidade boa. Meu corpo de passaro é leve e tudo nele facilita o voo. A dinamica das asas e calda, a leveza, o bater das asas. Logo estou do lado de Bianca e nos cinco somos o bando mais estranho que se poderia ver cruzar o ceu.
Tento nao me afastar muito deles que voam lado a lado, mas dentro de mim um instinto selvagem grita para que eu va alem. Subo tao alto, ate onde meus pulmoes ainda podem encontrar ar. Vejo-os a alguns metros abaixo. Desço no ar com as asas bem esticadas em um rasante fenomenal. Passo por eles mergulhando em uma velocidade absurda e quando estou para tocar o solo inclino meu corpo para cima voltando para o alto. Meu coraçao martela dentro de mim cheio de adrenalina os outros me olham
espantados quando volto para o lado de Bianca. É facil decifrar a expressao de um passaro quando se é um e parece que eles estao ralhando comigo mentalmente.
Leandro e Jefferson começam a descer quando chegamos a um quarteirao de casas iguais. Daqueles residenciais cedidos pelo governo para pessoas de baixa renda. Poucas tem muros separando elas umas das outras. Pairamos baixo no ar e ainda nao a ninguem a vista. Todas as casas estao trancadas por ser muito cedo. Estimo que seja por volta das cinco da manha. Vamos em direcao a esquina do quarteirao que tem uma rua de terra separando as casas de uma imenso matagal. Nao sei como eles vieram parar aqui nesse fim de mundo. A parte mais pobre do bairro. A casa deles é diferente das outras. Enquanto todas sao brancas com duas listras em verde e amarelo a deles é totalmente branca. Advinho ser coisa de Leandro. Pousamos no pequeno terraço coberto na frente da casa todos voltando ao normal em uma dobra no ar antes de tocarem o chao. Eu por ser a mais inesperiente demoro um pouco para visualizar meu corpo e voltar ao normal. Leandro destranca a casa e entramos em uma pequena sala que possui uma porta de acesso ao que eu presumo ser um quarto do lado esquerdo. Em um dos cantos a uma porta livre que da acesso a outro ambiente.
- Hora de vermos o que conseguimos pegar. - Leandro fala segurando o pendrive entre os dedos. - Sentem-se. - ele diz para nos que estamos todos em pe no meio da sala sem saber bem o que fazer. A dois sofas na sala, um de tres e outro de dois lugares. Sento com Bianca em um e Jefferson no outro.
Leandro entra no quarto e volta com um netbook em maos. Ele se senta ao lado de Jefferson e eu e  Bianca nos levantamos. Ela deixa que eu me sente ao lado de Leandro que fica entre mim e Jefferson. Ele demora alguns segundos para ligar o aparelho e conecta o pendrive. A uma pasta com o mesmo nome da que vimos no computador de Juliana. Ele clica sobre ela e aparece um aviso dizendo que o arquivo esta corrompido. Ele clica mais duas vezes sobre a pasta e ela abre revelando um mapa da casa de Juliana. Nele estao marcados varios quadrados com um X neles em pontos da area externa. A tbm um segundo mapa sobre o primeiro em azul. Um comodo subterraneo eu imagino. Sinto tremores percorrerem meu corpo repentinamente. Deve ser ai onde minha mae esta.

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