quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

[Eu Cinza] Final do Capitulo 11

Acordo com a claridade ja forte no quarto. Espantada por ainda esta nos braços de Jefferson. Ergo levemente minha cabeça para ver o seu rosto. Ele esta tranquilo, com um ar sereno. Um de seus braços ainda ao meu redor. Repouso novamente minha cabeça em seu peito me sentindo aliviada e protegida. Muitas vezes eu imaginei como seria ter alguem para afugentar meus pesadelos a noite. Como seria acordar nos braços de alguem que me amasse. Eu so nao imaginei que essa pessoa nao seria Gabriel. Mesmo no tempo em que eramos apenas amigos, eu sabia que havia algo a mais ali. So tinha medo de admitir.
Nesse momento, nos braços de Jefferson, a lembrança de ter me sentido assim em relaçao a Gabriel fica cada vez mais distante. O amor ainda esta la, mas adormecido. Sinto que so seguirei em frente plenamente quando tiver uma conversa definitiva com ele. Quando eu lhe contar toda a verdade, se é que ele ja nao a conhece. Ainda assim, ele deve ouvir a  minha versao. Eu tenho uma divida com ele que eu nao consigo explicar de onde veio. Nossos destinos foram traçados para se cruzarem. Para o bem ou para o mal, eu ainda nao sei dizer.
Embaixo de mim, sinto Jefferson se mexer acordando. Ele esfrega os olhos por um momento, me olhando como se eu fosse uma miragem. Parece nao acreditar que eu esteja mesmo aqui.
- Se voce quiser, eu posso te beliscar. - eu falo rindo para ele.
- Parece um sonho voce esta aqui. - ele diz sorrindo enquanto passa a mao em meus cabelos. - Faz algum tempo que esperei por isso.
- Quem ouvi voce falando assim pensa que aconteceu alguma coisa. - eu digo brincando.
- Ainda assim, foi mais do que eu pensei que voce cederia. - ele fala acariciando meu rosto.
- Tem uma coisa que eu ainda nao entendo. Porque voce vive falando que gosta de mim a muito tempo se nos conhecemos a poucas semanas? E voce parece saber muito sobre mim.
- Bom,na verdade, eu te conheci um pouco antes daquele dia que o Errant atacou voce e Bianca na sua casa. Leandro sentiu quando Bianca foi enviada para cá e como eles eram amigos acabamos indo procurar por ela. Nos estivemos na sua casa sem voces perceberem. Logo que eu te vi senti algo crescer em mim e nao pude mais deixar de ir la. Eu sempre inventava uma desculpa para o Leandro me levar ate la.
- Por isso, voce apareceu tao de repente naquele dia! - eu me afasto um pouco dele me sentindo invadida. - Voce esteve esse tempo todo me espionando?
- Eu sei que pode parecer estranho, mas foi por que eu gosto de voce,Laura! Mesmo sabendo do seu namorado, eu nao conseguia me segurar. Eu precisava te ver de alguma maneira. - ele fala se sentando para ficar de frente para mim. - Me desculpe. Eu sei que eu deveria ter falado logo com voce, mas eu nao sabia como. Entao, surgiu aquela oportunidade e eu fui te ajudar.
- Eu nao quero brigar com voce. Mas, me prometa que nunca mais ira me vigiar dessa maneira. Nem se um dia eu nao estiver mais ao seu alcance. - eu falo seria.
- Eu prometo. - ele diz sua voz quase inaldivel. - Eu nao sei por que voce se aborrece com isso.
- Eu nao gosto de ter minha privacidade aberta. - eu falo me sentindo chateada. Me levanto e ele segue cada passo meu com seus olhos.
- Eu preciso das minhas roupas. Sera que nao podemos ir pega-las na minha casa? - falo.
- Voce sabe que se Leandro e Bianca ficarem sabendo vai ter discussao. Porque nao pede algumas para Bianca?
- Eu quero as minhas roupas. E alem do mais, eu preciso checar a minha casa. Eu nao posso ficar aqui sem saber o que esta acontecendo la.
- E se os Damns estiverem la? Sem nossos anjos nunca poderiamos dar conta deles.
- Se voce quiser fique. Eu irei.
- Eu nunca deixaria voce ir sozinha. Vamos tomar cafe e depois iremos. Os dois ja devem ter saido atras de Marcelo.
Saio para a sala e me deparo com um cafe da manha posto a mesa. Me aproximo e vejo um cartao branco. Nele esta escrito:
" Estaremos de volta no fim da tarde. Nao façam nenhuma besteira. Principalmente, a Laura. Se cuidem.
Bianca."
Jefferson para atras de mim me envolvendo pela cintura.
- Nossas babás deixaram isto. - falo entregando o bilhete para ele que me solta.
- Ela esta certa. Voce tem uma atraçao pelo perigo! - ele fala rindo e se senta a mesa. - Temos um dia inteiro para nos! - ele fala empolgado.
- Como se eu pudesse sentir alguma felicidade com toda essa situaçao. - ele me lança um olhar triste.
- As vezes, voce fala como se eu nao fosse nada.
- Nao foi isso que eu quis dizer. - falo pegando em sua mao. - Essa situaçao toda tem me deixado aflita o tempo todo. Voce faz parte da minha vida agora!
- Que bom. - ele fala parecendo magoado.
Tomamos o resto do nosso cafe da manha em silencio. Eu me sinto um pouco triste por magoa-lo mesmo que nao tenha sido por querer. Ele parece ser mais sensivel do que eu esperava. Talvez por tudo que ele passou em sua infancia. Pego na mao dele e ele vira seu rosto para me encarar. Seus olhos castanhos parecem me analisar.
- Eu nao quero magoa-lo. Tente me entender, por favor. - eu falo com uma voz suave.
- Eu entendo. Me desculpe. - ele olha para seu prato tristemente. - É so que é... - ele suspira antes de continuar. - É tao dificil gostar de alguem tanto quanto eu gosto de voce e as vezes parecer que isso nao é correspondido. Eu nao sei lidar bem com essas coisas.
- Eu te entendo. Eu so nao posso te dar uma resposta concreta ainda. Eu preciso me desligar del... - eu paro quando vejo o que estava prestes a dizer.
- Eu sei. - ele fala ainda olhando para o seu prato. - É melhor irmos logo. - ele fala encerrando o assunto. Ele tira algo do seu bolso e me entrega. Um moat. - Para precaver.
O sigo em direçao ao terraço e no caminho ele pega os capacetes da moto e me entrega um. Sento na moto atras dele e ele a acelera nos colocando em movimento. É um longo caminho ate em casa mesmo indo a uma velocidade consideravel. O envolvo firme pela cintura e encosto minha cabeça em suas costas. Olho para a Twin no meu braço. Ela esta em uma coloraçao amarela tao forte que quase ofusca. Isso quer dizer que Bianca esta bem longe. Eu espero com todas as minhas forças que eles o encontrem. Ele pode ser o nosso ultimo recurso. Talvez ele saiba onde esta a minha ultima esperança.
Estamos indo tao velozes que a paisagem ao meu redor é apenas um borrao. Consigo destinguir algumas casas. Nao estamos longe. Verifico se nao esqueci a chave, mas ela esta no bolso do meu short como sempre. Repentinamente, paramos e me dou conta que ja chegamos. Talvez nao demorasse tanto quanto eu pensei afinal. Salto da moto e encaro a fachada da minha casa. Ela agora parece mais escura, mais gelada. Jefferson cutuca meu braço para que eu me mexa e abra a porta. Vou em direcao ao portao e o destranco. Quando entro no terraço sinto um calafrio descer pela minha espinha. Ate aqui nada parece fora do lugar. A porta da sala ainda esta aberta assim como foi deixada. Caminho em direcao a ela com Jefferson logo atras de mim. Assim que coloco meus olhos no interior da sala meu coraçao acelera. Esta tudo revirado. A mesa de centro esta jogada de lado com o vidro quebrado, os sofas estao uma bagunça e tudo na estante esta fora do lugar. Em um dos cantos proximos a estante o vaso preferido da minha mae esta em pedaços. Percebo que estou com as duas maos na minha boca e as deixo cair ao meu lado.
- Por Deus! - Jefferson fala ao meu lado. - Vamos ver o restante da casa!
- Sera que eles ainda estao aqui? - pergunto com medo.
- Provavelmente,nao. Vamos ver! - ele diz me puxando com uma das maos parecendo ter uma subita descarga de coragem.
A sala de jantar esta intacta, mas quando entramos no meu quarto ele esta uma zona. As gavetas do guarda roupa foram retiradas e lançadas, as roupas estao por toda parte, os lençois da minha cama remexidos, tambem tem papeis por todos os lados e minha escrivaninha esta bagunçada. Paro poucos passos depois de entrar no quarto totalmente chocada. Eu nao pensei que eles entrariam realmente aqui, nao depois de Bianca ter dito que aplicou um selamento na casa, mesmo sendo um basico. Jefferson olha por cima do meu ombro e seu rosto endurece.
- Eles estao mesmo no nosso encalço. Devem ter vindo atras de pistas de onde estamos. - ele fala.
- Me ajude a pegar algumas dessas roupas para irmos embora. - eu digo tentando nao pensar em nada por que a raiva ja faz o seu caminho pelo meu interior.
- Claro. Voce tem uma mochila para coloca-las dentro? - ele fala se gachando ao meu lado.
- No guarda roupa. Terceira porta.
Recolhemos o maximo de peças possiveis e colocamos na minha mochila. Saio relutante sem poder deixar de encarar toda aquela cena. Resolvo nao ir ate o quarto de mamae. Ver suas coisas reviradas so iria me fazer sentir pior. Jefferson me da o minimo dr espaço possivel para que eu me mexa com medo de que eles voltem. Ele carrega a minha mochila que esta pesada demais para mim. Antes de irmos dou uma ultima olhada para a minha casa imaginando quando tudo isso tera fim e eu poderei voltar a ter uma vida normal. Desconfio que talvez depois de dar um passo para dentro desse mundo nao se possa mais voltar atras, tampouco ter uma vida considerada normal novamente. Suspiro pesadamente enquanto o vento bagunça meus cabelos.

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