sábado, 18 de janeiro de 2014

[Eu Cinza] Continuação do Capitulo 10

Bianca entra no quarto e dobro a folha em que estava escrevendo o poema. Nao quero que ela saiba o que estou sentindo, por enquanto todos precisam me ver como forte. Eu tenho que tentar ser por que a mais do que eu gostaria em jogo. Ela para do meu lado e fala:
- Temos que conversar sobre mais tarde. - ela fala seria analisando minha reaçao.
- Claro. Sobre o que voce quer falar?
- Eu nao sei o que Jefferson e o Leandro estao planejando, entao teremos que esperar que eles cheguem. Mas eu estou preocupada com voce.
- Comigo? Com o que? - falo tenatando nao transparecer meu medo.
- Com o que voce pode ver la. Quem sabe podemos encontrar sua mae hoje e bem... ela pode nao esta em boas condiçoes. Mas voce deve ser forte para poder ajuda-la. Tem que esta equilibrada para nao fazer uma besteira e arriscar tudo.
- Eu estarei preparada. Nao se preocupe. Eu gostaria que Jefferson viesse mais cedo. Me sinto aflita tendo que esperar tanto. - falo e solto um suspiro de cansaço.
- Porque voce nao tenta dormir? Tem que esta descansada. Nao se martirize pensando muito nisso. Pode nao da em nada. - ela fala passando a mao de leve em minhas costas em um gesto de amizade e sai.
Tento seguir o que ela me disse e deito na cama procurando relaxar. Inspiro e expiro levemente como se estivesse contando carneirinhos ate que me sinto sonolenta e minha mente se apaga. Nao tenho sonhos e quando acordo ja é noite. O quarto esta escuro e a unica luminosidade no quarto vem da sala. Me levanto me espreguiçando e procuro meu celular para ver as horas. O pego de debaixo do meu travesseiro e ja sao 19:00 hrs. Falta uma hora para eles chegarem. Sigo para a sala de jantar e Bianca esta sentada a mesa e sorri para mim. Um jantar esta posto e o cheiro que sinto parece ser bom e minha barriga reclama em protesto.
- Eu ja ia te acordar! Deixei voce dormir mais um pouco. Parecia tao cansada. - ela fala gentilmente.
- Eu vou tomar um banho e me arrumar. Volto ja.
- Ei, vista roupas pretas. Eu nao gosto de coisas pretas como ja deu para perceber, mas hoje a ocasiao pede.
- Porque roupas pretas? - eu indago.
- Desfarce, claro! Va logo que o tempo esta passando e a comida esfriando! - ela ralha comigo.
Tomo banho o mais rapido que posso e em seguida vasculho meu guarda roupa em busca de peças pretas. Pego a blusa preta com caveira do dia que fui visitar Gabriel no hospital e uma calça jeans preta. Me olho no espelho me sentindo totalmente gotica. Nunca tinha feito tal combinaçao antes. Decido fazer um rabo de cavalo por ser mais pratico e volto para a sala para jantar com Bianca.
- Hum! Boa escolha! - ela fala olhando para mim de cima a baixo.
- E voce? Nao vai vestir roupas pretas tambem? - falo estranhando ela esta com roupaa claras.
- Eu nao uso preto! Por favor, nao posso. Estou boa do jeito que estou. - ela da de ombros. Olho para a mesa so agora me deixando apreciar a comida. Tem lasanha, arroz e salada. Uma comida rapida e leve.
- Eu gostaria de ter essa facilidade para sempre! - falo degustando um pedaço de lasanha a bolonhesa que esta com um sabor maravilhoso.
- Pois nao se acostume muito! Isso é so enquanto eu estiver por aqui.Por enquanto que sua mae nao volta.
- Bianca, voce sabe por quanto tempo ficara comigo?
- Isso nao é falado para nos. Nunca se sabe o dia de amanha. Nao se preocupe com isso. Tenho certeza que ficarei por muito tempo. Pelo menos, pelo tempo que voce precisar de mim. - ela fala me dando um sorriso e se volta para o seu prato.
Continuamos a comer sem conversar, mas nao me sinto estranha com isso. O silencio, as vezes pode ser acolhedor. Assim que acabamos me viro para que ela faça as sobras desaparecerem. Nunca perguntei o por que de eu nao poder ver, mas sinto que algo obvio e nao pergunto. Repentinamente, sinto um ar frio atras do meu pescoço e me viro. Jefferson e Leandro se materializaram na sala. Eles se sentam nas cadeiras que estavam sobrando e reparo que Jefferson esta completamente de preto como eu. Pelo jeito, ele teve a mesma conversa que eu tive com Bianca com Leandro. Ele me olha e da um largo sorriso. Completamente feliz em me ver. Terei que me acostumar com isso.
- Vejo que voce tambem esta de preto,Laura. Ate que a Bianca entende de alguma coisa. - ele fala rindo.
- Ei, me respeite,ok? Eu estou bem aqui se nao me viu! - ela dala emburrada, mas nao totalmente com raiva.
- Ta bom! - ele diz dando de ombros. - Podemos ir para sala de estar para começar com nosso plano dessa noite?
Todos nos levantamos e seguimoa para a sala de estar. Eu e Bianca sentamos no sofa de 2 lugares e Jefferson e Leandro no outro.
- Logo depoia que saimos da escola, eu e o Leandro fomos investigar a casa da Juliana. Seguimos ela ate la e utilizamos a manobra Chord para sobrevoar a casa dela.
- Manobra Chord? Essa é nova para mim! - falo me sentindo totalmente por fora.
- Nao me interrompa. Depois eu explico o significado. - ele fala impaciente. - Como eu estava dizendo, sobrevoamos a casa dela e vimos alguns Damns espalhados por la. Mas eles estavam em forma de espiritos. So um anjo ou outro demonio poderia ve-los. Isso quer dizer que sua mae deve esta la,Laura. - ele fala a ultima frase olhando em meus olhos e sinto meu coraçao desparar.
- Voces viram mais alguma coisa? - eu falo.
- Nao. Eu fiz um mapa da casa dela com a ajuda de Leandro. - ele tira um papel do bolso e o desembrulha. Me inclino para ver melhor enquanto ele explica.
- A casa nao é muito grande, por isso eu creio que se ela estiver la dentro deve esta em um desses comodos. - ele fala apontando para o quarto de Juliana e um escritorio. - Para termos certeza so entrando na casa.
- E os Damns? Eles nao estao vigiando? Como vamos passar por eles? - eu falo desconfiada.
- Para isso, vamos contar com a sorte e com a ajuda dos nossos acompanhantes. E claro de alguns utensilios espirituais. - ele fala tirando duas tampas do bolso.Elas tem um circulo vermelho no meio o qual ele clica e da tampa se desdobra um cilindro de vidro transparente. Um moat. - Esse aqui é seu. - ele fala me entregando a outra tampa. No meio do circulo vermelho tem uma letra S maiuscula. Suponho que derive de Slaver.
- Eu so preciso destampa-lo e joga-lo em cima do Damn? - eu digo.
- Hoje voce nao vai, como eu digo, esta na frente da batalha. - ele fala coçando a cabeça.
- Voce nao esta pensando em me deixar aqui, esta? - falo começando a ficar com raiva.
- Nao, claro que nao. A Bianca ira aplicar a Manobra Chord em voce.
- Diga logo o que é isso. Nao enrole. - falo impaciente.
- Bem, a manobra Chord é uma tecnica que um anjo usa para se apossar do corpo do seu acompanhante. Como uma possessao. So que deve ter consenso entre ambas as partes. O chamado estado de harmonia. - ouço suas palavras e tento assimila-las. Deixar Bianca entrar no meu corpo é mais do que eu poderia suportar. É uma invasao muito grande.
- Voce esta louco se pensa que eu vou concordar com isso! - eu falo me levantando, mas ele agarra meu pulso fazendo com que eu me sente novamente.
- Voce tera que fazer isso se quiser ver sua mae de novo! - sinto minhas forças se esvairem e sento encarando o chao. - É algo com o que voce pode lidar,Laura. Nao é nenhum bicho de sete cabeças e nao doi. - ele fala e eu acabo rindo. - Olha, a Bianca tera pleno poder sobre seu corpo. Ela comandara todos os seus movimentos, mas voce estara consciente e vera tudo. Pode falar com ela em sua mente se precisar. E voce pode perceber algum detalhe que ela deixar de ver. Nao poderiamos ir os quatro separados por que seriamos pegos sem demora.
- Quantos Damns voces viram por la? - pergunto.
- 6 na parte externa e 2 na interna. - ele clica na tampa do Moat e ele volta a ser apenas a tampa e a coloca de volta no bolso. - Nos nao podemos nos perder de vista a nenhum momento. Mesmo que Bianca e Leandro possam sentir a presença um do outro.  Eu irei liderar a busca. Sigam apenas os meus passos e nao façam outra coisa diferente disso. Leandro é muito experiente e sabera nos conduzir. - Bianca fica meio emburrada ao ouvir o comentario,mas nao fala nada.
- E qual sera o plano? Qual comodo iremos investigar primeiro?
- O quarto dela e depois o escritorio. Temos que esta atentos a quaquer pista. - ele diz e se levanta. - Bom, hora de aplicar o Chord e irmos! E Laura, fique concentrada. Precisa esta em harmonia com Bianca para da certo. Leandro e eu faremos primeiro e depois voces.
Jefferson e Leandro ficam um de frente para o outro e se olham fixamente como em um transe. Leandro murmura palavras ininteligiveis para mim e ele começa a se dissolver e virar uma nevoa branca. Jefferson se contorce fechando os olhos e sua boca se abre e suga a nevoa. Ele abre os olhos e eles estao amarelos como os olhos de Bianca quando esta na forma de gato. Sinto nauseas em meu estomago quando ouço a voz de Jefferson me dizendo para ir em frente.
Bianca segura minhas maos e murmura um 'Vai ficar tudo bem' para mim. Sei que tambem é a primeira vez dela "possuindo" um corpo de um acompanhante e me sinto mais confortavel, sendo que deveria ser o contrario. Ela me encara e a encaro de volta. Me sinto tonta apos uns segundos e quanto mais olho para os olhos dela mais ruim eu me sinto. Ja nao ouço mais nada e antes que meus olhos fechem vejo ela se desfazer em nevoa. Fecho meus olhos e sinto calafrios na espinha. Minha boca se abre instintivamente e sinto ar gelado descer por ela. Quando meus olhos sao abertos ja nao me sinto mais em posse de mim mesma. Como se eu estivesse trancada dentro do meu corpo vendo tudo por um janela.
Bianca levanta meu braço testando meu corpo e eu nao sinto nada. Como se houvessem me aplicado uma anestesia geral. Apenas o vejo no meu campo de visao o qual ela tambem esta controlando. Ouço uma voz surgindo aos poucos no fundo da minha mente.
"- Isso é divertido! - ela pensa rindo."
"Porque nao é o seu corpo que esta sendo invadido! - penso tristemente."
Leandro (ou seria Jefferson, nao sei) pigarreia chamando a atençao de Bianca.
- Vamos. E nao esqueçam, sigam meus passos e nao se desviem do objetivo. - ele diz e se agacha se transformando em uma coruja branca. Ele nos encara com os seus grandes olhos amarelos indicando que é nossa vez.
Bianca nos abaixa e a minha visao escurece quando ela fecha meus olhos. Sinto um desdobramento do meu corpo a medida que diminuo e uma ampliaçao de meus sentidos. Estou transformada em uma coruja branca com algumas penas pretas na calda o que me difere de Leandro. Agora que ja nao sou mais eu, consigo sentir todas as sensaçoes que Bianca sente por que esse ja nao é o meu corpo.
Leandro abre as asas e alça voo saindo pela porta da sala em direçao ao terraço e ao ceu noturno. Bianca faz o mesmo e sinto o ar se espalhar por debaixo das asas e estamos voando. Com movimentos rapidos e planejados ja estamos fora da minha casa. Leandro esta um pouco a frente, mas em questao de segundos estamos lado a lado.
É uma sensaçao indescritivel a de esta voando. É uma mistura de adrenalina, prazer e liberdade. Estamos alto agora, mas posso ver o minimo detalhe la embaixo. A visao pode ser ampliada tantas vezes quanto quisermos. O que creio ser possivel graças aos poderes de Bianca. Estamos indo a uma velocidade absurda. Damos algumas rasantes, piruetas ou simplesmente planamos na corrente de ar.
"- Esta gostando,Laura? - ouço ela pensar."
" -É simplesmente incrivel! Eu gostaria de poder me sentir assim sempre! - penso entusiasmada."
"- Estamos quase chegando! - ela pensa ."
Bianca move meus olhos para baixo enquanto descemos alguns metros. Posso ver o quarteirao onde Juliana mora e a sua casa na esquina. Ela é de uma familia de classe media e vive em uma parte com mais poder aquisitivo do bairro. Enquanto minha mae trabalha muito para conseguir pagar a mensalidade da escola, ela tem a facilidade de nao precisar economizar em sua vida. Ela so pega onibus para ir e voltar da escola por causa de Gabriel. Desde que ela percebeu que eu gostava dele e desde que ela percebeu que ele tinha um Gleam.
Os muros da casa estao com cerca eletrica. Sobrevoamos a casa seguindo Leandro e por compartilhar a visao de Bianca consigo ver os Damns. Tem um em cada canto da parte externa da casa. Eles caminham de um lado para o outro atentos. Sao todos negros, altos e corpulentos. Estao vestidos completamente de preto. Entre um certo espaço de tempo, eles clicam em algum instrumento no ouvido e falam. Penso eu que passando informaçoes a Rodrigo que deve esta em algum lugar na casa. A luz saindo das janelas da sala, do quarto dos pais de Juliana e da cozinha. Leandro da um rasante em direçao ao telhado do quarto de Juliana e pousa. Fazemos o mesmo e pousamos ao lado dele.
Tem um Damn em dois dos cantos ao redor do quarto dela. Apenas a parede onde fica a janela esta sem guarda, mas ela esta trancada. Leandro meio caminha, meio pula no seu corpo de coruja indo para a beirada do telhado. Ele encara o chao la embaixo olhando para a janela e depois nos encara dando um pequeno pio de coruja. Ao ouvir, o significado vem a minha mente imediatamente. Como quando ouvimos uma palavra em outra lingua da qual sabemos o significado. Ele disse que vamos entrar.

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