quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

[Dica de Leitura] As Palavras - Clarice Lispector

Ganhei o livro em uma Promo da Intrinseca e adorei cada uma das frases e citações que o compõe. Sou apaixonada com as obras de Clarice e o livro é um prato cheio para os amantes dessa autora ilustre. Vale a leitura!
A escrita de Clarice Lispector é
viral: suas palavras ardentes,
enigmáticas sempre foram
responsáveis por um movimento
ficcional absolutamente novo que
desperta paixões. Mas, como
sempre acontece na internet,
muitos textos atribuídos a Clarice
são falsos. Para sanar o problema, a
Rocco lança nesta semana As
Palavras , uma criteriosa seleção de
frases pinçadas pelo pesquisador
Roberto Corrêa dos Santos nas
principais obras da escritora, cujo
aniversário de nascimento é
lembrado nesta terça: ela faria 93
anos, mas morreu com 57, em
Santos. Ele é um dos convidados do
evento Hora de Clarice , que
anualmente celebra uma das
autoras mais amadas do Brasil.
Sobre as citações, ele respondeu,
por e-mail, às seguintes perguntas.
Houve alguma obra de Clarice
em que a colheita de citações foi
mais farta?
Sim, houve duas: Um Sopro de Vida
e A Descoberta do Mundo ; esse – o
tanto de enunciados de beleza única
– um dos motivadores (o menor
deles) pelos quais escolhi, para
abertura, Um Sopro , e, para
fechamento, A Descoberta . Um Sopro
de Vida constitui-se em livro de
frases e frases soltíssimas, livres de
qualquer suporte narrativo
diretamente encontrável; publicou-
se após a morte de Clarice, tendo
sido organizado não por ela, Clarice,
e sim por sua amiga Olga Borelli;
estava eu diante de arcabouços de
livro, de livro-a-fazer-se, bem
diante, portanto, da matéria bruta e
iluminada do material (sentenças e
sentenças) ainda a formar-se obra:
a riqueza verbal de Um Sopro
surpreendeu-me, pois, em leituras
anteriores, lastimava que aquele
sutil rigor compositivo de Clarice
não tivesse tido tempo de ali se
realizar. Já a finalização com A
Descoberta do Mundo se deveu ao
fato de que, desde sempre, soube
de sua magnitude de ideias,
pensamentos, sensações, e tudo
plantado no terreno das ardentes
frases enviadas ao leitor de jornal
todo sábado: trata-se de livro de
“crônicas”, escolhidas por seu filho,
Paulo Gurgel Valente. Em verdade,
um livro de sabedorias curatoriais
bem próximas ao trabalho que
desenvolvo e que nomeio de Clínica
de Artista. Completo sua pergunta,
dizendo-lhe que, tendo a abertura e
o fecho decididos, cuidei de montar,
como se em um livro-exposição
(livro como espaço artístico
expositivo), uma “ordem” em que
as vibrações e os acordes de
pensamento/sensação pudessem
mais bem mostrar as potentes
alternâncias da vida do pensar e do
sentir (e, logo, sempre sob o calor
de sua escrita poética e pós-
filosófica) na arte de Clarice.
Na escrita, Clarice comprova não
estar presa a modelos. Ela está
permanentemente a
experimentar, mas não se trata
de um experimentalismo
artificioso. Ela olhou de frente o
escuro, como poucos fizeram.
Concorda?
Sim, concordo; “gênero não me
pega” é uma de suas frases a
indicarem seu não aprisionamento,
seja aos chamados gêneros
literários, seja aos chamados
gêneros (o classificar e o fixar os
“sexos”) a dividirem e tantas vezes
afastarem os homens e mulheres; o
experimento em Clarice diz respeito
à capacidade do entregar-se, do ir-
indo; do contar inclusive com o
medo para dele extrair as
substâncias saudáveis para audácias
múltiplas; o experimento impõe ser
o outro do outro; olhar-se no outro,
e, se preciso, desfazer-se de algum
outro que em nós se implanta como
um juiz vingador e punitivo; Clarice
considerava crime o experimento
movido pelo impulso da novidade;
nem sequer consideraria tal ato um
trabalho de experimento;
experimentar impõe contar com o
grande trunfo do desconhecer, do
não saber, do ampliar-se acatando a
validade existencial dos riscos. E o
escuro (a cegueira iluminante)
norteia as linhas entrelaçadas que
formam suas páginas. Mais do que
olhar de frente: ir para o dentro-
fora do que, reduzida a luz, mais
permite abocanhar o que ela
nomeia de neutro, de plasma, de
coisa. Comer o escuro da coisa, o
escuro que se instala na coisa é o
que faz sua obra.
Há alguma citação de Clarice que
o senhor considera sua
preferida? Por quê?
Não, não tenho uma citação
preferida; todas nos atacam e nos
abraçam por todos os lados,
segundo momentos distintos; no
entanto, escolho duas, por sua
radical clareza política desde
sempre em Clarice; digamos que,
por tal motivo, sejam estas minhas
preferidas hoje: 1. “Não há direito
de punir. Há apenas o poder de
punir”. 2. “Punir é, no caso, apenas
um resquício do passado, quando a
vingança era o objetivo da
sentença. E a permanência desse
termo no vocabulário jurídico é um
ligeiro indício de que a pena hoje
ministrada ainda não é uma pena
científica, impessoal, mas que nela
entra muito dos sentimentos
individuais dos aplicadores do
direito (como sejam sadismo e ideia
de força que confere o poder de
punir."

P.S.:Retirado do site O Estadao.

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