quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

[Eu Cinza] Capitulo 11

Eu olho fixamente para o mapa tentando entende-lo. Todos nós estamos com os olhares fixos na tela. Eu nao havia pensado na possibilidade de existir um espaço subterraneo na casa de Juliana. Ainda me parece uma coisa irreal. Para que os pais dela iam querer uma sotao? E o local onde ele esta situado é o mais estranho,embaixo da cozinha e atras da escritorio. E nao existem entradas para ele em lugar algum. Pelo menos nao demarcaram no mapa. Porem, o que eu nao consigo tirar da cabeça sao os quadrados na parte externa. "O que pode ser?",penso. Meus pensamentos sao cortados pela voz de Leandro.
- Os unicos arquivos que conseguimos pegar foram esse mapa e outro mais ampliado desse comodo em azul. - ele fala apontando para o que eu penso ser um sotao.
- So pode ser ai que eles escoderam minha mae. Por isso, voces nao conseguiram senti-la na casa! - eu digo.
- Eu creio que seja isso mesmo. - Leandro fala com a expressao pensativa. Parece esta com a mente em outro lugar.
- Voce sabe como chegar nesse sotao? - pergunto.
- Isso nao é um sotao. Nem mesmo esta no subterraneo. - ele fala sem tirar os olhos do computador.
- É uma dobra Shelter com selamento nao é, Leandro? - Jefferson pergunta serio.
- Sim. Podemos ver claramente por estes pontos aqui. - Leandro fala apontando para os quadrados na tela. - Sao pontos de entrada e saida para os Damns.
- Por isso havia tantos deles na area externa! Estavam vigiando as entradas! - falo entendo quase tudo agora. - Mas por que a tantas entradas e saidas?
- Uma para cada Damn que participou da dobra. Ela nao pode ser feita por apenas um deles. Essa dobra absorve muita essencia. Participaram tres Damns dessa dobra. - Leandro explica.
- Temos que voltar la! Agora que sabemos onde ela esta. Vamos planejar alguma coisa e iremos o mais rapido possivel! - falo me sentindo esperançosa.
- Nao é tao simples assim. Nenhum anjo pode abrir um selo desses. So quem participou da dobra pode entrar ou sair desse espaço.
- A um anjo que pode burlar essa regra. - Bianca fala ao meu lado.
- Que anjo,Bianca? - falo nervosa.
- Um Quest. Um anjo buscador. Nenhum saddle funciona com eles.
- Voce esqueceu que eles sao apenas lenda! Eu nao conheci nenhum, nem aqui na terra, nem de onde viemos. - ele fala em um tom serio.
- Eles nao sao lendas. Sao apenas raros. Eu ouvi falar que um havia vindo para ca antes de eu ser trazida. Nao sei onde ele pode esta, mas nao esta longe. - Bianca fala dando de ombros.
- O que é realmente um Quest? - pergunto curiosa.
- É um anjo buscador. Ele é concedido para aqueles que buscam algo, que tem um destino interligado com coisas entre a terra e de onde viemos. Eles procuram manter o equilibrio entre ambos. Hoje em dia dizem que nao existem muitos deles por que os humanos nao se preocupam muito com coisas espirituais e nem sao humildes a ponto de pensar no outro ao inves de sempre pensar em si. - Leandro explica novamente.
- Mas, se essa é a unica chance de trazer minha mae de volta, nos iremos procurar por um Quest em qualquer lugar dessa cidade! - falo me levantando. - Eu nao posso deixar Juliana tirar mais isso de mim. - sinto uma ideia surgir dentro da minha mente como se tivesse sido plantada por alguem de repente. - Nos temos que encontrar o Gleam do Gabriel. Se Juliana esta usando tudo isso para nos afastar dele, nos temos que encontra-lo! Ela nao fara mal a minha mae sabendo que ela é a unica coisa que me mantem em suas maos.
- Eu estou com a Laura! - Jefferson se levanta e vem para o meu lado. - Tudo isso nao passa de uma distraçao para ela conseguir o que ela quer, destruir o anjo de Gabriel. Eu ainda nao sei por que ela quer fazer isso. Acho que nao seja so para levar Gabriel para o lado dela. A mais por tras dessa historia.
- E como vamos localiza-lo? Pelo que eu sei ele esta muito fraco. Isso dificulta para sentirmos o rastro dele. So Gabriel poderia encontra-lo. Isso se ele tivesse um Twin. - Leandro fala.
- Eu sei onde ele esta. - Bianca fala se levantando. - Eu era amiga dele no lugar de onde viemos. Ele me disse onde estaria se eu precisasse de ajuda quando viesse para ca. Ele veio bem antes de mim.
- Entao, nos iremos ate la! - eu falo. - Algo me diz que ele sabe onde podemos encontrar o Quest. Eu sinto de alguma maneira.
- Eu vou estudar mais esses mapas para ver se eu descubro mais alguma coisa. Talvez tenha mais algum arquivo escondido nessa pasta. - Leandro fala se levantando e  indo em direcao ao quarto.
- Estou tao cansada! - Bianca fala se deitando no sofa menor. - Espero que voce nao se importe de eu tirar um cochilo aqui.
- Nao. Agora a casa é de voces tambem. - ele fala dando um leve sorriso para Bianca e vai rumo ao restante da casa que nao conheco.
Saio para o terraço e me sento no chao encostada em um dos pilares de sustentacao de frente para o matagal. Nuvens escuras cobrem o ceu e logo ira começar a chover. Um vento forte vai e vem fazendo o seu caminho. Suspiro pensando como seria bom se eu pudesse me transformar em um passaro agora e ir para longe. Voar o mais alto que eu pudesse passando por entre as nuvens. Penso em mamae e sobre o lugar onde ela esta. Leandro deu a entender que ela esta em outro plano. Em um lugar no meio do nada, onde nao podemos chegar sozinhos. E a nossa unica esperança é um anjo que esta mais para uma lenda do que para algo real. Eu daria a minha vida para trocar de lugar com ela. Nenhuma de nos merecemos o que estamos passando, mas esse fardo era para ser meu e nao dela. Em pensar que todos esses problemas vem de Gabriel ter estado na minha vida. Nao que ele tenha causado isso por sua vontade. Pelo contrario, ele me fez perceber o que realmente importava. Me fez amar novamente e voltar a ter esperanças na vida.
Me pergunto onde ele estara agora. Em que estara pensando, se esta com ela. Se ainda pensa em mim. Eu nao sei como Juliana o convenceu a me deixar. Ainda acho que ele pensar que era um problema para mim por causa do seu estado nao era suficiente para ele me deixar. Como Jefferson disse, a muito por tras dessa historia. Esculto passos e inclino a cabeça para ver sobre meu ombro. É Jefferson com uma bandeja.
- Preparei isso aqui para voce. - ele fala me entregando a bandeja que contem um copo de suco e um sanduiche simples e sentando ao meu lado. - Voce nao comeu mais nada desde ontem e imaginei que estaria com fome.
- Obrigada! - falo dando uma mordida grande no sanduiche.
- Acho que nao vai chover. - ele fala encarando o horizonte. - Quando venta muito assim nunca chove.
- Eu fiquei muito preocupada com voces ontem. - eu falo cortando seu pensamento anterior.
- E eu ainda mais com voces. Pensei que voces nao iriam conseguir sair. Havia muito deles do lado de fora.
- Por algum motivo, eles nos deixaram escapar. Foi muito facil. Voce tem algum palpite para isso? - pergunto.
- Nao. Nenhum. - ele fala parecendo distante. - Voce sente muita falta dela?
- Da minha mae? - pergunto acabando de comer o lanche.
- Sim. Eu sei que voces nao eram muito proximas. - ele fala me encarando.
- Como voce sabe disso? Andou investigando minha vida inteira? - pergunto tentando controlar a irritacao que as vezes ele me causa.
- Digamos que sim. - ele fala com um sorriso malicioso no canto dos labios. - Mas voce nao me respondeu. Sente ou nao falta dela?
- Mais do que eu imaginaria sentir um dia. - falo com a tristeza aparente em minha voz. - Eu estou me dando bem com ela agora. Graças a Gabriel. - ele olha para o outro lado ao ouvir o nome de Gabriel.
- Sempre ele. - ele diz tentando desfarçar um tom irritado. - Voce quer dar uma volta por aqui comigo? Conhecer o lugar? - ele fala sorrindo para mim.
- Nao seria uma má ideia. - ele se levanta e me ajuda a ficar de pe.
Descemos a pequena escada saindo do terraço e seguindo pela calçada. Dobramos a esquina indo lado a lado com a rua que nos separa do matagal. Caminhamos em silencio sentindo o vento no rosto, o ceu ainda escuro sobre nossas cabeças. As vezes, nossos braços rosçam um no outro me trazendo uma sensacao confortavel e estranha. Logo mais a frente tem um unico banco de madeira solitario no meio da calçada. Leandro me cutuca com o braço indicando o banco para nos sentarmos. Me sento descansando a cabeça no encosto e fecho meus olhos. Uma brisa constante bagunça meu cabelo. Sinto uma mao levando um cacho para tras da minha orelha e abro meus olhos encarando Jefferson. Ele é forte, bonito, seu cabelo espinhado lhe da um certo charme. Ele olha fundo em meus olhos com um olhar de desejo e sorri para mim. Ele coloca um braço no encosto por tras da minha cabeça se aproximando. Segura meu rosto com a outra mao livre, seu rosto chegando para junto do meu. Me sinto sair do torpor em que estava e me afasto o assustando.
- Jefferson, voce sabe que eu nao me sinto assim em relacao a voce. Voce sabe de quem eu gosto. - falo olhando em seus olhos e ele se ajeita no banco afastando seu.olhar do meu.
- Por que voce nao da uma chance para nos? Ele ja fez a escolha dele. - ele fala voltando seu rosto em minha direcao.
- Ele nao sabe tudo que esta em jogo aqui. Ele so sabe a versao dela. Tenho certeza que quando eu conversar com ele tudo voltara a ser como antes. Ele podera nos ajudar. - eu falo.
- Voce estara querendo se enganar. Ele ja fez a escolha dele no momento que aceitou as palavras dela. Ele preferiu acreditar nela do que em voce que esteve tanto tempo com ele. - ele fala irritado.
- Ele so esta confuso. Voce nao o conhece como eu! - eu falo me levantando do banco e correndo de volta a casa. Esculto os passos dele atras de mim e ele me alcança segurando meu braço me parando.
- Me esculte,Laura! - ele fala quase gritando. - Voce tem que fazer a sua escolha. Siga em frente! Pare de olhar para tras.
- Voce nao sabe do que esta falando! Eu conheço ele e voce nao! - falo sentindo um fio de lagrimas descer por meu rosto. - Ele foi a unica coisa boa que me aconteceu em anos. Eu nao irei deixa-lo para tras.
- Eu espero que voce esteja preparada quando for atras dele. - ele fala me olhando sem expressao. - Talvez eu nao esteja aqui para concertar o machucado que ele vai deixar em voce.
Ele fala se virando e vai em direcao a casa. Me deixando sozinha para lidar com suas palavras. E quando tudo nao pode piorar, a chuva que ele disse que nao iria cair, me chicoteia e eu fico la parada encarando o nada. Me deixando ser molhada e lavada. Quem sabe todos os sentimentos ruins nao vao embora com ela.

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