quinta-feira, 20 de março de 2014

[Overrun: A Descoberta] Final do Capitulo 16

Me atiro aos pes da cama deixando a emoçao me dominar. Esta escuro e eu mal posso ver seu rosto, mas ela esta mais magra do que da ultima vez. Os outros me observam do lado de fora me dando tempo. Ela ainda esta como se dormindo e tiro uma mecha de cabelo do seu rosto e afasto as lagrimas dos meus olhos. A abraço firme sentindo cheiro de casa pela primeira vez nesses longos meses. Jefferson me ajuda a me erguer da cama e vejo os outros me encarando.
- Precisamos ir. Eles podem voltar. - Marcelo diz com uma das suas maos em meu ombro.
Vejo enquanto eles afastam a cama dela para o meio do quarto tomando cuidado para nao desconecta-la dos aparelhos. Fazemos um circulo ao redor do leito e nos damos as maos. Canticos parecem ondular a escuridao dissipando-a aos poucos ao nosso redor. As particulas do meu corpo se atraem para outro plano e antes que eu perca minha conaciencia ouço a porta se escancarar as nossad costas, mas ja é tarde demais.

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Um clarao pertuba minha visao e ela demora um pouco para se ajustar. O quarto em que estamos é coberto por azulejos brancos. Vejo a cama da minha mae a minha frente e o meu coraçao afunda. Sua aparencia esta mais morta do que viva. A pele gruda ao redor dos seus olhos fundos, em torno de todos os seus ossos. Estiro o braço para toca-la e as lagrimas se tornam insistentes. Me retraio quando sinto Jefferson me puxar para a fora da sala. Saimos para um longo corredor tao branco quanto o quarto. Jarros com plantas tentam quebrar a mesmice do lugar, mas pouco conseguem modificar.
Damos alguns passos e nos sentamos abraçados em um banco. Me seguro firme em Jefferson e ele geme.
- Seu braço ainda doi muito?
- Nao se preocupe com isso. - olho para o ferimento enfachado perto do seu ombro. - Leandro estancou antes que se tornasse grave. Vai curar.
Fico em silencio sem saber que palavras usar. Eu consegui escapar. Conseguimos traze-la. Pensar nisso nao me tras tanto conforto e ainda me pergunto porque.
- Foi tudo tao irreal. Eu pensei que nao conseguiriamos.
- Eu tinha certeza. A partir do momento que ela achou que iria ganhar,eu soube que aquilo seria seu maior erro.
- Eles nao lutaram tanto quanto poderiam. Eu...
- Deixe para pensar nisso depois. Voce esta fraca e cansada. Temos coisas melhor para nos preocupar.
Ouço a porta se abrir e fechar e Bianca e Marcelo param em nossa frente.
- Vamos conversar com um medico e lhe explicar que ela sofreu um acidente. Pelo estado que ela esta eles vao acabar se convencendo.
- Voce acha que ela vai se recuperar? - pergunto.
- Agota sim. Fique tranquila que o mais dificil passou. Vamos manter guarda aqui para nada lhe acontecer.
- O que voce acha que fizeram com ela? Parece esta em algum tipo de coma.
- Isso é um ritual chamado de Speech Mind ou apenas Selo de Mentes. Ele faz com que um humano entre em estado de letargia. Ela nao ira se lembrar de nada do que aconteceu.
- Pelo menos, nao terei que explicar nada disso para ela.
- Sobre isso teremos que conversar depois. Agora voces fiquem aqui enquanto eu e Bianca vamos ate um medico.
Eles se distanciam pelo corredor e dobram em outro. Fecho os meus olhos e meus pensamentos começam a me assombrar outra vez e me sinto sufocada. A voz de Juliana paira estridente em minha mente. Eu sou uma Trihair. Uma caçadora de Overruns. Eu nao sei como farei para levar essa vida de perigos sem machucar minha mae outra vez. Tenho que achar um meio termo ou darei um jeito de negar esse destino a Marcelo.
Olho para os meus braços e roupas rasgados e arranhados e desejo tomar um banho e quem sabe dormir e esquecer tudo isso tambem. Esquecer que eu sou uma escolhida. Jefferson acaricia meus braços carinhosamente e repousa sua cabeça na minha.
- Voce quer ir para casa? - pergunta.
- Nao. Eu nao sei sei se conseguirei sair do lado dela outra vez depois disso tudo.
- Voce sabe que tera que seguir sua vida nao é? E voce tampouco pode negar isso a ela.
- Isso é dificil de pensar. Eu so queria minha antiga vida de volta. Os problemas eram bem menores.
- E eu? Voce me deixaria para tras?
- Voce sabe que nao. É so que é muita coisa para mim. E ela so tem a mim de qualquer maneira. Nao quero colocar a vida dela em risco por minha causa de novo.
Ele segura meu rosto entre suas maos macias e olha em meus olhos como se quisesse me tirar da orbita da terra.
- Enquanto eu estiver aqui nenhum mal acontecera a nenhuma de voces duas, Laura. Eu prometo. Voce confia em mim?
Assinto com a cabeça e nossos labios se encontram em meio a um mar salgado de lagrimas. As minhas e as dele se encontrando em emaranhado de segredo e afliçao. Mais do que isso em cumplicidade, promessas e amor.
Porém, a pontada em meu peito resiste tao forte quanto tempestade porque sei que agora nao existe mais volta.
Ergo a cabeça quando Marcelo chega conversando com uma medica. Ela aparenta ter mais de trinta anos e tem cabelos castanhos compridos e lisos. Ela franze o cenho enquanto ouve atentamente as palavras dele. Eles se virao para nos e Marcelo nos apresenta.
- Esse é Jefferson e essa é Laura, filha da paciente.
A doutora apenas me da um sorriso mecanico e se volta para Marcelo. Eles retomam a conversa indo em direçao ao quarto. Me afasto os seguindo e Jefferson segura meu braço.
- Eii, o que foi?
- Nao va la agora. Voce sabe como ela esta para que ficar se martirizando.
- Cuidar dela nao é problema para mim.
- So estou dizendo que seria melhor ficar aqui enquanto voce se acalma mais. Ela so vai dar uma olhada na sua mae. Ja ela volta e te conta tudo.
Suspiro e me sento novamente no banco. Varios minutos se passam e me sinto angustiada. Quando estou a ponto de levantar a doutora sai com Marcelo em seus calcanhares.
- O caso dela é delicado. Ela perdeu muito peso e esta com a pele ressecada e machucada. Esse acidente foi bem grave pelo que posso constatar. O que voce disse que era mesmo?
- Acidente de carro. Cairam em uma ribanceira em um rio. - quando a medica lhe da um olhar deaconfiado ele da de ombros. - Um milagre.
- Hum. Ela vai ter que ser levada para uma ala de tratamento intensivo. Vai ficar provavelmente uns dois meses internadas ate se recuperar completamente. Ela tambem esta em coma e nao sabemos quando ira acordar. Vou providenciar que a transportem para outro quarto.
A doutora começa a escrever em sua prancheta e me entrega um papel para pregar na cama da minha mae com instrucoes para os enfermeiros. Ela sai novamente escoltada por Marcelo e Bianca. Entro no quarto e vejo Leandro sentado ao lado da cabeceira olhando para minha mae serio. Ele se levanta para que eu me sente e sai me deixando a sos com Jefferson. Pego a mao raquetica dela entre aa minhas e afago seus cabelos.
- Voce vai ficar bem. Foi um milagre. - murmuro para ela.
Arrumo o lençol por cima dela e coloco sua cabeça em uma posicao mais confortavel. Eu gostaria que nenhum daqueles dias tivessem existido. Daria tudo para voltar atras e ter sido uma boa filha. Quem sabe voce nao estaria aqui assim, eu penso. Olho para longe por ser doloroso demais para mim ve-la em tais comdicoes e nao poder fazer absolutamente nada. Acabo cochilando na cadeira e so acordo quando Jefferson me cutuca.
- Precisamos ir para casa agora.
- Eu nao quero deixa-la.
- Eles ficaram aqui. Por favor, vamos so comer e trocar de roupa e voltamos? - ele diz me dando um meio sorriso.
- Tudo bem.
                   
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Pegamos um onibus proximo a clinica e seguimos para casa. Nao falo nada por todo o caminho e ele respeita meu silencio. Dentro de mim cresce uma vontade maior do que eu de dar um basta nisso e de renegar meu destino. Eu sei que tem apenas uma maneira de fazer isso e ela é tao ruim quanto deixar as coisas continuarem assim. Eu teria que ser como Gabriel e nao quero isso para mim. Nao quero trocar um lado pelo outro. Gostaria que fosse o bastante apenas dizer nao, mas sei que eu magoaria Marcelo. E nao posso deixar que ele volte aquela vida de se transformar em animal e ficar nem ca, nem la. Seria duro demais para ele uma segunda vez.
Entao, eu decido deixar as coisas seguirem seu rumo. Farei como Juliana disse, tomarei meu papel de direito. E nao deixarei que isso nunca mais aconteça com outro Overrun. Eu procurarei por eles e os ajudarei onde quer que estiverem. Nao os deixarei sozinhos e a merce de Juliana e Tirank.
Onde quer que voces estejam, irmaos, saibam que podem contar comigo. Eu serei a melhor Overrun. A maior vingadora de nossa raça. A maior lenda dos anjos.

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