sexta-feira, 21 de março de 2014

[Overrun: A Descoberta] Capitulo 17

Quando chegamos em casa praticamente corro para o banheiro. O contato com a agua arde em minha pele dos braços, rosto e pernas. Arranhoes como os provocados por unhas de gato estao vermelhos e inchados aqui e ali. Mesmo com isso o banho nao deixa de ser refrescante. Me visto com roupas leves enquanto Jefferson toma uma ducha e logo depois procuro minha mochila. Encho-a com algumas roupas minhas, guardo minha caixa com minhas armas por baixo de tudo e fecho. Lembro que talvez precise ir em minha propria casa pegar roupas para minha mae. Quando as imagens da destruiçao em que os Damns deixaram a casa surgem em minha mente as reprimo para longe. Nao hoje. E nao agora. Levo a mochila para sala, pego uma sacola para colocar as roupas para minha mae e volto para a cozinha para procurar algo para comer. Nesse momento, Jefferson sai do quarto e para me olhando. Ele me parece ser mais do que eu poderia ter pedido. Me entendi, esta ao meu lado sempre e divide esse segredo comigo. Nao sei se o amo. E nem tenho tido tempo para pensar em amor agora. Surge um pensamento no fundo da minha mente sussurrando: E talvez nunca tenha.
Ele sorri para mim enquanto encurta o caminho que nos separa. Seu abraço é quente, nem forte , nem leve, na medida certa para mim. Ele beija meus cabelos e me embala em uma dança de uma musica so sua. Nos separamos e o puxo para cozinha e ele me ajuda a preparar o almoço. Fazemos tanta sujeira na cozinha que vamos precisar do dobro de tempo para arruma-la. Apreciamos a comida calmamente por um tempo. Ele diz que me ama entre uma garfada e outra de espaguete e sorrio para ele. Mas quando lembro por um segundo da minha mae e que ficar aqui sentada e calma aproveitando esse momento com meu namorado pode ser apenas uma ilusao, meu estomago vira uma pedra. Jefferson percebe e tenta me dar o resto da comida na boca, mas recuso veemente.
- Jefferson, podemos ir la em casa pegar umas mudas de roupa para minha mae?
- Voce quer mesmo voltar ate la? Posso ir sozinho.
- Eu tenho que encarar os problemas de frente agora. Eu sou meio que obrigada isso.
Ele olha para meu prato apenas mexido e levanta uma sombrancelha para mim.
- Nao vai terminar primeiro?
- Nao tenho vontade.
- E se eu disser que so vou te levar ate la se voce comer tudo?
- Voce nao tem mais moto, Jefferson. Ah, e sobre isso acho que voce tomou uma atitude precipitada. Nao parece muito justo.
- E voce queria que eu deixasse sua mae ir para um hospital publico naquele estado? Eu jamais me perdoaria por isso. A moto seria como um lembrete permanente para mim. - rio.
- Tudo bem. Voce tem razao. Mas fico te devendo essa.
- Oh, nao fica coisa nenhuma! Pode comer ja!
Ele pega o garfo e faz um aviaozinho para mim como se eu tivesse cinco anos ainda. Rolo os olhos para ele enquanto sou obrigada a comer tudo calada.
Pegamos o onibus rumo ao meu bairro e meu coraçao aperta a cada metro que nos aproxima mais de la. É como se eu ja nao pertencesse mais aquele lugar. Como se eu ja nao me pertencesse mais. Jefferson segura minha mao firme entre as suas e se distrai olhando pela janela. E eu so consigo pensar que eu nao quero ter que voltar mais aqui. E é estranho.
Quando descemos no ponto obrigo minhas pernas a irem adiante. Assim que chegamos na frente da casa, ela me parece velha e abandonda. Abro a porta que range ao meu esforço e me deparo com a mesma bagunça de antes. Sujeira por todos os lugares, teias de aranha sobre os moveis despedaçados. Entro no quarto da minha mae e nao vejo Jefferson atras de mim. Seu quarto é a unica parte intocada da casa e suspiro. Pego as roupas do guarda roupa e coloco dentro da mochila. Seu cheiro esta por todo lugar e é dificil conter as lagrimas, mas em algum lugar acho a coragem para faze-lo. Pego ainda um pente e um perfume que sao os que ela mais gosta e ajeito com na mochila. Volto procurando por Jefferson e ele esta olhando absorto para a parede a sua frente. Ele nao percebe minha presença silenciosa e o olho contornar meu nome e os desenhos. Depois de alguns segundos, ele sai do estado de torpor.
- Sao lindos. Eu achei alguns em uma pasta que estava jogada no canto. Por que voce nao me falou  que desenhava? - ele pergunta sem me olhar.
- Isso foi a muito tempo.
- Nao tanto tempo assim. - ele se silencia por um segundo antes de contunuar. - Voce gostava muito dele?
- Nao mais do que voce. Se é isso que voce quer saber.
- Bom saber.
Ele pega algo do chao e passa na parede. Ele apaga o nome de Gabriel e em sua caligrafia mais bonita que a minha, coloca o dele no lugar. Ele se vira para mim com a cabeça pendendo um pouco de lado com um sorriso travesso nos labios. Me jogo em seus braços e ele nos gira no meio da bagunça do meu quarto. Na bagunça da minha vida.

                        +++

Voltamos para a clinica e arrumo as coisas na comoda destinada a ela. Marcelo, Bianca e Leandro nao saem do lado por um minuto e ja me parecem cansados. Peço para que vao para casa, mas eles nao cedem. Jefferaon argumenta com eles e Bianca e Leandro vao para casa em um dobra de viagem, mas Marcelo fica. Me sento na cadeira ao lado da cama dela com suas maos nas minhas enquanto ela permanece dormindo.
Mais tarde, um cirurgiao a levou para a sala de emergencia para lhe colocar uma sonda para a alimentacao. Ela esta definhando, ele havia dito. Uma semana se passou tao devagar quanto o arrastar de um jabuti. Ela apresentou um pequeno aumento de peso e nao estava mais com a cor da pele esverdeada. Mas ela ainda nao havia voltado do coma. Os medicos nao sabiam dizer quando, nem tampouco os meus anjos.
Nos revesavamos para ficar ao lado dela, descansar e para sair para tomar ar puro. Meus olhos ja estavao fundos com olheiras e eu nao me reconhecia mais no espelho. Na segunda semana, enquanto eu acariciava-lhe a face, ela murmurou palavras soltas. Ela nao acordou, mas isso foi grande motivo de alegria para os medicos e de choro para mim. No inicio da terceira semana enfim ela acordou.
Eu estava conversando com ela a tarde lhe contando estorias sem importancia como os medicos disseram que seria bom fazer. Disseram que ela me entendia. Em um certo momento da estoria, ela apertou minha mao e abriu os olhos aos poucos. Ela ja estava corada e tinha pego cinco quilos. Ela me olhou e sorriu amavelmente como nao tinha feito a muito tempo, ate mesmo antes disso tudo.
- O que houve? - ela pergunta com a voz rouca.
- Um acidente. Mas nao se preocupe. Agora ja esta tudo bem.
- E por que... voce esta bem? Nao estava junto comigo?
- Nao. A senhora foi visitar a tia Amelia no interior e sofreu o acidente de carro no caminho.
- So eu fiquei assim?
- Sim. O motorista ja esta bem.
- Quem esta pagando por isso? - ela indaga enquanto seus olhos prescrutam o lugar.
- O seguro do carro. Descanse agora,mae. Vou buscar a medica.
-Quem é aquele? - ela fala olhando por sobre o meu ombro direto para Jefferson que sorri e caminha ate nos.
- Meu nome é Jefferson, senhora! Sou o namorado da sua filha.
- Namorado? Onde esta, Gabriel?
Ela começa a ter um acesso de tosse e Jefferson corre para chamar uma enfermeira.
- Fique tranquila. Depois eu lhe conto tudo.
- Quanto tempo eu fiquei desacordada?
- Muito tempo.
- Quem cuidou de voce? Ele?
- Tambem.
A enfermeira entra em desparada pelo quarto e parabeniza minha mae pela recuperacao e lhe injeta um tranquilizante. Logo ela volta a dormir. Saio para o corredor e abraço Jefferson rindo e chorando ao mesmo tempo.

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