domingo, 27 de abril de 2014

[Overrun: A Lenda dos Sete] Final do Capitulo 20

- Vejamos de quem sera a vingança, crianca tola! - ele diz recuando para junto dos Ronais e coloca novamente o capacete sobre o rosto. - Arqueiros, arcos a postos! Atirem!
Os Ronais miram suas flechas um pouco a cima de nossas cabeças e vejo as setas descerem brilhantes com a luz da lua. Levanto minha espada para cima e Konoch abre suas e as bate com uma força gigantesca e sinto como se estivesse no meio de um tornado. Protejo meus olhos com o braço livre enquanto vejo as flechas serem lançadas de volta para os arqueiros assustados no meio do redemoinho. As flechas atingem seus escudos desordenadamente, mas nao tem nenhum efeito. Konoch controla o redemoinho para longe de nos e leva as flechas com ele. Todas elas. As que estavao nas aljavas se perderam na ventania.
Ergo minha espada e lanço um grito de batalha no mesmo momento que Nereu faz o mesmo no seu clã e nos lançamos para a batalha. Espadas se chocam contra Leandro e Marcelo que tentam se defender de varios Ronais, mas a maioria deles vem para combater a mim e Konoch. Eles voam em nossa direcao nos cercando e tentando acertar um golpe com suas espadas onde esta a seu alcance, mas somos muito rapidas para eles.
Um Ronai tenta me atingir por tras, mas me ergo a tempo de com um movimento da espada tirar-lhe a sua de suas maos e corto a ponta de uma das suas asas e ele cai perdendo o controle de seu corpo. Konoch destroca varios com suas garras e bico de uma maneira surpreendente e com minhas asas erguidas consigo me manter em suas costas enquanto lutamos com eles.
Olho por sobre o ombro de um arqueiro depois de lhe chutar o abdomen e cortar sua asa e vejo Leandro e Marcelo com as costas apoiadas um no outro procurando por apoio. Eles acertam golpes nos Ronais que os cercam, mas fazem pouco avanço ainda nao percebendo que as asas sao os pontos mais frageis dos Ronais. Voo em direcao a eles surpreendendo um dos inimigos pelas costas cortando-lhe a asa e ele despenca rumo ao deserto. Encontro o olhar de Marcelo e sorrio para ele. Seu rosto se retorce em desespero no momento em que sinto uma das minhas asas ser cortada. Começo a cair e vejo quem desferiu o golpe. Nereu.
Sinto uma especie de fogo queimando a minha asa atingida. Enquanto despenco olho para ela e vejo um fogo esverdeado queimando-a onde Nereu a cortou. A dor é como a de muitas facas cortando a carne. Estou consciente que sao apenas penas, mas parecem que sao como a propria pele. Tento apagar o fogo com as maos, mas continua queimando. A dor é insuportavel para tentar voar. Quando estou perto de atingir o chao sinto garras se fecharem ao meu redor com força. Nao tenho certeza se é uma ilusao causada pela agonia e antes de conseguir abrir os olhos perco a consciencia.
Abro meus olhos lentamente, pontos brancos tomando conta da minha visao. Tento me apoiar com os braços e me levantar, mas a dor em minhas costas é terrivel. Percebo que estou deitada em algo macio e ouço vozes um pouco distantes de mim. Abro os olhos e os pontos quase se foram menos a dor. Como se algo tivesse sido arrancado das minhas costas. Vejo as asas de Konoch e percebo que estou deitada em suas costas. Gemo quando tento me erguer e fecho os olhos me contorcendo em posicao fetal. Entao eu sinto uma ausencia. As asas nao estao mais em minhas costas, minha roupa voltou ao normal sem nenhum resquicio da armadura dos Ronais. Agora sou apenas eu novamente. Menos a dor. Lacinante. Cheia de pontadas. Fisgadas. Passo os dedos tremulos pelas minhas costas por baixo da camiseta. Horror. Sinta duas linhas de carne viva descendo pelas minhas costelas. O contato me faz tremer e guinchar. Algo segura meus braços e me coloca novamente de costas e a dor se vai junto com minha consciencia.
Quando abro meus olhos novamente a luz me cega momentaneamente. O sol esta no meio do ceu laranja de Konden. O ceu sempre sem poder ser distinguido. A mesma cor do amanhecer ou entardecer. Apenas o sol segue o seu curso normalmente. Sinto meu peito subir e descer lentamente. O ar sendo forçado para meus pulmoes. Mas nao é apenas meu o movimento de respiracao. Estou aninhada sobre o peito de Jefferson e sobre Konoch.
- Como se sente? - ele murmura, a voz soando preocupada.
- Com muita dor. O que aconteceu?
- Suas asas queimaram e voce perdeu o controle e despencou do ceu, mas antes de atingir o chao Konoch conseguiu te salvar.
- Nao estou falando disso. O que aconteceu com os Ronais?
- Eu cortei as asas de Nereu depois do que ele fez a voce. Todos eles cairam tambem. Konoch ficou muito irritada e voce deveria ter visto aquilo. Ela brilhava como uma estrela e soltou uma rajada de fogo sobre os Ronais. Mas era um fogo diferente. - ele para como se estivesse revivendo o momento agora. Entao, pigarreia e continua. - Era verde como o que queimava as asas deles. Ficaram muito aterrorizados para voltarem atras de nós e nao poderiam mesmo se quisessem sem suas asas.
- Deve ter sido maravilhoso. Entao por que ainda estamos aqui? Porque nao atravessamos o portal?
- Precisamos esperar suas feridas sararem. Nao sabemos o que nos espera no proximo caminho e voce esta indefesa. Marcelo acredita que existe algum local de transicao entre essa cidade e a proxima.
Tento fazer da respiracao mais facil para poder falar, mas a dor é intensa demais. Jefferson retira um cacho do meu rosto e o acaricia. O seu toque é doce e me tras um pouco de conforto. Olho para o seu rosto e vejo os olhos amarelos e o poder que guardam. Como se o fogo selvagem borbulhasse dentro deles.
- Voce ainda é um deles.
Ele sorrie para mim parecendo exausto.
- Sim. Marcelo me disse que Jean fez disso quase permanente. Para nos ajudar a cruzar nosso caminho ate os portoes de Gowin.
- Isso é bom. Voce sempre quis isso. Um destino de aventureiro.
Ele olha para o ceu, os olhos perdidos no horizonte.
- Mas, eu nao queria isso. Eu... nao pensei que teria que te ver assim tao atormentada. Laura, eu tenho medo.
Uma lagrima desce por seu rosto e desce por seu pescoço. Apenas uma lagrima. A tristeza estampada no seu rosto e isso faz com que eu esqueça a dor do meu corpo.
- Jefferson... Eu agradeço por isso todos os dias. Foi por causa desse destino que nos conhecemos. E voce nao sabia como eu... era antes.
Minha pele treme. Nao por causa do estado em que estou, mas por causa das lembranças dolorosas.
- Eu sei, Laura. Eu estava la. Por tras de cada arvore, em quase todos os momentos quando voce ia para o bosque. Eu so nao esperava que voce fizesse parte desse mundo. Mas eu fiquei tao feliz quando voce descobriu. Eu imaginei tantas vezes o dia que eu chegaria em voce e te falaria da minha ideia louca de combater os Damns.
- Eu fico feliz que voce tenha visto para saber como eu estou diferente agora e o quanto gosto de voce.
Meus dedos encontram sua face e percorro-a com eles. Suas maos habeis me ajudam a ficar em uma posicao mais confortavel em seu colo. Sua respiracao toca meu rosto e esta tao acelerada quanto a minha. Sempre ficamos ansiosos pelo contato um com o outro como na primeira vez. Quando seus labios tocam os meus, nossas linguas se unindo em uma dança, nossos corpos tao colados que esqueço ate mesmo da dor, eu tenho certeza que jamais teria chegado ate aqui sem ele. E que nunca chegarei ate o final sem sua presença.

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