domingo, 20 de abril de 2014

[Overrun: A Lenda dos Sete] Capitulo 20

Antes que eu pudesse ter aberto minhas asas, ele ja havia desaparecido sobre as arvores. Me sinto culpada por ele, por todos nos. Se eu nao fosse uma Overrun, eles estariam seguros em casa. Todos estariamos. Nao que eu pudesse escolher. Nunca me perguntaram se eu estava contente com isso ou se eu realmente queria abrir mao se uma vida normal.
Uma mao encosta em meu ombro cortando meus pensamentos. Pelo canto dos olhos vejo Marcelo encarando as sombras das arvores. Uma lufada de ar e poeira nos cobre quando dois borroes brancos saem da caverna em direcao ao ceu. Hans e Jean.
- Eles vao traze-lo antes que chegue aos anciaos. - ele fala convicto e calmo.
- Eu nao posso ir com eles?
- Nao. Voce veio fazer uma coisa aqui e nao pode sair daqui ate ter terminado com ela.
- Voce acha que ela vai aparecer agora?
O medo reberverando pela minha voz. Maos suando.
- Dizem que ela carrega o amanhecer e o entardecer de Konden com ela. Como? Ninguem sabe. Mas ela ira aparecer hoje no final da tarde.
- No ceu?
- Voce prefere que eu lhe conte e voce tenha medo ou que veja por seus proprios olhos e tenha coragem? - ele diz, seus olhos azuis curiosos.
Tenho vontade de lhe dizer que nao ha possibilidade de eu criar coragem em momento algum,mas fico em silencio por alguns segundos.
- Voces disseram que estamos perto do ninho dela. Por que  nao vamos para la agora?
- No por do sol a amazona virá
Com uma espada de luz ela combaterá - ele usa uma voz melodiosa e percebo que esta recitando a lenda. -
A ave dourada das manhãs
E sobre ela se assentará
Domando-a para entao a levar
Por um caminho de brilho
Onde a fuga encontrará.
- Voce nao pode fugir da profecia, Laura. Se nao estariamos todos perdidos. Tenha paciencia.
- Eu vou tentar.
Suspiro. Nao outra saida a nao ser tentar.
- Sera que eles vao demorar muito para traze-lo? Nao sei se posso fazer isso sem... saber que ele esta bem.
- Eles vao traze-lo logo. Descanse enquanto isso.
Deixo Marcelo na boca da caverna e vou mais para o fundo dela. Levi passa por mim e me da um sorriso encorajador. Me deito no chao pedregoso em meio a escuridao. É estranho deitar por sobre as asas, entao me viro de lado. Fechos os olhos tentando acalmar meu coracao que acelera a cada minuto. Por Jefferson. Por Konoch. Por mim. Por todos nos. Eu nao sei como farei quando vê-la na minha frente, esperando pelo meu ataque. Algo me diz que ela foi criada nao sonente para anunciar os dias de Konden, mas para me testar. Para saber se tenho valor nessa guerra.
Lagrimas quentes descem por meu rosto quando lembro de minha mae e que nao tenho noticias dela. Gostaria de saber se esta bem, se sente tanto a minha falta quanto eu a dela; se ela e Bianca se dao bem. É impossivel aquietar meus pensamentos quando estou prestes a confrontar a primeira parte do meu destino, quando preciso fazer uma coisa para qual nao tive instrucao. Eles esperam que eu saiba o que devo fazer e que os leve para a proxima etapa. Dar o primeiro passo é uma responsabilidade muito grande para mim que nunca tive outra alem de ir a escola. Para uma garota que nunca teve coragem de enfrentar seus medos isso parece impossivel. Eu sei que ter chegado ate aqui ja era impossivel e isso deveria me trazer algum alento, mas nao me afeta como deveria. E nem tenho certeza se um dia isso tudo fara sentido e o que me resta é apenas suspirar, erguer a cabeça e fingir que sou outra pessoa. Que esses sentimentos nao existem e empunhar a espada em frente a quem quer que seja que apareça em nosso caminho.
Com esses pensamentos acabo dormindo. Um sono tranquilo como se eu nao estivesse prestes a enfrentar uma lenda e um exercito de anjos arqueiros sedentos pela minha morte. Pela morte dos que eu amo...
Alguem sacode meu corpo inerte e desperto. Me sento surpresa por meu corpo nao demonstrar nenhum desconforto depois de dormir no chao. Me ergo enquanto meus olhos se ajustam a luminosidade a minha frente. Hans e Jean arrastam Jefferson sobre seus ombros e ele parece machucado. Corro ate eles e paro a um metro. Seus olhos encontram os meus e se desviam rapidamente. Sua expresao de derrota e vergonha me assustam e me paralisam ate que Hans começa a falar.
- Precisamos derruba-lo antes que chegasse ate o castelo. Por pouco nao conseguimos. Ele é muito rapido.
Me aproximo de Jean pedindo para que ele me de seu lugar e passo o braço dele sobre meu ombro.
- Deixe comigo, Hans. Preciso conversar com ele. - digo.
Ele nao diz nada e o solta enquanto facilmente sustento o corpo de Jefferson. Passo meu braço livre por sua cintura, por baixo das asas sujas, o atracando com firmeza. Seu rosto esta arranhado e sangrando em alguns lugares e esta mancando dolorosamente da perna esquerda. Uma das asas teve algumas das penas arrancadas. Ele nao diz nenhuma palavra enquanto nos encaminhamos para o fundo da caverna. O ajudo a se sentar rente a parede da caverna. Ele desvia seu olhar do meu enquanto massageia a perna machucada. Olho para a entrada da caverna e nao vejo Hans, Jean ou Levi. Nem Leandro que nao havia percebido que sumiu. Pela intensidade da luz que entra na caverna percebo que dormi no maximo uma hora. Ainda tenho algum tempo antes de ir procurar por Konoch. Olho para Jefferson por alguns segundos com meu braços cruzados antes de falar.
- Por que voce fez isso, Jefferson? Voce pirou de uma maneira que eu nunca pensei em ver. Eles poderiam... te matar!
Ele levanta um pouco o rosto encarando seus pés, mas nao o bastante para me olhar nos olhos.
- Eu nao quero ser um impecilho para voce, Laura. Sem um anjo, eu nao sou nada. Eu queria descobrir o que o Leandro fez aos Ronais e tentar concertar isso.
- Olhe nos meus olhos. - minha voz sai autoritaria o que o assusta e ele me obedece. - Voce sabe que nunca seria um impecilho para mim. Talvez voce seja a unica coisa que me faz lembrar o porque de eu dever lutar. Sera que é tao dificil entender isso?
- Laura, isso nao é so sobre nos dois. Voce entende o tamanho da coisa que voce veio fazer aqui? Eu nao posso te atrapalhar. Voce teria que me salvar de cada perigo que aparecesse e eu viraria o principal alvo dos seus inimigos.
Me sento ao seu lado com nossos ombros se tocando e suspiro longamente.
- Voce deveria saber que o meu maior problema sera se voce nao estiver la comigo. Pensar em voce faria com que eu nao me saisse bem em nada que eu fizesse. Nao posso te deixar para tras.
- Mas voce tera, Laura. Se eu deixar de ser um Ronai antes de sairmos daqui, eu ficarei. Pelo seu bem e nao adianta voce tentar me fazer mudar de ideia.
- Isso ja é alguma coisa. - limpo uma mancha invisivel em minha armadura antes de continuar. - Mais tarde vou procurar por Konoch. Temos que sair daqui antes que os anciaos se cansem e mandem alguns Ronais atras de nos.
- Iremos com voce ate ela.
- Nao. Eu irei sozinha.
- E voce disse que me quer sempre ao seu lado.
Ele ri um pouco, mas para quando ver que nao faço o mesmo.
- Marcelo recitou a lenda deles para mim. Tenho que ir sozinha. Eu nao sei o que devo fazer exatamente, mas nao deve ser tao dificil se me encubiram dessa missao. - digo com um riso amargo.
- Eu sei que voce esta com medo. Nao precisa se fazer de durona comigo. Mas, eu tambem sei de outra coisa. Voce se subestima demais.
- Acho que é voce que me estima demais.
- Me abrace, minha teimosa. Eu sei que se sairá bem.
Me aconchego em seus braços com cuidado para nao machuca-lo ainda mais. Minha respiracao acelerada acaba seguindo a mesma da dele em um ritmo forte. Eu nao sei se hoje terei exito, se sairemos vivos dessa ou se conseguiremos fugir dos Ronais. Mas eu carrego uma certeza; a de que nada podera mudar o que sinto por ele e o que temos um com o outro. Porque onde eu estiver ainda poderei sentir sua presença tao forte quanto o som do bater de suas asas.

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