sábado, 12 de abril de 2014

[Overrun: A Lenda dos Sete] Capitulo 19

- Voce esta bem? - Jefferson pergunta assim que nos levantamos.
- Levando em consideraçao que eu cai em um chao coberto por musgos e ele amassiou a queda, sim estou. E voce?
- Se voce esta bem, eu tambem estou.
- Levaram os outros para onde?
Assim que termino a pergunta percebo sons de passos e asas batendo frente a porta. Corro para ela e vejo Marcelo curvado para frente mal se mantendo em pé. A porta da cela em frente a minha se abre e ele é jogado para dentro. Leandro que eu nao havia percebido é arremessado logo depois e a porta se fecha magicamente. Os anjos abrem as asas e voam e os perco de vista. Gemo frustrada e com raiva e lagrimas descem por meu rosto. Nao pode acabar assim. Eu nao abdiquei de uma vida inteira para isso. Me lanço contra a porta diversas vezes e nada acontece. Nenhum talho na madeira. Nenhum movimento. Chuto, esmurro e tudo continua o mesmo. O fogo que senti em meu sangue se foi tao rapido quanto chegou. Me encosto na parede me sentindo esgotada. O frio do metal percorre o meu corpo me deixando ainda mais dolorida. Meu corpo se arrasta ate que estou sentada novamente no musgo. Jefferson me pega em seus braços e me deixo ir para ele em busca de conforto.
- O que vai acontecer agora?
Minha voz sai tao baixa e entrecortada, cheia de medos. Ele beija meus cabelos e quase posso ver seus olhos castanhos tao tristes quanto os meus.
- Eu nao sei, mas daremos um jeito. Lembra das palavras da sua profecia? Nas asas de fogo encontrarao a fuga. Nos acharemos uma saida.
- Eu nao sei se acredito mais nisso... não quando estamos aqui sem poderes e tendo eles longe de nos.
- Nos estamos em outro plano com anjos. Isso é motivo suficiente para voce acreditar no extraordinario. Eu acredito, Laura.
- Entao, precisamos pensar em uma saida.
- Descanse primeiro. Voce esta muito abatida.
- Como voce sabe se nao pode me ver aqui?
- Eu sinto em sua voz. - ele diz enquanto me ajuda a levantar. - Tem duas camas de ferro embutidas na parede. Vem que eu te ajudo.
Sigo seus passos por alguns segundos ate o fim da cela. Tateio a parede ate que encontro  o metal frio. A cama mal cabe uma pessoa e a apenas alguns centimetros acima fica a outra. Espero que ele suba para a sua e me deito. O frio acha seu caminho ate mim e meu corpo doi ate os ossos. Eu nao conseguiria dormir agora nem em uma cama feita de penas de gansos. Nao quando minha vida esta para acabar aqui embaixo longe do meu mundo e distante da minha mae. Uma lagrima cai sobre o metal e outras seguem o mesmo caminho.
Acordo quando ouço a porta se abrir, mas nao me levanto. Nem Jefferson que apenas se mexe desconfortavel. Um anjo entra pela porta com uma bandeja nas maos e a coloca no chao. Ele nos olha por alguns segundos parecendo duvidoso, quase como se estivesse com pena de nós.
- Desculpem por ser tao pouco. Apenas sigo ordens. Nao deixem de comer por que nao sei ate quando eles me deixarao trazer alguma coisa para voces.
Sua voz é menos melodiosa que a dos outros arqueiros e ele é um pouco mais baixo. Quando ele nos da as costas para sair o chamo.
- Como é o seu nome?
Ele para ainda em duvida, mas responde fracamente antes de a porta se fechar totalmente.
- Levi, senhorita.
Me levanto e percebo meus musculos enrijecidos e doloridos. Caminho um pouco na tentativa de me sentir mais confortavel, mas na escuridao umida e com o cheiro do ar mal posso me manter consciente. Jefferson salta da sua cama parecendo mais forte do que eu e me envolve pela cintura. Seu calor me faz me sentir um pouco mais viva e penso que se estivesse sozinha aqui talvez eu sucumbisse ao desespero.
Ele me vira como se quisesse ver meu rosto, o que é impossivel. Nos afastamos para mais perto da porta ate que a luz fraca acaricia seu rosto e posso distinguir suas feiçoes. Seu rosto esta serio e raivosa, mas quando seus olhos alcançam os meus, ele amolece. Seus labios se pressionam contra os meus e estao tao gelados que quase me afasto deles, mas a vontade que tenho dele é maior do que qualquer coisa. Sua respiracao quente percorre os meus ombros, minha clavicula enquanto ele deposita beijos aqui e ali. Eu acabo me retraindo do seu contato e ele segura minha mao firme nas suas e me da um sorriso leve.
- Vamos comer. - ele diz.
Nos sentamos no chao proximo ao unico ponto com luminosidade e investigamos a comida que nos foi dada. Um pao velho e duro e um copo de agua. Apenas isso e agora sei por que aquele anjo disse que era tao pouco. Mas o que nao me sai da cabeça, ele pediu desculpas. O unico que demonstrou alguma amabilidade conosco ate agora.
Jefferson divide o pao e me da uma das metades e percebo que ele me deu a maior. Olho para ele de maneira acusativa e parecendo advinhar da de ombros. Como vorazmente percebendo o quanto estou faminta, mas nao é o bastante para me saciar. Eu so me pergunto se teremos apenas isso por hoje. Bebo metade da agua e Jefferson praticamente arranca o copo das minhas maos e sorve ate a ultima gota e acabo rindo.
- Voce tambem achou a maneira como Levi falou estranha? Parecia que ele estava com pena de nos. - pergunto.
- Eu percebi o mesmo. Talvez possamos perguntar-lhe alguma coisa sobre a lenda. Sobre o que vinhemos procurar aqui.
- E quem sabe ele possa nos ajudar a fugir. Ele nao parece ser um mau anjo como os outros.
- Temos que esperar para ver. Talvez devessemos encurrala-lo aqui dentro e obriga-lo a falar.
- Nao! Isso so vai assusta-lo. Deixe que eu falarei com ele. Voce fique deitado fingindo dormir ou algo assim para que ele se sinta a vontade. E nao se meta.
- Ta bom, comandante!
- Nao me faça rir. Parece tao errado estando aqui dentro.
Sinto dedos acariciarem meu rosto e depois meu cabelo. Suspiro.
- Laura, so ficaremos aqui por um tempo. Tenho certeza. Nao precisa ficar sempre na defensiva. Tente relaxar, se nao como vai poder pensar com clareza?
- Eu odeio quando voce tem razao.
Ele ri e me puxa para ele. Sempre querendo me proteger e fazer com que eu veja o lado bom de tudo. O problema é que nao gosto de precisar ser lembrada disso sempre.
Nos deitamos novamente e posso ouvir o ressoar da respiracao dele enquanto dorme. Eu apenas me viro sobre o metal nao encontrando nenhuma mandira dd relaxar. Penso em Marcelo e em Leandro que devem estar ainda piores do que nos e ainda mais confusos. Sem seus poderes, contando apenas com seu lado humano. Me sinto triste e culpada por ter sido tao fraca e nao te-los ajudado. Por ter sido domada tao facilmente. Eu deveria ter sido capaz de nos colocar para fora se apenas eu ainda fiquei com algum poder. Eu poderia...
Antes que possa terminar meu pensamento a porta é escancarada. Nao sei se ainda é dia ou noite. Talvez o tempo aqui nao passe da mesma maneira que no nosso plano. Me ponho de pé e algo me chama atençao no anjo parado na porta. Seus olhos sao verdes luminosos. Brilham com chamas que parecem poderosas e me sinto quase ipnotizada por eles. Entao, percebo que se trata de Levi quando ele se aproxima mais.
- Veio trazer algum recado dos seus mestres? - pergunto de maneira seca tentando nao demonstrar o quanto estou abalada e fraca.
- Nao. Eu vim conversar com voce. Mas tenho que see breve.
Ele encara as maos que se mexem por cima uma da outra parecendo nervoso e assustado.
- Pode falar. - digo me aproximando devagar dele ate que paro em sua frente.
- Eu tive um... Como voces chamam? Sim, um sonho. Com voces. Nunca tive um antes e creio que nenhum anjo os tenha. E parecia tao... real.
- Diga logo o que viu.
Quando seus olhos encontram os meus posso ver uma faisca de terror passar por eles.
- Eu ouvia voce gritar meu nome varias vezes aqui da cela com um grito aterrorizado. Eu estava la no grande salao e podia ouvir tao claramente sua voz como se estivesse dentro da minha mente. Os outros anjos pareciam nao ouvir aquilo. Eu tentava afastar seus gritos, mas  nao conseguia. Quando pensei estar quase para enlouquecer, desci pelo alçapao. Voce ainda estava chamando pelo meu nome e quando ouviu meus passos pareceu ficar animada. Quando abri a porta da cela para ver o que tinha acontecido, voce estava parada como uma estatua me olhando firme nos olhos e entao eu vi... na sua testa...
Ele se silencia de repente parecendo abalado demais para continuar e sinto meu coracao retumbando dentro de mim, o fogo percorrendo minhas veias.
- Diga o que voce viu!
- O selo dos anjos arqueiros gravado na sua testa. Tao vivo quanto o fogo selvagem da fonte espiritual.

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