sábado, 26 de abril de 2014

[Overrun: A Lenda dos Sete] Mais do Capitulo 20

Ela retira seu peso de cima de mim e meus pulmoes queimam quando encontram o ar. Tento me sentar enquanto vejo Konoch parada ao meu lado me olhando curiosa. Quando me ergo alguns centimetros a tontura me lança de volta ao chao. Porque ela nao me matou? Poderia ter feito isso facilmente. Me inclino ficando de lado enquanto aos poucos começo a me recuperar. Olho direto nos olhos dourados de Konoch e ela vira a cabeça de lado me evitando. Ela se vira preguiçosamente de costas e entao eu vejo uma cela de couro ao redor de suas asas que nao estava la antes. Ela vira a cabeça para tras e seu olhar parece urgente e se voltando para o ceu e de novo para mim como se quisesse me avisar que esta tarde. Como se quisesse que eu montasse nela logo depois de ela tentar me matar. Como se quisesse salvar meus amigos tanto quanto eu.
Me levanto com dificuldade sentindo minhas pernas estremecerem. Vou em direcao ao ninho, mas paro na borda me sentindo fraca demais para pular para dentro.
- Eu nao consigo. Voce pode pegar para mim?
Nao sei se ela me entende, mas abre as asas e aterrisa dentro do ninho e pega o pedaço de amuleto com o bico. Pousa ao meu lado e o joga em minhas maos. Sem tempo para olhar para ele o lanço mecanicamente na aljava. Mas nao existe aljava em minhas costas. Melhor, ela estava la para minha surpresa. Coloco minha mao para dentro e sinto o Stin. Olho para Konoch espantada, mas ela nao se importa comigo. Esta olhando para o ceu, os olhos assustados como se visse algum tipo de monstro.
- Hey, podemos ir agora? Eu pensei em ir voando por mim mesma, mas... so se voce hãm... permitir.
Me sinto estranha falando com um animal. Nao, com um ser mitilogico que so deveria existir em estorias de ficcao. Konoch abre as asas agitando-as no ar como se estivesse impaciente por eu ainda nao estar montada nela. Dou de ombros e segurando em suas penas me puxo para suas costas a alguns metros do chao. Coloco meus pes no descanso da sela e seguro firme nela. Quando Konoch alça voo sinto algo dentro de mim estalar como se minha alma estivesse sendo conectada a alguma coisa. Entao sinto uma força se espalhar pelo meu corpo e entendo. Enquanto as estrelas brilham acima de nossas cabeças e pairamos levemente pela copa das arvores e vamos em direcao ao horizonte de Konden, eu sinto minha alma conectada a de Konoch. Como se eu nao sentisse o meu corpo e sim o dela. Me sinto plena e com as minhas asas agitandosse ao vento me permito sorrir abertamente. Acaricio o pescoço de Konoch enquanto brilhamos as duas nos misturando ao ceu noturno.
Depois de alguns minutos, um som como de estatica começa a me encomodar e olho para tras, mas nao vejo nada alem da cidade ao longe imersa na escuridao. Quando entramos no deserto o som aumenta parecendo mais proximo. O de... mil asas batendo como no dia que chegamos em Konden e fomos recebidos pelos Ronais. Olho novamente para tras e vejo um brilho prateado no meio da escuridao quase camuflado e entao vejo o brilho das asas tao intensos aos milhares.
- Mandaram um exercito atras de nos, Konoch! Nao podemos deixa-los chegar ate o portal.
Algo dentro de mim me da essa certeza. Que se eles chegarem ate la nos nunca sairemos daqui. Estaremos selados aqui para sempre.
Konoch faz um giro nos voltando para tras e paramos esperando por eles que ainda estao longe. Nao sei o que podemos fazer para ganhar deles. Somos duas e eles mal posso contar. Sinto algo coçar dentro da minha mente quando começo a distinguir uma voz dentro da minha cabeça. Tao audivel e pessoal como um pensamento meu.
- Eu avisei, Marcelo. Ele e Jefferson estao vindo para ca agora. - Konoch diz calmamente.
- O que faremos? Eles sao muitos. Podem nos matar com muita facilidade.
- Menina, depois de lutar comigo e perder, voce acha que eles tampouco tem chance contra mim? Voce nao perdeu por ser fraca, mas por que ninguem pode me subjugar. Posso mata-los facilmente. Mesmo que todos os Ronais estivessem aqui eu ainda poderia.
A voz melodiosa de Konoch parece tao poderosa dentro de mim e nas suas ultimas palavras posso sentir todo a força que ela tem e acredito em cada uma delas.
- Com voce aqui comigo nada dara errado, crianca. Nao se subestime. Esqueceu da sua profecia?
- Nao. Eles estao se aproximando agora. Espero que voce tenha razao.
- Vera que eu tenho. Seus amigos estao logo atras.
Me viro e fito o horizonte. A lua esta cheia e deixa o deserto com uma cor quase prateada. Montanhas podem ser vistas no fundo negro a distancia quase imperceptiveis. Uma lufada de ar me alcança quando vejo Jefferson com as asas brilhantes esticadas em seu explendor, vindo rapido em minha direcao como se estivesse desesperado. Me desato das costas de Konoch e me jogo para o ar quase inconsciente das minhas asas me mantendo erguida no ar, do som alto de asas rasgando furiosamente o ceu em minha direcao. So tenho consciencia dos braços de Jefferson quando ele me toca repentinamente nos lançando para tras. Mas nao me importo com a ameaça iminente, com o que me espera depois do portal. Quando meus labios encontram os dele em uma confusao furiosa como se quisessem penetrar minha alma nada mais importa. So a presença dele no meu destino importa.
Ele me afasta nao tirando seus braçoa de mim ansioso por nao se afastar. Seus olhos dourados tao aflitos e animados por me verem.
- Laura, eu pensei que o pior tivesse acontecido com voce. A sua demora quase me deixou louco.
- Posso comprovar, Laura. Ele nao parava de andar de um lado para o outro. Tive quase que socar-lhe a cara para nao vir atras de voce. - Marcelo diz enquanto me abraça.
- Nao podemos falar agora. Os Ronais...
- Oh! Eles vieram mesmo atras de nos. So esperavam voce e Konoch sairem da toca - Jefferson diz serio.
Olho para frente, os Ronais desacelerando a poucos metros a nossa frente. Conto vinte deles,mas jurava que eram muitos mais. O som das asas faz parecer um exercito. Mas quando passo a vista por cada um deles com seus arcos apontando diretamente para nos, seus rostos cobertos, o brilho de diamante em suas asas, nao consigo nao deixar de me sentir desconfortavel. Me posiciono ao lado de Konoch e Jefferson e Marcelo ao meu lado. Na linha de frente dos Ronais percebo um dos anciaos, Nereu. Ele retira o capacete e o entrega para um dos Ronais ao seu lado. Seu rosto tem uma forma dura, nem aparenta ser velho e nem jovem. O anciao do meio. Ele lança seu olhar para Konoch que esta brilhando levemente, contendo sua energia. O rosto de Nereu se contorce em uma expressao de espanto, mas logo volta a seriedade tao comum aos Ronais. Ele segura uma espada de prata nas maos tao longa que poderia ser uma especie de lança. Ele paira no ar em nossa direcao vagarosamente e para a uma distancia quase segura para ele e descansa seu olhar sobre mim.
- Nao poderiamos deixar-lhes ir sem darmos uma despida a altura de voces. Quem seriamos se deixassemos nossa pequena Overrun sair de nosso reino sem darmos um adeus?
Sua voz parece doce e ao mesmo tempo sarcastica. Cheia de ironia.
Jefferson se contorce impaciente ao meu lado.
- O que voces fizeram a Leandro? E aos outros? - ele pergunta raivoso.
- Nada menos do que mereceram. Mas nao viemos aqui para falar deles e sim de voces. Nao posso deixar que levem nossa maior... preciosidade. Nossa cidade cairia na escuridao eterna. Voces nao concordam comigo? - ele diz rindo e apontando para Konoch.
Olho para ela ao meu lado que esta tao quieta que parece quase que esta dormindo. Ela olha para mim pelo canto do olho por um segundo e sinto as palavras se formando em minha consciencia.
- Eu posso atrasa-los para que voces passem pelo portal.
- Konoch, ele disse que voce viria conosco. Nao podemos deixa-la para tras.
Ela volta seu olhar novamente para mim. Curiosa.
- Voce acha que eles merecem viver na escuridao eterna, crianca?
- Eles escolheram deixar de lado o destino dele. Escolheram nao nos ajudar. Isso nao é o bastante para voce saber o que fazer?
- Boa resposta, filha. Entao, suba em minhas costas para mostrarmos a eles a consequencia dos seus atos.
Sem parar para pensar voo e me assento nas costas de Konoch. Olho diretamente para Nereu que parece um pouco entediado pela nossa falta de interesse em suas palavras. Ergo minha espada dourada mesmo sabendo que nao posso mais do que machuca-los. Ela nao mata anjos que é o que gostaria de fazer.
- Nereu, eu nao me importo se voce preferiu o mal caminho. Nao me importo se voce quer escolher o seu proprio destino. Mas eu me importo se voce quer acabar com o meu e o dos meus amigos. Farei voce se arrepender pelo que fez a Leandro, Hans, Jean e Levi. Por eles machucarei voce e deixarei todos voces imerso na escuridao como desejam. Hoje é o dia da vingança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário