sábado, 5 de abril de 2014

[Overrun: A Lenda dos Sete] Final do Capítulo 17

Os dias se passam tão rapidos quanto chuva no verao e logo a semana termina. A harmonia entre nós é quase palpavel e ja nao consigo lembrar de antes sem ver as lembranças borradas como de um pesadelo. Ela voltou a trabalhar sem nenhum problema e ninguem pareceu estranhar sua ausencia por esses longos dois meses. Magica de Bianca. E falando nela, ela e minha mae estao se dando super bem. Mesmo que ela nao saiba que Bianca é um anjo disfarçado. Elas nao se desgrudam o que é lindo de ver.
Todos esses dias nao parei de pensar em Jefferson por um instante. Apenas quando minha mae começou a me questionar o porque de eu nao ir a escola. Tentei dar a ela varias desculpas como, Ainda preciso cuidar da senhora, mas ela nao acreditou de todo. Se ela for ate a escola estou em apuros. Nao posso chegar e dizer: Mae, sou uma Overrun, uma protetora do mundo mortal e espiritual. Agora vou ter que sair em uma jornada totalmente desconhecida para salvar o mundo, mas fique tranquila. Nao se pode dizer uma coisa assim. Porem, antes que fosse tarde uma carta salvadora chegou para mudar tudo. A carta que nos separou e que marcou meu caminho para sempre.
No ultimo dia da semana quando estavamos sentadas na sala conversando sobre o livro que ela havia me dado e que eu tinha conseguido finalmente acabar de ler, o carteiro bateu em nossa porta. Ela parou no meio da sala com uma ruga se formando entre as sombrancelhas enquanto lia a carta. De repente, ela pareceu confusa, meio alegre e meio triste.
- Uma carta do dono da livraria me dizendo que vao me mandar para outra filial em outra... cidade. Isso é tao estranho e inesperado.
- É uma coisa boa tambem,mae. Talvez eles aumentem seu salario e isso mostra que eles confiam em voce.
- Talvez seja isso. Mas como voce vai ficar? Seus estudos? Teriamos que mudar para la as pressas, arrumar uma casa e uma escola nova para voce. Nao sei se estou preparada.
- Mae, eu nao posso sair daqui. Mas a senhora pode ir... sozinha.
As palavras me suficam e ela me da um olhar assustado, magoado.
- Voce quer ficar aqui sozinha? Mas, eu pensei...
- Nao é isso. Eu nao quero deixar a escola ou...
- O seu namorado? Estou entendendo. Voce realmente me trocaria por ele?
- Mae, nao comece a complicar. Eu so nao posso ir e nao posso explicar todos os motivos. Mas é importante para mim e isso é importante para senhora! Lembra que um dia voce me contou que gostaria de trabalhar em outro lugar com um salario melhor? Essa é sua oportunidade.
Ela me olha com seus olhos castanhos inquietos analisando minhas palavras. Suspira e abaixa os ombros convencida.
- Mas, voce ficaria aqui sozinha? Filha, voce ainda é tao nova! E logo agora que nos fizemos as pazes.
- Eu ligarei sempre e quando der a senhora vem me visitar. E nao estarei sozinha. Nao tenha medo, mae. Eu estou mais preparada do que a senhora imagina.
- E se eu nao estiver preparada?
- Mae...
Ela se senta enquanto relê a carta varias e varias vezes. Me mantenho firme para nao desabar e nao demonstrar o quanto isso doi em mim ou ela nao iria.
- Vou conversar com eles melhor. Saber o que esta incluso nessa proposta. Mesmo que eu ainda ache que isso nao é certo. O que os vizinhos vao dizer de uma mae que abandona uma filha de 16 anos sozinha para cuidar da sua vida?
- Eu nao me importo com eles e nem voce deveria.
- Vou ligar para eles.
Depois de muita insistencia da minha parte e do chefe dela, minha mae resolveu ir na semana seguinte. Ela estava sorridente, mas sempre que olhava para mim parecia querer reconsiderar a ideia. Meu coracao ficava aflito em qualquer momento, apertado dentro de si. Eu nao queria que ela fosse. Eu gostaria de poder ter a chance de desistir do mundo, mas nao posso quando sei que sou parte essencial em um plano maior. Eu nao a estaria ajudando e nem a mim.
Quando fui deixa-la no aeroporto, meu coracao ficou ainda menor. Me senti tao fragil e o peso da minha idade caiu sobre mim. Eu queria apenas ter uma mae e uma vida segura. Bianca havia ido no dia anterior em uma dobra de viagem e foi tao dificil dizer adeus como sera agora. Ainda posso ouvir cada uma das suas palavras em meus ouvidos.
- Vai ficar tudo bem, Laura. Eu estarei ao lado dela sempre. Eu prometo a voce.
- Eu nao duvido. Eu so queria te-la perto de mim. Eu juro que nao sei porque fui escolhida para ser uma Overrun. Me sinto tao fraca.
- Ele nao escolhe os fortes e que ja sabem seu caminho. Ele chama aqueles que estao perdidos, Laura. Mas voce ira achar seu caminho no rumo das coisas. Te desejo toda sorte do mundo. Confio em voce!
Ela se transformou diante dos meus olhos ofuscados pela luz dourada que vinha dela. Sua aparencia mudou para a de uma mulher adulta, mas seus cabelos e olhos ainda eram os mesmos. Tao pretos quanto o ceu sem estrelas. Nos abraçamos por alguns segundos e ela se foi em uma nevoa me deixando sozinha para pensar.
O silencio nos envolve enquanto esperamos o voo dela ser anunciado. Quando ouvimos a voz de uma mulher chamando os passageiros para o embarque em cinco minutos nos desfazemos do nosso torpor. Pego suas maos entre as minhas e olho em seus olhos opacos com tristeza.
- Eu ainda posso desistir, Laura. Eu ainda nao acho certo.
Acaricio seu rosto e tento capturar o maior numero de detalhes que posso dele. Talvez eu nao a veja mais.
- Esse é o seu caminho, mae. Vice sempre quis. Seria injusto. Ficarei bem. Vou te ligar todos os dias. Prometo.
- Voce creceu tanto! Quase nao posso mais te comparar com a Laura de antes. Voce nunca mais foi aquele lugar?
- Nao. Eu nao preciso mais.
Nos abraçamos e deixo que as lagrimas se vao. Que deixem toda a dor,a saudade e as palavras que nao podem ser ditas irem. Ela me afasta, ajeita meu cabelo e beija o topo de minha testa. Entao, se afasta e a acompanho com o olhar. Ela da um tchau com a mao e se vira. Os passos relutantes e por fim apressados ate que a perco de vista. Olho para o chao e uma lagrima cai sobre ele.
Sinto um aperto sobre meu ombro e me viro assustada. Focalizo Jefferson que sorri amavelmente para mim e me atiro em seus braços. Ele me abraça tao forte quase como se unidos fossemos apenas um. Me afasto por um instante querendo encontrar seus olhos castanhos cheios de compreensao.
- Laura, chegou a hora de conhecer o seu destino. E eu quero que saiba que mesmo eu nao fazendo parte dele, eu escreverei uma estoria paralela com voce. Eu nunca sairei de perto de voce e nessa sua jornada estarei la tambem.
- Eu nunca iria sem voce. Voce sabe. Principalmente, agora que me sinto tao sozinha.
- Nao diga isso. Nao quando eu estou bem aqui do seu lado.
Nao consigo desviar meus olhos dele como se ele fosse um ima. E eu nunca poderia me afastar sendo assim.
- Com voce aqui ja nao me sinto mais assim. Eu me envergonho do dia em que eu fugia de casa para esquecer dos problemas. Eu nao quero esquecer quem eu sou agora. Quero enfrentar meus problemas.
- Eu vou te ajudar. Estarei do seu lado nessa batalha. Somos especiais ja te disse. - ele diz tentando fazer humor.
Nos damos as maos e olho por sobre o ombro uma ultima vez para o corredor onde vi minha mae pela ultima vez. Eu farei as minhas escolhas valerem a pena. Encontrarei meu caminho e farei o meu destino seguir o rumo das coisas.

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