segunda-feira, 21 de abril de 2014

[Overrun: A Lenda dos Sete] Continuacao do Capitulo 20

Pego o Stin que havia guardado dentro da aljava de flechas as minhas costas. Clico no botao com a letra E  e a espada dourada aparece mais longa do que de costume. Vejo meu reflexo na lamina e nao se parece em nada comigo. Metade do rosto coberto pelo capacete branco, os olhos que demonstram medo sao a unica coisa que me lembram de mim mesma. A boca reta inexpressiva, o cabelo em um rabo de cavalo que me deixa quase selvagem. Desço a espada para baixo, para longe do meu reflexo. Em minha frente estao Marcelo e Jefferson. Os dois parecem confiantes e sorriem para mim. Parecem ter certeza de quem sou e do que posso fazer. Eu nao.
- Laura, lembre-se da lenda. Ela é o seu guia. E nao tenha medo de Konoch, pois ela é sua parceira de agora em diante. E o mais importante; nao esqueça da metade do amuleto.
- Quando eu tiver acabado devo traze-la para ca?
Se eu conseguir faze-la cooperar, penso.
- Nao. Estaremos esperando por voce alem do deserto. Basta deixar que ela te leve ate o portal. Estaremos la.
- E os outros? Onde esta Leandro?
- Eles se entregaram aos anciaos, Laura. Eles nao podem sair de Konden. Estao selados. Cada um tem seu proprio destino. Nao se preocupe com o deles.
Jefferson se aproxima de mim e pega minha mao livre levando ela aos labios onde deposita um beijo suave. Ele abaixa minha mao ainda na sua e quando esta prestes a solta-la decide nao faze-lo e me puxa para ele ja nao parecendo mais tao ferido.
- Estarei torcendo por voce, Laura. Ficarei aguardando voce no portal. - ele sussurra em meu ouvido. - Acabe com isso rapido.
- Tentarei.
Nos soltamos relutantes e dou alguns passos para longe.
- Laura, o ninho de Konoch fica a alguns metros daqui. Espere pela sua volta e nao toque em nada ate te-la domado.
- Tudo bem. Me lembrarei disso.
Olho por uma ultima vez para meus dois anjos. Antes que uma lagrima desça por meu rosto e eu pense em desistir ando para fora tropeçando em meus proprios pes. Entro na floresta de pinheiros e sigo para a esquerda em direcao ao ninho como Marcelo me instruiu. As sombras das arvores me assustam e ja esta ficando cada minuto mais escuro. Balanço a espada a minha frente cortando cipos e galhos que aparecem no caminho. O espaço é tao pequeno entre uma arvore e outra que mantenho as asas retesadas. A unica coisa que nao posso guardar sao meus pensamentos. Nao consigo deixar de me culpar por Levi e os outros que solenemente nos ajudaram a escapar e que agora podem estar mortos por minha causa. Ainda posso sentir os olhos verdes confiantes de Levi me analisando como na primeira vez que me viu. Quando assustado me contou sobre o seu sonho e que iria nos ajudar a fugir. Derramo uma lagrima por cada um deles em cada passo. Por suas vidas que nao podem ser desperdiçadas sem que eu lute ate o meu ultimo folego. Por cada um deles eu juro que brandirei minha espada sobre cada demonio que passar pelo meu caminho. Por eles eu prometo que irei tentar ser forte independente do que aconteça.
Caminho mais rapido consciente que o final do dia se aproxima e Konoch voltara para seu ninho onde ja devo estar esperando por ela. Depois de mais alguns metros, consigo vislumbrar algo grande de um amarelo queimado. Deve ser o ninho. Corro para alcança-lo quando de repente tenho a sensacao de uma presença, de algo vindo em minha direcao. Tropeço para fora da floresta em uma grande parte descoberta onde ainda podesse ver metade de troncos ainda inficados no solo. No meio do circulo, um enorme ninho que parece ter sido tecido com fios de cobre guarda tres grandes ovos dourados. Me aproximo devagar para olhar mais de perto. Toco a beirada lisa do ninho e olho para dentro procurando pelo amuleto e o avisto entre os ovos. Um pedaço de pedra cinza escura de tamanho medio. Ergo minha mao para dentro tentando toca-lo, mas nao chego nem perto. Quando tento pular para dentro ouço um som estridente tao alto quanto um trovao. Konoch.
Minhas asas se abrem estantaneamente e olho para o ceu e nao vejo nenhum sinal dela. Me coloco em voo percebendo que estou em má posicao. Facilmente seria encurralada por ela, entao voo em desparada para o ceu. Retiro o capacete e o jogo em direcao a clareira para que ela possa ver que nao sou um dos Ronais. Meus olhos ardem desacostumados com a luz intensa e os cubro com o antebraço. Antes que consiga focar alguma coisa um borrao cinza se joga contra mim em uma velocidade extraordinaria me arremeçando varios metros a frente. Estico minhas asas e as obrigo a baterem desacelerando o voo. Olho para a direcao para onde Konoch foi e entao a vejo. Parada a poucos metros de mim esta a maior aguia que eu ja vi na vida. Suas asas tao grandes como as de um dragao e reluzem como se fossem feitas do proprio sol e ainda assim nao ferem meus olhos. Seus olhos dourados me analisam enquanto ela solta mais um de seus grasnados ensurdecedores. Suas patas terminando em garras prateadas tao grandes quanto um dos meus braços. Suas asas batem como de beija-flores e quase parece que ela esta simpleamente parada com as asas erguidas. Esperando por uma atitude da minha parte.
Me engasgo com minha propria saliva e as palavras me fogem por que estou diante do que seria um raio da propria gloria. Logo eu percebo o meu tamanho comparado ao dela. Como eu posso domar algo tao magestoso e selvagem? Diante dela percebo toda a sua capacidade para ordenar o amanhecer e o entardecer. Os raios do sol a seguem ou fogem dela com apenas um vislumbre. Depois de varios minutos constrangedores em que apenas olhamos uma para outra, ela começa a ficar mais agitada balançando de um lado para o outro e se lançando um pouco para frente tentando me atiçar.
- Konoch... - minha voz sai tao estrangulada que nao a reconheço. - nos poderiamos resolver isso apenas com uma conversa? Imagino que voce saiba o que eu vim fazer aqui.
Ela abre o imenso bico afiado e solta uma especie de rugido nada caracteristico da sua especie. Estou apenas deixando ela raivosa. Nao vou conseguir nada sem uma luta.
- Tudo bem. Voce quem sabe.
Puxo a espada para cima de maneira defensiva e corto o ar a minha frente algumas vezes chamando-a para a batalha. Ela se lança para a frente com as garras erguidas em minha direcao, seus olhos focados em mim com uma determinacao gigantesca. Voo para ela e minha espada se choca contra as garras de ferro e faiscas se formam com o choque.Meu braço volta para mim com força e a espada se choca contra meu rosto deixando um talho em minha testa. Konoch me atinge com uma de suas asas aproveitando meu espanto e sou jogada para baixo. O golpe tirou o ar dos meus pulmoes e enquanto caio em direcao ao topo das arvores vejo Konoch vindo para mim. Obrigo as asas a me forçarem de volta para cima e ergo novamente a espada. Dessa vez miro a cabeça da ave com um desejo muito grande de mata-la. Espero o momento certo e corto o ar a frente com a espada com toda minha força.
Entao, algo a pega antes que chegue a garganta de Konoch. Ela segurou a espada com seu bico e puxa-a para si com força a retirando de minhas maos e a parte ao meio. Desvencilho o arco das minhas costas e antes que consiga colocar uma flecha nele um vento descomunal me atinge e sou lançada para a clareira logo a baixo. Caio no chao afundando no barro ao lado do ninho. Meu corpo doi em varios pontos e a pontos pretos aparecem em minha visao. É o fim. Mas nao deveria ser assim... Garras atingem meu peito forçando a minha armadura e afundo ainda mais na terra. Procuro pelo ar enquanto Konoch tenta me esmagar aos poucos. Lembro da adaga que esta na aljava de flechas as minhas costas, mas quando levo meu braço para tras Konoch percebe meu plano e com o bico arranca a aljava do meu corpo e a lança para longe. Começo a sentir enjoo, tonturas e o suor frio. Acabe comigo. Por favor qualquer coisa menos essa agonia, penso. Entao, acontece algo que eu nao esperaria. Ela abaixa sua cabeça gigante proximo ao meu rosto e vendo as lagrimaa descerem por meu rosto algo muda em seu olhar. Quase parece que ela esta... com pena de mim.

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