terça-feira, 15 de abril de 2014

[Overrun: A Lenda dos Sete] Final do Capitulo 19

Meu cabelo se alongou e esta quase na altura da cintura. Ainda permanece da mesma cor e em um rabo de cavalo que o faz parecer uma cascata por conta das ondas dele. Retiro o capacete e usando-o como espelho vejo meu reflexo nele. Os olhos dourados me assustam e posso ver dentro deles o poder se agitar borbulhante como lava. Estou mais alta e com o mesmo traje dos arqueiros. Me dou conta de algo sibilando as minhas costas e entao as vejo. Tao cristalinas como se fossem feitas de diamantes brilhando em diversas cores. As penas parecem cortar como facas, mas ao passar minhas maos por elas sao tao macias como se parecem as nuvens.
- Agora que estamos prontos devemos ir. - Hans murmura.
- Mas, eu chamaria muita atencao. Nao existem arqueiras aqui. Existem? - pergunto.
- Talvez eles pensem que voce é a amazona da lenda. A domadora de Konoch.
- Voces tem lendas aqui?
- Sim. Mas nao a tempo para explicar. Devemos ir agora. O amanhecer esta chegando.
Jefferson pega uma de minhas maos entre as suas e me viro para ele o abraçando de surpresa. Como em um instinto, nossas asas se fecham ao nosso redor parecendo quererem se unir tambem. E antes de nos separarmos, ainda cobertos por elas, nos beijamos para ter certeza que nao é apenas um sonho. Uma certeza antes da batalha.
Hans e Jean abrem suas asas e pairam levemente perto do alçapao dando uma ultima olhada em nos. Minhas asas se desenrolam tao poderosas como membros que sempre existiram ali. Pelo canto dos olhos vejo Marcelo e Leandro se agacharem se metamorfoseando em duas aguias-luz, filhotes de Konoch. Antes que eu tenha tempo para pensar estamos voando pelo tunel do alçapao em busca da nossa liberdade. Saimos no grande salao que esta escuro e solitario. Sinto meus pulmoes sendo limpos pelo ar puro do lugar. Pousamos perto dos portoes da fortaleza enquanto Hans os abre. A paisagem alem do penhasco de Koden é exuberante. Um deserto circunda todo o desfiladeiro e na cratera onde a cidade foi colocada os pinheiros tao colados uns aos outros parecem querer esconder algo grande. A pequena cidade reluz quando os raios solares incidem sobre ela. O metal espelhado faz com que ela pareça ainda mais gloriosa.
Me assusto quando um arco surge em uma das minhas maos e uma aljava com flechas as minhas costas. O mesmo acontece com os outros que parecem abituados a esse fato. Quando os portoes estao totalmente abertos pulamos para o chao de terra e nos jogamos do penhasco pairando sobre o topo dos pinheiros, procurando por algum sinal de Konoch.
- Para onde estamos indo exatamente? - pergunto alto o bastante para ser ouvida por cima do som em meus ouvidos.
- Para uma caverna. Fica proxima ao ninho de Konoch. - Hans responde.
- Mas la nao é onde eles irao nos procurar primeiro? - Jefferson indaga.
- Nenhum arqueiro se atreveria a chegar tao perto de Konoch. Ela não é exatamente amigavel.
- E o pedaço do amuleto fica no ninho dela? - pergunto.
- Provavelmente. Ela é a guardiã, mas quando voce provar seu valor domando-a e montando sobre ela tera acesso a ele.
Suas palavras soam tao simples como se ele estivesse falando sobre montar a cavalo. Eles acreditam que eu seja a amazona da lenda, mas como posso ser quando nao tive forças de me libertar dos arqueiros? Como posso domar uma fera lendaria que carrega o amanhecer sobre ela? Suspiro e sinto um bolo na garganta que parece me sufocar. Nenhum arqueiro se atreveu a toca-la e eu serei a primeira a tentar e espero nao fracassar e decepciona-los. Espero nao morrer.
Depois de darmos a volta pela cidade vamos para uma parte da floresta ainda mais fechada. No ponto onde se pode ver o por do sol mais nitido descemos encostados ao paredao e ja podemos vislumbrar a boca da caverna. A floresta fica um pouco recoada do paredao e pousamos em uma faixa de terra. Dois guardioes, dois anjos protetores, um faz-tudo e dois falsos anjos. Um time e tanto para a caçada. Entramos na caverna e apenas uma parte recebe a claridade do dia. Aperto os olhos e nem com a aguçada visao de arqueira posso ver o fim dele e engulo em seco.
- Para onde isso vai? Parece um tunel. - pergunto. Minha voz ecoando pelo lugar.
- Melhor nao saber. Eu nunca entrei aqui antes. Apenas sabia do lugar e ja tinha sobrevoado por essa area. - Hans responde.
- E se ela vier dai em algum momento?
- Entao, voce tera que estar pronta.
Olho para os outros em busca de distraçao e tento nao pensar que a escuridao as minhas costas pode esta escondendo Konoch. Leandro e Marcelo ja voltaram a sua forma humana e conversam acalorosamente com Hans e Jean. Jefferson e Levi tambem conversam e me junto a eles na entrada da caverna.
- Nao levantaria mais suspeitas Hans e Jean ficarem aqui?
- Eles vao saber que eles ajudaram voces ou alguem teria os reconhecido na cidade ou sentido o poder emanar deles. - Levi responde parecendo triste.
- Levi, voces sabem que terao que ir com a gente nao sabem?
- Sei. Mas nao é o que quero. Eu sinto que eu tenho um dever aqui e ele nao é apenas ajudar voces.
- Mas nao podemos deixa-lo para tras. - Jefferson fala.
- Nao é escolha de voces e eu nao ficarei so. Um de voces ficara comigo.
- Como assim? Quem?
- Leandro. Ele tem pendencias com os ancioes. Esta selado aqui dentro e poder nenhum poderia tira-lo daqui agora.
- Que tipo de pendencias? - Jefferson pergunta nervoso. - Ele é meu anjo. Eu teria que ficar aqui com ele.
- Talvez so voces dois estejam destinados a partirem nessa jornada.
- Eu nao posso deixa-lo! Voce nao entende.
Jefferson arranca o capacete da cabeça e sua expressao parece confusa.
- Ele deveria ter me contado isso. Como ele me esconde uma coisa dessas?!
- Calma, Jefferson! Eu sei que voce nao quer deixa-lo e vamos esclarecer isso com ele agora.
Ele me da as costas nervoso e o sigo para a escuridao onde Leandro, Marcelo, Hans e Jean estao reunidos em um circulo. Jefferson empurra Leandro que apenas da um passo para tras e sua expressao nao esta de choque como seria o esperado. Esta triste.
- Porque voce nao me contou?! Tenho certeza que voce sabia que viriamos para cá e que quando botasse seus pes aqui nao poderia sair. - Jefferson diz apontando freneticamente para ele.
Leandro fica em silencio parecendo procurar as palavras certas ate que sua expressao se torna seria.
- Eu nao podia te contar e eu pensei que eles me perdoariam. - Leandro fala. - Voce pode ir sem mim agora que esta assim. E eu nao pensei que fosse problema.
- Como voce acha que eu vou sair daqui sem voce? Eu so tenho poder por sua causa. Isso pode se encerrar fora daqui e como eu vou ficar? A Laura tem a Marcelo, mas eu seria um atraso para eles.
Jefferson passa as maos pelos cabelos parecendo desolado. Suas asas se abrem e abanam desordenadamente para todos os lados. Me aproximo dele e coloco minha mao em seu ombro. Ele olha para mim com olhos lacrimejantes e tento parecer como se essa situacao nao fosse nada. Como se eu pudesse protege-lo.
- Se ele fez algo para eles, ele tem que pagar. - digo. - Voce nao pode fazer nada e nem ele a nao ser ficar aqui. Voce tem a mim e a Marcelo e agora voce é um arqueiro. Quem sabe...
Ele vira o rosto para longe e arranca seu corpo de perto do meu. Os passos fortes e decididos, as asas longamente abertas e entao ele se foi deixando um rastro de poeira.

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