sexta-feira, 4 de abril de 2014

[Overrun: A Lenda dos Sete] Mais do Capítulo 17

Depois de duas longas semanas de reabilitação nos quais minha mãe praticamente precisou reaprender a andar, a médica nos chamou para uma conversa em seu consultorio.
- Bem, já faz mais de um mês que a senhora está internada conosco e apresentou uma melhora significativa em muito pouco tempo considerando o estado em que se encontrava quando adentrou na clínica. Com isso ja posso dar sua alta. Entretanto terá que seguir algumas instruçoes que lhe passarei.
Ela começa a escrever em um bloco o nome de varios remedios com os horarios e dias para tomar cada um e vai explicando tudo para nós. Eu mal posso ouvir as palavras dela com meus pensamentos chamando minha atençao. Nunca imaginei o quanto seria bom te-la aqui comigo inteiramente. Nos nunca fomos proximas e isso é mais do que eu ja pensei em ter. Todos esses dias que passei do lado dela parecem tao novos como se eu estivesse sendo apresentada a ela agora. Nos conversamos abertamente, rimos e ate nos abraçamos algumas vezes. Sempre que eu pensava nela a dor sempre estava la mascarando e colocando qualquer outro sentimento de lado.
So agora eu vejo que tudo que eu diz foi destruir ainda mais a nossa relacao. Quando finalmente ela teve coragem de colocar meu pai para fora de nossas vidas nós nos fechamos dentro de nos mesmas e o maximo que faziamos era discutir uma com a outra. Alfinetando sempre que possivel, machucando-nos cada vez mais. Entao, eu senti a necessidade de fugir de tudo aquilo e o que eu mais desejava era ter outra vida. Mas agora olhando para ela aqui do meu lado depois de tudo isso pelo que ela e eu passamos, por tudo aquilo que eu descobri que eu sou, entao eu nao posso deixar de ama-la. De querer abraça-la e protege-la. O amor fez uma mudança muito grande na minha alma desde que eu o descobri. Eu percebi que o que me faltava para ver isso era me sentir amada. Para dar amor temos que ter amor em nossa vida  e isso eu definitivamente nao tinha antes.
Minha mae levanta cumprimentando a doutora e eu me afasto dos meus devaneios. Amanha poderemos voltar para casa. Bianca se ofereceu para ir ate la arrumar a bagunça em que ela ficou depois da passagem dos Damns para minha mae nao estranhar. Ainda nao consigo me conformar que agora que eu a tenho comigo terei que deixa-la ir para longe. Doi mais do que eu pensei que chegaria a doer um dia. Eu so posso dar o meu melhor como Overrun para nada disso ser em vão. Para nenhuma das minhas escolhas me causar remorso depois.
Eu irei passar alguns dias sozinha com ela em nossa casa - nao totalmente sozinha ja que Bianca ficara como um gato nos vigiando. O restante do grupo vai ficar na casa de Jefferson me aguardando. Eu pude ver a tristeza nos olhos do meu anjo e do meu namorado com isso. Marcelo parece esta totalmente ligado a mim e senti como se precisasse me vigiar a todo instante e Jefferson me ama de uma maneira como eu pensei que alguem nunca me amaria.
                         
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Me dispesso secretamente dos meus amigos antes de ir embora com minha mae. Jefferson me aperta contra si com uma urgencia que so ele tem de mim. Cheira meus cabelos e me afasta para olhar diretamente nos meus olhos. Seu olhar é aflito e amoroso e o acalmo com um beijo. Um beijo profundo, doce. Ele passa uma mao por minhas costas e com a outra me puxa para si. Entrelaço seu pescoço com meus braços enquanto nossos labios se encontram de uma maneira absoluta e meu sangue ferve e quando ele me solta, ele esfria.
- Vou sentir sua falta, Laura. Eu juro que vou contar cada segundo ate voce voltar. - ele diz com a voz doce e melodiosa.
- Eu vou sentir infinitamente mais. Voce nao faz ideia.
- Impossivel. Eu sentirei mais.
Nossas testas e narizes se colam assim como nossos corpos.
- Eu preciso ir agora. Deixei ela terminando de arrumar as coisas. Sao so duas semanas.
- As maiores da minha vida. - ele me solta relutante. - Volte logo, Laura. Pensarei em voce.
- Eu tambem. Voce nao quer mesmo ir nos visitar?
- Nao. Seria mais dificil para voce deixa-la ir. Voces precisam desse tempo para voces duas.
Dou um ultimo abraço nele, um em Marcelo e meneio com a cabeça para Leandro. Dou as costas para eles seguindo no corredor de azulejos brancos em direcao ao quarto. Olho por sobre o ombro antes de desaparecer e vejo Jefferson com um sorriso torto no rosto e sorrio de volta. Uma pontada de tristeza atravessa meu peito mesmo sabendo que so os deixarei por alguns dias. O adeus mais dificil eu ainda terei que dar.
Quando entro no quarto me deparo com a minha mae terminando de arrumar suas roupas na mochila. Paro na porta e me pego sorrindo. Estou tao feliz que finalmente ela esteja bem e segura. Nao totalmente segura, duvido que ela consiga um dia estando no meio de tudo isso. Mas agora ela tem a mim e a Bianca.
Ela olha para mim, seus olhos brilhando enquanto buscam meu rosto. Ja quase se parecendo com antes. Uma pontada de tristeza atravessa meu peito e vou ate ela e lhe abraço. Nao falamos e nosso aperto é forte e cheio de saudade. Nossas lagrimas vertendo em uma mistura cheia de desculpas e confissoes.
Ja no onibus a caminho de casa, olho pela janela as casas passarem, mas mal posso distingui-las com a força dos meus pensamentos. Minha mae dorme ao meu lado alheia a tudo que aconteceu. Eu nunca pretendo lhe dizer a verdade e espero que nao seja dificil para ela quando eu tiver que seguir minha jornada, o meu caminho. Mas tenho medo que a verdade a persiga como fez comigo.
Quando a porta da casa se abre ja nao a nenhum resquicio da destruicao de antes. Ela parece ate mais iluminada e aconchegante. Sinto cheiro de lavanda por todos os comodos e quase posso ouvir a voz de Bianca ressoar pela casa nos dando as boas vindas. A chave em minha clavicula brilha em dourado por alguns segundos e sei que tem um selo protegendo a casa. A toco com as pontas dos dedos e me lembro dos meus anjos e de Jefferson. Balanço a cabeça para afastar a saudade e ajudo minha mae a arrumar suas coisas no quarto e quando volto para a sala tomo um susto. Nosso jantar esta posto a mesa e um bilhete repousa sobre ela e o pego.

       Para voces poderem aproveitar a companhia uma da outra de uma maneira mais calma e aconchegante. Bianca esta na casa. Estamos com saudades.
  Jefferson

Sorrio e levo o bilhete de encontro ao peito enquanto vejo um gato branco aparecer repentinamente de debaixo da mesa e me encarar com seus olhos dourados.

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