sábado, 22 de fevereiro de 2014

[Overrun: A Descoberta] Capitulo 14

Na manhã seguinte, depois de dormir sem acordar no meio da noite e sem pesadelos, me sinto rejuvenecida pela primeira vez desde... desde muito tempo! Como em todos os dias agora, acordo com os braços de Jefferson ao meu redor, espantando tanto os pesadelos dele quanto os meus. Seu cheiro caracteristico de menta esta por todo lado. Em sua roupa de cama, em sua propria roupa e rosto como se o sabor dos bombons que ele come fizessem parte dele agora. Me levanto tomando cuidado para nao acorda-lo. Ele parece ter tido tambem uma noite relaxavel como eu. Ainda de babydoll vou para a sala e ouço as vozes de Leandro,Marcelo e Bianca em uma conversa acelerada na sala de estar:
- Vamos logo. Melhor nao leva-los hoje. É so um reconhecimento do local e eles poderiam sentir todos nós lá. - Leandro fala.
- Mas, voce sabe como eles ficam chateados quando nao o levamos. Especialmente, a Laura! - Bianca intervem.
- Ela vive fazendo coisas escondidas tambem. Eu nao os levarei e pronto! Se quiser pode ficar.
- Tudo bem! - Bianca suspira. - Vamos.
Uma brisa fria passa por meus pés quando os tres usam a dobra de viagem. Como sempre, Leandro acha que nao sou boa o bastante. Como se eu estivesse sempre fora do controle. Se eu nao estivesse limitada ao meu corpo humano iria escondida. Se ao menos Bianca tivesse ficado... Meus pensamentos sao cortados quando Jefferson me puxa para si me assustando.
- Jefferson! Que mania feia! Voce sempre me assusta desse jeito... - eu rio e ele me da um sorriso tao lindo quanto o proprio amanhecer.
- Desse jeito selvagem? - ele fala  de forma acentuada a palavra selvagem.
- Por favor, pare de dizer isso. Fico sem graça. - ele me da um beijo na bochecha e sussurra em meu ouvido.
- Voce fica linda corando, sabia? - dou um soco de leve em seu braço e ele me solta.
- Eles ja sairam?
- Ja. E, como sempre, Leandro nao quis nos levar. - falo chateada.
- Ele so nao quer que nada dê errado. Ele segue seus plano arrisca.
- Mas, eu sou a principal interessada aqui.
- Pare de drama,Laura. Venha cá. Vamos aproveitar nosso tempo a sós. - ele diz ao me puxar para si.
- É so nisso que voce pensa? - digo rindo enquanto traço a linha do seu maxilar.
- Eu tento nao pensar em voce, mas é dificil quando voce esta aqui tao proxima a mim. E de babydoll. Tem coisas que um garoto nao pode suportar, sabia?
- Eu juro que nao faço de proposito.
- Sei.
Nos beijamos por alguns minutos e so nos separamos quando nossas barrigas protestam avidamente. Bianca havia deixado o cafe posto a mesa e ele ainda se conservava quente e intocado como se houvesse acabado de ser preparado. Comemos tudo juntos e acabamos em uma guerra com as sobras quando Jefferson passou manteiga em meu nariz.
Depois de limparmos tudo, ele me chamou para darmos uma volta de moto pela cidade dizendo que gostaria de partilhar um lugar seu comigo ja que ele conhecia o meu bosque.
Depois de ele pegar uma mochila saimos de moto. Ele dirigia calmamente pelas ruas e avenidas em direçao ao centro da cidade. Ele nao quis me dizer onde ou o que era o local para onde estavamos indo porque era uma surpresa. Ele nos levou a uma parte mais afastada do centro onde eu nunca havia ido. Paramos em uma pequena praça na esquina de uma minuscula rua comercial que é escura e umida por conta das arvores e dos predios. A pessoas em alguns pontos dela, mas estam alheias a nossa presença. Assim que desci da moto pude observar o local melhor. Tem grandes arvores umas perto das outras ao longo do pouco espaço do lugar, bancos de madeira aqui e ali e alguns jardins tambem com varias especies de flores de diversas cores. O chao apartir da calçada é todo coberto por grama. O lugar é escuro, umido, sombrio, mas tambem é aconchegante, isolado e calmo. Entao, descobri por que ele me trouxe aqui.
- É lindo! - ele me olha pelo canto dos olhos e sorri.
- Sabia que iria gostar. Vamos nos sentar ali?
Ele aponta  para uma area um pouco a nossa frente na grama ao lado de um dos minusculos jardins. Sentamos lado a lado e ele coloca a mochila ao seu lado.
- O que voce trouxe ai dentro?
- Paciencia, gafanhoto! - ele diz rindo. Depois de alguns minutos em silencio ele volta a falar. - Laura, eu sei o quanto o Gabriel significou para voce e por isso eu quero que voce me responda uma pergunta sinceramente. Tudo bem?
- Tudo bem. - percebo minha tremendo em antecipacao.
- Seus sentimentos por ele acabaram? Definitivamente?
Penso apenas por um segundo e depois do meu ultimo encontro com Gabriel tudo tinha ficado tao claro quanto agua destilada.
- Sim. Definitivamente.
- Voce nao sabe o quanto ouvir isso me faz feliz! - ele aperta minha mao entre a sua por um momento e a solta se voltando para a mochila.
- Voce esta muito misterioso hoje.
- So espere um segundo... Ah, achei! - ele retira o braço que estava vasculhando os bolsos da mochila e olha para algo em suas maos e entao o oferece para mim.
- Para voce. Espero que goste!
Pego de suas maos uma pequena caixinha branca com varios desenhos de rosas. Retiro a tampa e o que esta dentro dela quase me faz chorar pelas lembranças que me traz. Um lindo colar dourado com uma corrente tao fina e delicada com um pingente em forma de infinito no qual nossos nomes estao gravados em suas voltas. Ele fala atraindo minha atençao para ele.
- Um novo namoro e um novo infinito que vamos dividir juntos. Voce é muito importante para mim e sinto que o seu destino esta entrelaçado ao meu tanto quanto nossos nomes estao entrelaçados nesse pingente. Eu nao havia pedido voce em namoro oficialmente, entao aqui vai. Laura voce quer namorar comigo?
Eu pego suas maos entre as minhas e sinto as lagrimas descerem por meu rosto assim como sinto algo crescer dentro do meu peito e tenho certeza que o amo. O que experimento agora é muito diferente de quando Gabriel me fez essa pergunta. Com ele, eu fiquei sem fala, espantada  com aquela possibilidade. Agora eu sinto como se mil passaros verdes quisessem sair de dentro do meu peito e espalhar essa noticia pelo mundo.
- É claro que eu aceito! Eu ja nao tinha falado que ja estavamos namorando? Eu durmo com voce! - falo meio rindo, meio chorando enquanto suas habeis maos limpam meu rosto e eu me atiro em seus braços. O aperto forte junto a mim e digo em seu ouvido:
- Esse sera o meu melhor infinito!
Passamos mais de uma hora deitados e abraçados na grama olhando para a copa das arvores acima. De vez enquando, ele beijava o topo da minha cabeça, mexia no meu cabelo ou fazia circulos na minha mao. Depois ele abriu a mochila tirando uma pequena toalha amarela e colocou sobre ela dois sanduiches, dois iogurtes e duas maças. Comemos silenciosamente um ao lado do outro, nossos ombros se roçando. Ate que eu pensei em algo para dizer:
- Como voce comprou esse colar? Nao vi voce um minuto longe de mim.
- Voce lembra quando eu disse que tinha algo para resolver e sai? Eu fui compra-lo.
- Hum. De onde tirou dinheiro se voce nao esta trabalhando mais?
- Eu nao precisava comprar comida, nem roupa. Entao, eu guardei a maior parte do dinheiro que ganhei.
- Voce trabalhava a muito tempo?
- Desde os 15 anos. Comecei ajudando em uma oficina de carros e depois arrumei esse emprego na lanchonete de um amigo.
- Eu estava aqui pensando... Foi muito ruim o tempo que voce passou nas ruas ate encontrar Marcelo?
- Foram piores do que eu esperava. Eu queria encontrar um lugar onde eu me encaixasse de verdade. Entao, eu fugi do orfanato. Mas foram dias muito dificeis.
- Quer me falar sobre eles?
- Nao me sinto a vontade de partilhar isso com voce. É um assunto que me deixa muito triste. - sua expressao de repente mudou. Eu agora via na minha frente um homem amargurado e triste que foi moldado por muitas dificuldades.
- Eu prometo lhe dar muitos momentos felizes que voce ira gostar de se lembrar.
- Voce ja esta me dando. - ele afaga meu rosto de leve e da um beijo em minha testa.
Depois que arrumamos tudo em sua mochila voltamos para casa por volta de uma da tarde. No caminho, nao posso parar de imaginar todos os momentos dificeis que ele deve ter passado. Frio. Dor. Fome. E Deus sabe mais o que. Prometo a mim mesma que tentarei nunca decepciona-lo, que tentarei faze-lo esquecer desse tempo ruim. Encosto minha cabeça em suas costas e o seguro firme. Eu tambem procurei por muito tempo um lugar onde eu me sentisse parte de alguma coisa. Entao, eu encontrei mais do que poderia ter pedido. Uma acompanhante dedicada e amiga, e um namorado que partilha de dois mundos comigo. E mais do que isso, divide sua vida e me da do seu amor.

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