quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

[Eu Cinza] Capitulo 13

A manhã chega mais rapido do que eu penso. Meu corpo esta dolorido e eu me desvencilho dos braços de Jefferson. Ele apenas se mexe e vira de lado quando me levanto. Caminho em direçao ao banheiro e ligo a agua quente agradecendo por ele ter essa funçao aqui. Deixo agua e o vapor me rodearem enquanto meus musculos relaxam. Coloco meu rosto embaixo do forte jato d'agua e seguro a respiracao. Eu nao posso acreditar que dentro de algumas horas estarei conversando com ele depois de tanto tempo. É aterrorizante! Como sera que eu vou me sentir? Tiro a cabeça do jato d'agua, termino o banho e me enrolo na toalha voltando para o quarto. Jefferson ainda esta na mesma posicao que antes. Pego uma camiseta branca com capuz e um short jeans. Uma das roupas que Leandro tinha me dado.
Me sento na mesa e Bianca esta colocando o cafe da manha na mesa que consiste em pao, queijo coalho, chocolate quente e bolo de laranja.
- Bom dia! Pronta para o que nos espera?
- Bom dia. O que me espera voce quer dizer. - falo tomando um gole do chocolate que esta delicioso.
- Ontem ouvi seus gritos. Nao fui ate o quarto por que vi Jefferson indo para la.
- Um sonho ruim. Apenas isso. - falo encerrando a conversa. - Se pudermos sair antes dele acordar sera melhor. Talvez ele insista para ir conosco.
- Tudo bem. Vamos logo para eu poder aplicar a manobra Pass em voce. - ela fala se lecantando me apressando.
Termino com o achocolatado e um sanduiche que fiz com o pao e o queijo e a sigo para a sala. Nos damos as maos e ela fecha os olhos murmurando consigo mesma ou com Deus, nao sei. Uma sensaça de formigamento percorre meu corpo e é isso. Ja posso me transformar no animal que quiser. Eu acharia melhor uma dobra de viagem, mas ela consome muito da essencia de Bianca. Ainda mais que a manobra Pass.
Bianca se agacha se transformando em uma coruja branca instantaneamente. Ainda me sinto estranha ao presenciar isso, mas sei que me acostumarei com o tempo. Penso no quero virar ate enxergar a imagem no fundo da minha mente. Quando me dobro diminuindo de tamanho sou um pequeno falcao peregrino. Bianca estica as asas ao meu lado e despara em direcao ao terraço e depois ao ceu. Me coloco em voo agora com mais facilidade do que das outras vezes. A sensaçao do ar passando pelas minhas penas é algo fora de serie. Em poucos segundos alcanço Bianca. Subimos alto no ceu para desfarçar a estranheza que pode ser ver uma coruja branca voando amigavelmente com um falcao.
Planamos em direçao a casa de Gabriel pelo que eu penso ser meia hora ate chegarmos la. De frente para a casa dele existe uma casa abondanada, sem muro ou portao. Descemos no que deveria ser o quintal da casa e voltamos a ser nos mesmas. Vou para junto de Bianca para conversarmos:
- E agora? Ficamos de tocaia aqui ou la na frente? - pergunto.
-  Se ficarmos la na frente, ele nos vera. Melhor ficarmos aqui. Posso senti-lo se ele sair para a rua.
- Tudo bem. Voce acha que tem algum Damn aqui?
- Nao. Eu chequei. Nao senti nenhum.
Em um dos cantos do muro, embaixo de um pé de acerola, tem alguns tijolos empilhados e eu e Bianca o pegamos para faze-los de assento. O ceu esta nublado e murmuro uma oracao baixa para que nao chova. Passam-se varios minutos, depois horas. Minha barriga ronca em protesto e fico impaciente. Bianca faz surgir dois iogurtes para nos e em um gole so tomo o meu. Ela me entrega o outro e so entao lembro que ela nao precisa se alimentar. Me sinto satisfeita, mas apenas do ponto de vista fisiologico. Depois de se passarem 4 horas, Bianca se levanta de repente me puxando para ficar de pe.
- Ele esta quase saindo. Me dê sua mao! - ela fala agarrando uma de minhas maos antes que eu tenha algum reflexo. - Nao a solte agora ou ficara visivel.
Olho para os meus pes e ja nao posso ve-los. So consigo ver Bianca pelo canto dos olhos e ainda assim uma imagem desfocada e tremuluzente. Ela me puxa e a sigo. Quando colocamos nossos pes na rua ouço o estalo do portao da casa de Gabriel se abrir. Um tremor percorre meus braços quando meus olhos focam nele. Ele esta usando roupas pretas e esta tao abatido quanto no sonho que tive. Esta mais magro, principalmente suas pernas. Ele empurra com dificuldade sua cadeira de rodas para fora e reprimo a vontade de ir ajuda-lo. Assim que ele se desloca ate o chao solto a mao de Bianca.
- Gabriel? - me assusto com o tom da minha voz baixa e estrangulada ao chama-lo. Ele vira um pouco a cadeira de rodas para me encarar. Seus olhos encontram os meus e vejo uma ponta de felicidade cruzar o seu rosto, mas dura uma fraçao de segundo. Logo ele me da uma expressao azeda.
- O que faz aqui? - ele diz rispidamente o que acaba me chocando.
- Voce nem ao menos fica feliz por me ver? Vejo que voce parece esta bem familiarizado com seu novo lado. - falo apontando com uma jogada sutil de cabeça para ele.
- Estou melhor assim. Diga logo a que veio ou eu te deixarei falando sozinha. - de repente as palavras fogem da minha mente e nao sei por que estou aqui. Vasculho por alguns segundos os meus pensamentos e acabo me lembrando
- Por causa de Marcelo. Voce deve saber quem ele é.
- E o que eu tenho a ver com ele? - ele fala com desdem.
- Ele é seu anjo! E esta passando por um mal momento. Ele esta precisando de voce tanto quanto voce dele!
- Quem disse que eu preciso dele? - ele fala cuspindo cada palavra. - Eu nao quero saber dessa corja como voce!
- Voce chama aqueles que so querem nosso bem de corja? Os Damns e Errants que sao uma corja! O Marcelo so quer te ajudar! Voce nao ve? Olhe para si mesmo!
- Isso aqui é culpa dele! - ele fala apontando para si. - Ele nao se importou comigo ou isso nao teria acontecido!
- Isso foi o que Juliana lhe disse? Voce prefere dar ouvidos a ela do que a mim que sempre fui sua amiga? Eu que fui sua namorada, que cuidei de voce? Eu pensei que tinha mais valor para voce.
- Nao fale assim comigo! Eu sei que voce ja esta com outro. Nao tem moral para me apontar o dedo!
- Voce pode ter alguem e eu nao posso simplesmente seguir com a minha vida em frente? Eu pensei que voce fosse me ouvir, que iria querer ajuda-lo! Como voce pôde se deixar influenciar dessa maneira?
- Essa escolha é minha! Do mesmo modo que voce fez a sua, eu tambem fiz a minha.
- Se juntando a demonios? Isso nao parece combinar com voce. - me arrasto para mais perto dele ate que ficamos frente a frente e seguro firme nos braços da cadeira. - Como voce teve coragem de fazer isso consigo?
- Saia de perto de mim! Tem muito mais em jogo do que voce pode imaginar. - ele fala com raiva.
- A minha mae, voce deve esta querendo dizer! Como voce pode ajuda-los a sequestrarem ela? Depois de todos esses anos que fomos amigos?
- Isso nao é coisa minha. Eu nao sabia... eu nao posso fazer nada em relaçao a isso. Mas se voce quiser vir para o meu lado, voce podera te-la de volta. Sem briga, sem magoa. - ele fala segurando meu braço e me da um leve sorriso. Puxo meu braço com força e volto para junto de Bianca.
- Eu nunca faria isso. Eu nao sei por qual motivo voce topou fazer parte disso, mas eu nao me deixarei convencer. E diga para sua namorada que ela nao perde por esperar. Eu sinto muito por voce. Eu nunca poderia imaginar...
- Eu nao preciso da sua pena.Voce sempre so teve isso para me dar. Se voce prefere o jeito mais dificil assim será!
Ele passa as maos pelos cabelos freneticamente tentando se acalmar e vira a cadeira de rodas para nao me olhar no rosto. Encaro meus pes sem saber o que pensar. Nao da para acreditar que ele mudou tanto. Jefferson estava certo. Ele ja escolheu seu lado. Agora eu preciso manter a minha escolha.
- Eu espero que um dia voce encontre a verdade. - eu digo encerrando a conversa e ele nao responde.
Bianca pega em minha mão e murmura um cantico para a dobra de viagem. Gabriel vira o rosto lentamente e me fita pelo canto dos olhos. Seu olhar é triste e ressentido, mas nao mais que o meu. Entao, a escuridao gélida nos leva pelas suas dobras e estamos de volta em casa.

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