domingo, 2 de fevereiro de 2014

[Eu Cinza] Capitulo 12

Quando chegamos na casa de Jefferson, ele me da mais espaço para mim mesma. Arrumo minhas roupas em uma das gavetas do guarda roupa dele. Me sento no chao em frente a ele e recolho minhas pernas ao redor do meu corpo em um aperto angustiante. Flashs da minha casa surgem no fundo da minha mente me inundando com sensaçoes estranhas e ruins. Me levanto e quando passo pela sala vejo Jefferson parado na porta da cozinha de costas para mim. Talvez ele precise de um tempo para si tambem. Todos nos precisamos.
Sigo para o terraço, mas nao fico por la. Vou ate o banco solitario de frente para o terreno que esta tomado pelo mato. Inclino minha cabeça para tras, encostando-a no banco. Fecho meus olhos e lembranças enchem meus pensamentos. Me vejo pequena nos braços de minha mae, ela me erguendo o mais alto que podia e nos girando. Um sorriso acalentador em seu rosto me trazendo uma felicidade imensa. Em outra nos vejo brigando, ela chorando por todas as vezes que eu fugi, que eu fui rebelde. Abro meus olhos consciente das lagrimas que descem em curvas pelo meu rosto. Eu não serei mais assim,mae. Nunca mais irei fugir da minha responsabilidade. Me espere, seja firme por que eu tambem serei.
Limpo as lagrimas de meu rosto prometendo a mim mesma que serei forte como a situacao pede. Esculto estalos e olho para o meu lado esquerdo. Jefferson se aproxima com uma expressao desolada. Meu problema o atinge mais do que eu poderia imaginar. Ele deve gostar mesmo de mim e em algum lugar dentro de mim algo me diz que talvez eu tambem esteja começando a ama-lo. Ele senta ao meu lado olhando para um ponto fixo distante. Uma de suas maos repousa ao meu lado no banco e a seguro firme. Ele olha para mim misturando tristeza e contentamento no seu olhar. Ele me puxa para ele, me envolvendo firmemente. Descanso minha cabeça em seu ombro, o cheiro de menta me invadindo quando inspiro quando ele fala.
- Eu sei que tudo parece dificil agora, mas eu sei que tudo vai ficar bem. - ele diz levantando meu queixo para olhar diretamente nos meus olhos. - Como se sente?
- Triste. Muito triste, mas eu nao vou mais me deixar abater. Ela precisa de mim. E alem disso, sinto que tudo isso é culpa minha.
- A culpa nao é sua. Cada um de nos faz suas proprias escolhas e elas podem atingir os outros. Juliana escolheu o pior lado e esta atingindo a voce. A culpa é das escolhas dela, nao das suas.
- Voce sempre tem algo para dizer? - falo com um pequeno sorriso se formando.
- Quase sempre. É facil aconselhar os outros. - ele para por um instante se analisando. - O dificil é segui-los quando somos nos quem precisamos deles.
Me viro para ele com minhas maos em seu rosto. Suas maos fixas em minha cintura. Nos beijamos com uma intensidade inconstante. Como se pudessemos nos unir aqui e agora para afugentar nossos medos. Ele encosta sua testa na minha, nossos narizes quase colados e as palavras escapam de mim como borboletas dando seu primeiro voo apos uma chuva.
- Eu sinto que te amo.
Ele nao diz nada, apenas um sorriso brilhando em sua face. Ele se inclina para mim nos envolvendo em um abraço, em beijos e carinho.
- Eu estarei sempre do seu lado. Nunca duvide disso. - ele fala brincando com um cacho dos meus cabelos. - No meio disso tudo, voce é o presente que o destino me deu. E eu nao devolvo presentes.
- Eu nao quero ser devolvida. - digo lhe dando um grande sorriso e ficamos ali juntos aproveitando a companhia um do outro em silencio.
Entramos quando nossos estomagos reclamam pelo tempo que passaram sem os nossos cuidados. Sento a mesa olhando Jefferson cozinhar. Mais uma daquelas surpresas boas que ele sempre tem embaixo da manga. Ele nao me deixou chegar perto do fogao dizendo que gostaria de preparar algo para mim, o que me fez sentir totalmente especial. Cheiro de carne misturado com vinho fazem minha barriga roncar. Depois de algum tempo, ele se aproxima da mesa com dois pratos nas maos. Ele preparou uma carne assada com vinho, purê, arroz e salada. Se senta ao meu lado, nossos braços encostados. A comida esta uma delicia e me deixo aproveitar todo o sabor.
- Voce cozinha muito bem. - falo.
- Obrigado. É o tipo de coisa que voce espera que um cara como eu saiba fazer depois de tudo. - e eu sei que com tudo ele quer dizer o tempo que passou nas ruas.
Termino com a comida totalmente satisfeita. Sinto aquela pontada de sonolencia que sempre me vem depois de comer e me dirijo para o quarto dele e ele me segue, nossas maos coladas. Ele se deita na cama e eu me recosto junto a ele. Seus dedos deslizam pelos meus cabelos e sinto o sono me arrastar para sua realidade paralela. Eu me vejo parada em uma sala escura, a unica luminosidade ali dentro vem de lampadas em um corredor. Caminho em direcao a ele movida pela curiosidade. Todo o lugar é frio e umido. O corredor é pequeno e se abre em outra sala escura que parece muito com um escritorio com uma mesa de madeira instalada ao fundo com varios papeis espalhados por cima. Uma porta do lado esquerdo me chama a atençao. Quando tento pegar a maçaneta para abri-la minha mao passa direto por ela a atravessando. Experimento tentar atravessar todo o meu corpo e passo por ela como se ela nao existisse. O quarto esta ainda mais escuro que a sala anterior e demora para que meus olhos se acostumem a escuridao. Assim que recupero o foco, o que eu vejo me faz ter arrepios por todo o corpo. Em um dos cantos,  em uma cama como aquelas de hospital esta uma pessoa que eu jamais poderia nao reconhecer,minha mae.
Corro em direcao a ela e me ajoelho ao seu lado. Tento toca-la para faze-la acordar,mas minhas maos passam atraves dela como fizeram com a porta. Seu rosto esta levemente mais magro assim como seu corpo. Ela parece esta dormindo tao profundamente. Sua respiracao parece fraca e ela esta com um aspecto doente. Tento chamar seu nome, mas minha voz nao sai. Nem sequer um chiado.
Ouço passos vindos do lado de fora do quarto e a maçaneta gira. Antes que eu possa ver quem iria entrar eu acordo com um grito estridente. Jefferson se assusta embaixo de mim e se ergue me ajudando a sentar. Estou completamente suada e esgotada.
- O que foi? Um pesadelo? - ele pergunta assustado.
- Eu a vi... - sinto um bolo na minha garganta.
- Quem?
- A minha mae. Na casa de Juliana.
Eu me jogo nos braços dele tentando afastar a imagem dela em minha mente. Ela esta definhando e parece um fantasma de si mesma. Jefferson me embala dizendo que tudo vai ficar bem e que iremos traze-la de volta, mas sua voz esta distante e quase nao me alcança. Eu preciso ir atras dela. Antes que seja tarde demais para qualquer um de nos.
Depois de alguns minutos, quando ele percebe que me acalmei,pergunta:
- O que voce viu?
- Eu estava naquele comodo que voces falaram que os Damns a aprisionaram la. Quase todos os comodos estavam escuros. Eu parecia como um fantasma, consegui atravessar a porta do quarto onde ela estava. - olho para minhas maos tremendo antes de continuar. - Ela esta em algum tipo de coma, definhando. Foi simplesmente horrivel esta la e nao poder fazer nada.
- Isso deve ser algum tipo de dom qur voce tem. So isso pode explicar voce ter estado la. - ele fala, uma ruga se formando entre suas sombrancelhas.
- Nos temos que ir la! Ela pode nao aguentar mais tempo. - falo quase suplicando.
- Voce acha que se eu pudesse eu nao a traria aqui com minhas proprias maos? Nenhum de nos podemos. Mas nos vamos achar quem possa.
- Eu espero que sim.
Ele me abraça forte, o calor do seu corpo reconfortando o meu. Eu nao sei como nos faremos para chegar la, mas sinto que o faremos. Eu preciso acreditar nisso e ter esperanças ou do contrario eu tambem definharei. De repente, ouço barulhos vindos da sala e logo depois nossos nomes. Me levanto o mais rapido que posso e Jefferson segura a minha mao nao querendo me deixar longe de si totalmente. Nem eu o quero. Chego na sala e Bianca e Leandro estao lado a lado no meio dela com expressoes serias e fechadas rm suas faces.
- Nós o encontramos. - Leandro diz e meu coraçao acelera. - Mas, creio que nao possa nos ajudar.

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