sexta-feira, 25 de julho de 2014

[Belnegro] Capítulo 6

Contemplo prédios por todos os lados, e em diversos estilos. Não há casas em parte alguma da capital do Estado A. Poucas árvores dão um ar mais natural a essa selva de pedra cortada por avenidas largas. Assim que o carro da PFAC encontra o asfalto, percebo os pneus girando e desaparecendo, e o sistema de flutuação a jato sendo ligado. Dizem que o asfalto daqui é diferente. Ele apresenta um composto encontrado em imãs que em contato com uma placa de imã existente na parte inferior de alguns carros (que possui uma polaridade oposta a do asfalto) fazem com que eles flutuem alguns metros acima  do chão. O sistema a jato da conta da propulsão para o movimento. E agora vejo que é verdade. É algo impressionante ver os carros deslizando por toda parte.
Vários fotógrafos, e curiosos nos observam ao longo da avenida. Algumas pessoas acenam para mim como se eu fosse uma celebridade, e devolvo o gesto a elas esquecendo do nevorsismo de segundos atras. As pessoas do A usam roupas no estilo das que eu via apenas nos programas de moda na tv. Nem em vitrines das lojas do Governo havia visto algo tão deslumbrante. Olhando para minha roupa simples, me sinto fora de órbita. De repente, o vidro da janela se fecha, e muda para uma tonalidade preta. Por causa do susto, virei meu rosto para encarar minha secretaria nada feliz com minha recente atitude.
- Desculpe pelo susto, mas quero que lembre que não deve se considerar uma celebridade aqui. Você veio estudar, e trabalhar. Não mude o foco. - diz séria.
Eu não compreendia totalmente essas palavras.
- Só estava retribuindo o gesto a essas pessoas.
- Você deve permanecer séria. Deixe para retribuir quando estiver em frente as câmeras de tv. Por enquanto, você não irá repetir esse episódio.
- Você tem certeza que o problema é esse?
Eu sabia que não era esse o motivo para ela ter agido assim. Ela ergue uma sombrancelha para mim em uma expressão que me pergunta se eu ousaria repetir a pergunta. Bem, eu não gostaria de me dar mal logo no início.
- Tudo bem. Vou me controlar. - digo encerrando o assunto.
Eu sabia que eles não queriam que eu demonstrasse toda a minha perplexidade sobre aquele ambiente diante das pessoas daqui. Não queriam que eu demonstrasse o quanto tudo é diferente do restante do país. Mais uma repressão que teria que suportar porque a presidente Branca não queria encarar a verdade ou como se todos já não soubessemos e ela pudesse encobri-la.
Cruzo os braços e fico de cara amarrada o restante do caminho. Percorremos várias avenidas e em algumas delas várias pessoas acenam em direção ao carro mesmo que não possam nos ver. Depois de mais algumas voltas, chegamos em uma área com menos prédios e percebo mais a frente um gramado lotado de pessoas. Olho para o meu relógio de pulso e vejo que são 08:30 hrs. Pelo visto, muitos faltaram ao trabalho hoje. Sinto meu estomago borbulhando em antecipacao. Como vou manter a cabeca abaixada ali? Atrairia ainda mais olhares. Seria um escandalo sem prescedentes se descobrissem um inoperante aqui.Por trás da multidão, vejo a Universidade em todo seu explendor. Um hiper bloco de 7 andares dividido em 4 seções. A fachada tem um estilo moderno e os vidros dos andares superiores são espelhados. A fachada de entrada é gigantesca e possui duas colunas altas que dão um certo ar medieval contrastando com a parte mais tecnológica. Um grande monumento no meio do gramado mostra o nome e o emblema da Universidade em letras gigantes. O lugar é simplesmente fantástico.
Assim que paramos, vários jornalistas e alguns repórteres praticamente saltam sobre o carro. Antes de apertar a tecla de destravamento, Lucia me da instruções novamente.
- Lembre-se de cada palavra que lhe disse para não dar um passo em falso. - ouço o clique reverberando pelo espaço. - E, sorria!
Ela abre a porta antes que eu possa dizer qualquer coisa. Fico paralisada por dois segundos, mas retomo a consciencia, e saio. No mesmo instante, ouço cliques frenéticos no momento em que uma enxurrada de flashs me cega. Sinto uma mão apertando meu braço e me puxando para longe daquele lugar. Sigo Lucia por entre a multidão e percebo que ela é composta em maioria por adolescentes. Alguns dando entrevistas, outros conversando entre si ou com suas secretárias. Tento nao fixar em ninguem oor mais que 3 segundos. Só então lembro de uma pessoa. Alexia. Olho para as pessoas enquanto caminho para o que acho ser a entrada para o gramado. Não vejo-a em nenhum lugar. É muito improvável que eu a encontre no meio dessa confusão. Quando colocamos nossos pés sobre a grama, um repórter da BelTV se aproxima de nós seguido de dois auxiliares com câmeras. Alexandre Meyer é o apresentador do TeleNews, principal programa da BelTV. Ele não deve ter mais que 31 anos, e é bem, como posso dizer, excêntrico. Ele usa um blazer preto coberto por uma espécie de glitter dourado, e o cabelo todo bagunçado tem algumas mechas verdes. Ele cumprimenta Lucia e me da um sorriso cheio de dentes enquanto segura minha mão de longe com uma maneira afetada.
- Nos concederia uma entrevista? - ele pergunta com uma voz divertida ciente de que o reconheço.
- Claro.
- Qual seu nome e estado, querida?
- Alice Alencar. L.
Ele me ajuda a fixar um microfone em minha blusa enquanto os seus auxiliares se posicionam. Lucia se afasta e me dar um olhar de aviso por um segundo, mas volta a sorrir desfarçando. Me sinto nervosa assim que Alexandre se coloca ao meu lado. Um dos auxiliares faz sinal de ok com uma das mãos e enfim estamos no ar para toda Belnegro.

- Cidadãos de Belnegro, estamos aqui em frente a Universidade Secundária do Estado A cobrindo a chegada dos nossos mais novos Alunos Padrão que estão chegando de todas as partes do país!
Ele segura meu ombro puxando-me para mais perto.
- Estamos aqui com Alice Alencar, uma das APs vinda do Estado L. Querida, sabemos que você vêm do estado considerado o menos desenvolvido de Belnegro. Isso dificultou a sua eficiência nos testes?
Primeira pergunta: fácil. Sinto o nervosismo se dissolvendo. As palavras parecem estar se formando em minha mente.
- Primeiramente, bom dia as pessoas que estão nos acompanhando em casa. E, respondendo a sua pergunta, não, isso não dificultou meu aprendizado de nenhuma maneira. Pode até ter me dado mais motivos para estudar para ter alguma chance de chegar até aqui.
- Então, você é uma garota considerada Nerd? - diz enquanto seu olhar e a camera mais próxima percorrem meu corpo de cima a baixo. - Porque não parece combinar com seu estilo descontraído.
- Se eu cheguei até aqui acho que devo ser considerada uma Nerd. (risos) Mas, isso não quer dizer que muitos outros que não conseguiram uma vaga também não fossem tão bons quanto eu. E, em relação a meu estilo, eu nao diria descontraida, mas despreocupada. Nunca liguei para moda.
- Uau! - ele grita em êxtase enquanto aponta para mim. - Temos aqui uma garota que pode virar o centro das atenções em sua Universidade! E, falando nisso, você deixou alguém especial para trás?
- Apenas minha família.
Mais gritinhos.
- Não posso acreditar que você não tenha um namorado! Linda e inteligente, como me parece, deveria estar cercada por belos rapazes.
- Não temos tempo para pensar sobre esse assunto quando estamos nos esforçando para conseguir uma vaga. Quando digo que meus livros eram meus amores, não falo só por mim. (risos)
- OK! E quando lhe desejo sorte, creio que não falo apenas por mim, mas por toda Belnegro! - ele se volta para a câmera. - E, lembrem-se: A prática da lei molda o cidadao a favor da paz! Voltamos já!
As câmeras são baixadas e desligadas, e relaxo no mesmo instante.
- Obrigada, querida! - ele diz apertando afetuosamente meu ombro. - Tenho certeza que nos veremos em breve.
- Espero que sim. - digo e sorrio enquanto ele se afasta.
Todos gostam do jeito descontraído dele e do programa, e comigo nao é diferente. Enquanto vejo-o indo em direção a outro Aluno Padrão, Lucia aparece ao meu lado com uma colunista a tira colo. Juliana Spirolli é a colunista do jornal Dias Belnegro, o principal do país. Não teria como não reconhecê-la. Ela esta vestida com uma roupa azul clara que lhe dar um ar de executiva. Tem os cabelos ondulados mais lindos que já vi em um tom castanho-mel. Gostava de ler suas colunas informativas durante o intervalo na escola. Ela conversa baixinho com Lucia antes de me cumprimentar com um aperto rápido de mão.
- Sua secretária me passou algumas informações básicas e gostaria de gravar algumas perguntas de uma entrevista com você. Ela sai amanhã junto com outras entrevistas com os APs.
Mesmo me sentindo cansada e ansiosa para adentrar na Universidade fiz que sim com a cabeça. Lucia já me fuzilava com os olhos para que confirmasse.
- Basta responder com mais espontaniedade possível. - ela diz calmamente. - Tudo bem?
- Claro.
Ela aproxima o gravador para si e inicia a entrevista. Já não me sinto muito nervosa.

» Juliana S. : Como são os testes para ganhar uma vaga? São muito difíceis?
» Alice: O pré-teste, não chega a ser difícil já que são perguntas pessoais sobre o que você entende por alto sobre várias áreas profissionais. Algumas áreas tem perguntas como desafios para ver como você lidaria com determinada situação. O difícil mesmo é conciliar as matérias das áreas do resultado do pré-teste com as matérias tradicionais. Agora, o teste final é bem difícil. Mesmo que você tenha tido o preparo de um ano com as matérias que foram anexadas, encontramos algumas dificuldades com perguntas mais práticas.
» Juliana S.: Como foi quando você recebeu o resultado do teste final? Gostou da sua futura profissão padrão?
» Alice: Foi um momento único! Eu tinha esperança de conseguir uma das vagas porque sabia como tinha me dedicado a isso. Mas, mesmo assim, eu reli várias vezes o anexo para a ficha cair. Gostei muito do resultado, e espero dar conta da responsabilidade que a profissão requer.
» Juliana S. : O que foi o mais difícil até você chegar aqui?
» Alice: Bem, tudo foi difícil. O trajeto de uma maneira geral foi bastante árduo, mas eu tive um grande apoio familiar. (um apoio do tipo, ou vai ou vai, penso.) Agora, o mais difícil foi deixar meus pais para trás porque sei que a decisão de vir para cá me impossibitou de vê-los novamente.

Ela desliga o aparelho de gravação finalizando a entrevista e sorri para mim quando o guarda na bolsa, e me cumprimenta novamente.
- Foi um prazer conhecê-la, Alice! Boa sorte em seu novo trajeto e não esqueça de ler o jornal amanhã!
- Pode deixar!
Ela desaparece em meio a multidão e percebo um murmúrio se alastrando pelo lugar. Lucia olha para o seu relógio e me puxa em direção a entrada da Universidade.
- Hora da Cerimônia de Apresentação ao Corpo de  Funcionários. Vamos! - ela diz.
Eu só conseguia pensar em quando poderia ir para meu quarto e despachá-la. Já estava cheia de Lucia me comandando.
Uma fila foi formada para entrada e percebi que todos vasculhavam suas mochilas e depois prendiam o cartao-crachá em suas camisas. Fiz o mesmo com o meu. Não estávamos muito longe da porta de entrada. Umas 30 pessoas estavam a nossa frente. Dois soldados estao de sentinela nas portas. Aproveito para olhar um pouco mais a fachada da Universidade. Os andares são divididos em 3 blocos o que deixa o lado inferior parecido com degraus de uma escada. As janelas do bloco do meio são translúcidas e vejo algumas pessoas uniformizadas caminhando através delas. Nenhum policial. Na parte da esquerda vejo alguns soldados conversando e apontando para a nossa fila. Até que percebo quem está fazendo o gesto. Soldado Wellington. Olho de relance para Lucia as minhas costas, mas ela está totalmente absorta enquanto conversa no celular. Me viro novamente pensando em acenar ou sorrir para ele quando algo me chama atenção a alguns metros de distância dele e de seu grupo.
Um rosto tão familiar que eu jamais poderia esquecer contempla todo o gramado abaixo com um ar sério e compenetrado. A Presidente Branca está vestida com sua roupa preta normal de trabalho, e está ao lado de Eleanor Asbach , a diretora da Universidade. Ela é uma mulher de aproximadamente 45 anos, baixa com cabelos loiros em corte chanel. Está quase sempre carrancuda, e de cenho franzido. Ela é Ex-Policial da PFAC do A. Eleanor conversa avidamente com a presidente que nem sequer olha em sua direção. Em dado momento, a cabeça de Holtz se vira para baixo e eu juro que ela está me encarando. Olho ao redor e vejo que ninguém mais observa aquele ponto da Universidade. Me sinto constragida, e com uma ponta de medo. O que faria ela me encarar daquela maneira? Como se me conhecesse... Quando olho para lá novamente as duas desapareceram.

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