domingo, 6 de julho de 2014

[Overrun: Sombras Ocultas] Capitulo 5

Fiquei confusa com as palavras de Anandi por alguns segundos ate ir atras dela. Agarro seu braco e a puxo de volta para mim. Esculto Mei chiar aos meus pes em repreensao por atacar sua dona, mas eu simplesmente ignoro. Anandi puxa seu braco de volta para si e me olha chateada.
- Quem é Yuan? Voce nao pode me dizer coisas que sabe que eu nao sei e me das as costas. - digo com raiva na voz.
- Eu nao sei quem ele é ou o que é. A raposa nao me disse. So sei que ele esta te esperando. Voce deveria voltar suas frustacoes a ela e nao a mim!
- O que eu fiz para voce afinal? - pergunto.
Ela me olha firme nos olhos com a raiva transbordando. Ela desvia rapidamente seu rosto para o outro lado e bufa.
- Nao se faça de sonsa. Voce sabe.
As palavras me pegam de surpresa, mas nao tenho tempo para responde-las. Marcelo ja nos chama para seguir adiante.
- Estou sentindo que estamos perto agora. - ele diz contente. - Anandi? Voce poderia vir para ca com Mei? Ela podera nos guiar.
Ela se afasta e a raposa me da um olhar hostil como se ja incorporasse o genio de sua nova dona antes de se virar e segui-la. Marcelo, Anandi e Diana caminham a frente conversando animadamente sobre alguma coisa que nao consigo escultar. Cruzo os bracos a frente do corpo totalmente estressada. Nao consigo lidar com pessoas como Anandi.
Jefferson que caminha ao meu lado me cutuca com o cotovelo, mas nao olho para ele. Mas ele continua insistindo tentando olhar para meu rosto abaixando sua cabeca a minha frente.
- Voce nao pode deixa-la te irritar tao facilmente. - ele diz rindo.
Ainda nao o encaro.
- Mais um para o fa clube dela?
- Que fa clube? - ele gargalha. - Ela so faz isso porque sabe que consegue te atingir.
Nessa hora, nao consigo nao deixar de olhar para ele. Seus olhos dourados parecem divertidos, mas nao me deixo convencer.
- Voce nao percebe nada.
- Perceber o que? - ele diz curioso.
- Qual é a dela...
- Hm. Se nao sei, entao voce deveria me contar, sabichona.
- Pode esquecer. - digo irritada. - Por favor, nao fale mais comigo por enquanto.
Ele me olha por um segundo e sorri consigo mesmo antes de esticar as asas e voar para o lado de Anandi. Observo enquanto ele brinca com Mei que parece bem docil com ele. Minha raiva so aumenta.
Depois de algumas horas caminhando sem achar nada de anormal nos preparamos para descansar. Nao sei se no nosso mundo la fora é dia ou noite, se faz frio ou calor. Aqui é sempre escuro e frio. Nao tenho dificuldade para me entregar ao sono ja que depois de andarmos tanto o cansaço é inevitavel. Destravo o cinto do meu corpo e tento arruma-lo em um travesseiro improvisado. Retiro de dentro o Stin e desengancho a adaga e coloco as armas ao meu lado. Me deito e observo os outros se arrumarem na ponte. Marcelo deita de barriga para cima com a cabeca apoiada nos braços e ele olha para a camada de nevoa acima perdido em pensamentos. Diana se deita de lado e de costas para mim do outro lado da ponte perto da beirada e proxima a Marcelo. Anandi esta perto dela com a cabeça apoiada no dorso peludo de Mei que permanece alerta. Me deito de lado olhando para o lado oposto onde ninguem esta descansando. Olho para a nevoa ondulando em direcao a escuridao. Fechos os olhos so para abri-los em seguida quando ouço passos que param ao meu lado.
- Posso me deitar aqui? - Jefferson pergunta enquanto retira uma mecha de cabelo do meu rosto.
Nao falo nada e ele se senta ao meu lado. Estou chateada com ele. Com o modo como ele trata a mim e a Anandi. Quando uma de nós duas nao da atencao a ele, ele recorre a outra. Nao sou de dividir. Nunca fui. Mas nao posso ignorar a saudade que tenho de quando dormiamos abracados no quarto dele. Desejo dizer isso a ele, mas me mantenho paralisada.
Ele pigarreia cortando o silencio enquanto encara a luz do poste.
- Sabe, estou com saudade de casa.
É como se ele tivesse lido meus pensamentos.
- Mas nao era isso que voce queria? - pergunto tentando parecer indiferente.
Ele se remexe incomodado e passa a mao sobre o queixo.
- Eu ja falei sobre isso com voce em Konden. Eu nunca pensei que acabariamos assim. Voce entende?
Concordo com a cabeca. Sei o que ele quer dizer. É mais do que o perigo agora. Nunca imaginei que isso acabaria desgastando nossa relacao.
- Eu so gostaria que ainda estivessemos na minha casa. Era tudo tao mais simples. So nos dois.
- Voce esta enganado. - falo enquanto me sento. - Sempre houve outras coisas.
Ele balanca a cabeca negativamente.
- Nunca houve outra pessoa. Nao para mim.
Meu queixo cai quando ele olha para Anandi por um segundo e se volta para mim. Meu coracao bate forte quando percebo que ele esta se referindo tambem a Gabriel. As palavras me escapam. O ar foge. Nao consigo dizer nada a ele. Nem sei se existe algo a ser dito. Mesmo assim, eu falo.
- Isso... quer dizer... que voce gosta dela?
Ele passa as maos pelos cabelos e olha para o chao entre nos.
- Eu nao sei. Eu so sei que tudo tem mudado desde que chegamos aqui. Estamos distantes, Laura. Voce lembra de quando foi a ultima vez que nos beijamos?
Nao respondo. Nao sei.
- Esta vendo? Quase nao existe mais 'nós' aqui.
- Entao, foi so ela aparecer que voce esqueceu que eu existo?!
- Eu nao esqueci. Nao estou dizendo que nao gosto de voce. Estou falando que nao é mais da mesma maneira.
Nao consigo mais olhar para ele. Apoio minha cabeca sobre mimhas pernas dobradas e ouco quando ele suspira e se levanta. Nao preciso ver para saber onde ele foi repousar. As lagrimas enchem meus olhos e tento segura-las pelo maximo de tempo possivel. Primeiro, perdi Gabriel para Juliana. Agora estou perdendo Jefferson para Anandi. Sempre para garotas que odeio e nao posso fazer nada. Suspiro. As lagrimas se vao.

                                  +++

Era um lugar escuro. Inóspito. Cheirava a morte e a destruicao. Um abismo no meio de duas colunas de pedras. Havia arvores retorcidas dentro de si mesmas por todo o caminho. Pareciam almas assombradas. Dava para ouvir suas lamentacoes na brisa seco e poeirenta. O chao rachado em varios pontos tinha aqui e acola uma camada de areia como pequenos desertos. Parecia uma rachadura no meio de uma montanha. Eu mal podia ver o topo das montanhas do Canion ao redor. De vez enquando uma rocha se desprendia e caia com um estalo alto sobre as pedras no chao. O ceu estava coberto por nuvens escuras como de uma tempestade iminente. Mas era estranho porque fazia tanto calor como se ali fosse o proprio inferno ou talvez o sol estivesse a centimetros daquele lugar. Mas havia pouca luz, um cinza nefasto cobria tudo. Nao havia ali nenhum ser vivente. So era eu e meus medos. Era o que eu achava ate ouvir uma voz.
No começo, ela parecia um sussurro do vento nos meus ouvidos. Eu sentia uma brisa passar por eles me chamando. Ate que ficou claro o que aquela voz queria.
- Venha. Venha ao meu encontro.
Eu olhava para todos os lados. Para as arvores fantasmagoricas. Para as cavernas nas rochas. Para o topp solitario das montanhas. E nao existia nada ali. Mas a voz ficava cada vez mais proxima.
Um estrondo de trovao cortou o ar e cobri os ouvidos. Olhei para o ceu assustada quando um relampago se mostrou sobre as nuvens. Pude ver uma forma enorme por tras delas.
Um corpo de animal. E asas gigantescas. A voz soou tao clara quanto um trovao vindo la de cima. Proveniente daquela figura.
- Estou te esperando, pequena. Venha ate mim se puderes me achar.
A imagem se desfez da minha mente assim que acordei. Um sonho. Um pesadelo. Meu coracao retumbava dentro de mim e eu respirava com dificuldade. Eu podia sentir o panico crescendo ao meu redor. Sera que era Konoch? Nao, nao podia ser. A voz era como de um homem. Talvez seja o guardiao de Ohtake. A figura parecia um lobo. Entao, eu tive certeza que era mesmo o guardiao. Diana falou dele para nos alguns dias atras. Me levanto aos tropecos e balanco o corpo inerte de Marcelo.
- Acorde!
Ele abre os olhos assustados ate que ver meu rosto. Mas ele enxerga o medo nele e se levanta depressa.
- Eu tive um sonho... - digo.
- Vamos acordar os outros. Eles vao querer ouvir.
Depois que ajudamos todos a levantar, eles formam um semi-circulo a minha frente ansiosos para ouvir minhas palavras. Descrevo o sonho em detalhes falando sobre o lugar, a voz, o trovao, o relampago e por ultimo a criatura. Anandi parece entediada, Jefferson tenta nao demonstrar nada parecendo um pouco chateado e, Marcelo e Diana trocam olhares em uma conversa muda.
- Voces tambem acham que se trata de Ohtake e o guardiao? - Pergunto me sentando ao lado de Marcelo na ponta.
- Com certeza. - ele diz pensativo. - Ele deve estar ansioso para nos confrontar. Concorda, Diana?
Ela se meche no chao e olha para ele seria.
- Totalmente. Apesar de que acho que ele esta ansioso para ver a Laura.
Os dois me encaram enquanto Anandi olha para outra direcao e Jefferson encara o espaco a frente. Nao consigo entender porque ele quer me ver se mandou um espirito localizador para Anandi. Nao faz muito sentido.
- Entao, devemos nos apressar, certo?
- Sim. - Marcelo diz se levantando e parando em minha frente. - Podemos conversar... a sós?
- Claro.
Deixamos os outros alguns metros para tras e Marcelo para na minha frente. Seus olhos cinzentos cheios de preocupacao. Ele exita um pouco como se estivesse muito confuso.
- Laura, eu nem sei como dizer isso. Mas acho que voce tera que ir para Ohtake sozinha ou com...
Ele para olhando para outro lado exitando novamente.
- Com?
- Com Anandi. - ele ve a perplexidade em meu rosto e continua. - Eu estou ciente que voces nao se dao bem. Mas voce que escolhe.
- Mas, porque isso? Por que tenho que ir sozinha ou com ela?
Eu realmemte nao via sentido nisso. Mas tambem nao sei se prefiro ir sozinha. Ohtake é muito sombria.
- A ponte vai se bifurcar antes de chegarmos la. Como voces duas sao Overruns vao ter que seguir para Ohtake e nos vamos pegar o caminho mais comprido ate os portoes de Gowin.
- Ainda nao entendo o porque.
- Nem eu entendo. Mas eu sinto que deve ser assim e Diana tambem.
Suspiro frustada. Tudo parece mudar em questoes de segundo sem eu ter possibilidades de reverter isso. Nao posso fazer nada. So acatar as ordens supiores.
- E nao vamos nos ver antes de chegar a Gowin?
- Acho que o caminho de voces terminara encontrando o nosso.
Ele precebe minha tristeza e cansaco e me puxa para um abraco. É reconfortante, mas nao o bastante. Nunca sera.
- Laura, nao tenha medo. Voces precisam ser testados. Nos tambem. A luta no final sera muito dificil. Voces tem que ser preparados, entende?
Eu nao entendia. Nao entendia porque estavamos aqui afinal arriscando nossas vidas, nao entendia por que tinha que ser assim. Percebi que nao sei o que estou fazendo aqui. Mas para nao emtristecer Marcelo balanco a cabeca afirmativamente.
Ele me afasta para que eu veja seus olhos.
- Olha, algo me faz crer que nos vamos procurar algo.
- O que?
- Um lugar. Mas nao posso da detalhes. Nao tenho certeza de nada.
Nada pode ser dito. So estamos liberados para ver com nossos proprios olhos.
- Eu acredito em voce. Ficara tudo bem. Vamos voltar. Os outros devem estar preocupados.
Caminhamos com passos lentos e antes de chegarmos ate os outros ele fala novamente.
- Voce nao se importa de ir com ela?
Eu nao conseguiria explicar a ele tudo o que estava acontecendo. Nao podia esperar que ele, um anjo, fosse entender de relacionamentos humanos. Entao, dei de ombros.
- Acho que é melhor que ir sozinha.
- Esta com muito medo?
Analisei aquela pergunta. Nao sabia porque, mas nao estava com medo. A voz de Yuan agora me parecia suave e me dava um pouco de confianca como se viesse de um amigo. Na verdade, eu estava com medo de estar so com Anandi. Nao sabia o que isso ia render.
- Nao. Acho que posso lidar com isso.
- Voce mudou.
Antes que eu pudesse falar alguma coisa chegamos ate os outros. Ele pisca para mim e sorri como se pedisse segredo. Rio fracamente de volta enquanto tomo meu lugar logo atras imaginando quando chegaremos a bifurcacao e o que farei quando Anandi começar a me testar tambem.

                             +++

Tenho a consciencia que meu corpo inteiro pede por um descanso. Nao aguento mais andar por um caminho incerto. Andar, andar e nao encontrar absolutamente nada. So a mesma escuridao, a mesma nevoa putefrata que ja quase me acostumei a sentir. O frio diminuiu a alguns dias dando uma tregua. Acho que isso indica que estamos quase la. Em algum momento a ponte comecou a enlarguecer ja mostrando que a bifurcacao esta proxima.
Marcelo nao quer que paremos ate chegar ate la. Na verdade, ele nao disse o motivo, mas eu posso sentir que ele quer chegar logo ao nosso destino. Eu o entendo. Me sinto muito ansiosa e sufocada com tudo. Nao entendo meus sentimentos, nao entendo os sentimentos de Jefferson, nao entendo essa jornada. Mesmo depois de ter lutado contra os Damns e Errants e saber sobre os seus planos de dominacao; ainda assim nao sei como nós podemos mudar tudo isso. Nao consigo compreender porque os anjos sozinhos nao podem dar conta de tudo sozinhos. No fim das contas, somos fracos. Mas algo grita no fundo da minha mente: "Eles tambem sao." Talvez precisemos unir nossas poucas forcas para esse bem comum.
Jefferson caminha ao meu lado como sempre, mas com alguns metros a mais de distancia entre nos. Ele nao me olha, nao me toca e esta tao serio quanto um soldado. Suspiro. Sinto falta dele, dos seus abracos, do seu carinho. Sinto falta dele me dizendo para nao me preocupar. Que ele sempre soube que eu era especial. Nao sei onde errei ou se errei. So sei que a distancia esta ficando cada vez maior e nao tenho tempo para fazer nada quanto a isso.

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