quinta-feira, 17 de julho de 2014

[Conto Extendido] Nada Igual

É estranho quando depois de muito tempo algo que você desejava muito acontece. Parece como um daqueles sonhos tão reais que depois de um tempo você não sabe identificar se foi mesmo um sonho ou se é uma lembrança. É bem assim como me sinto depois daquele dia. Sem a certeza que realmente meu plano deu certo. Quando cheguei em casa não sabia mais o que fazer. A lista se foi e meus membros não compreendiam o que deviam fazer. A casa parecia maior e o meu quarto então, nem preciso comentar! Suspiro. Foi difícil pegar no sono com as lembranças tão frescas na mente. Quase impossível conseguir tirar o sorriso enorme do rosto.
No dia seguinte, eu estava uma pilha de nervos. Uma bomba de ansiedade prestes a explodir. Não desgrudava do celular um minuto se quer. Nem no trabalho, nem na faculdade. Minha produtividade despencou. Contudo, não obtive resposta. Nenhuma ligação, torpedo ou uma mensagem no whatsapp. Tinha vontade de eu mesma ligar, mas não queria dar o primeiro passo novamente. Eu queria ser escolhida. Quando mais um dia se foi e ele não deu nenhum sinal, pensei que iria enlouquecer. Voltei a mania de roer as unhas, arrumava o cabelo sempre que ia sair de casa para o caso de esbarrarmos nos corredores ou no... estacionamento.
Até que aqui estou eu em mais um dia de espera. Um, dois, três... dias. Cheguei da faculdade a uma hora e estou especificamente jogada no sofá. Olhando para a tela do celular como se disso dependesse a minha vida. E talvez dependa mesmo. A vida amorosa. Um nome aparece na lista de pessoas onlines no whatsapp e meu coração despara como se tivesse sido dada a largada da última corrida das Olímpiadas. Instantaneamente, um sorriso bobo brota em meus lábios e me ajeito no sofá. Olho nervosa para o nome Diego na tela. Esperando. Sempre esperando.
A palavra escrevendo... aparece embaixo do nome e então finalmente ganhei a corrida. Minhas mãos tremem em antecipação ao prêmio. Clico no nome assim que a notificação de mensagem nova aparece. Meus olhos se movem loucamente em suas órbitas enquanto leio e digito.

Diego:
Boa noite, Bianca! Desculpa a demora em entrar em contato. Estava muito ocupado com o trabalho. Não foi falta de vontade! rs Como está? :)

Solto o ar que nem sabia que estava prendendo. Minhas preocupações indo abaixo depois dessas palavras.

Bianca:
Já estava imaginando que houvesse me esquecido! rs Bem, estou bem. Não entrei em contato para não parecer desesperada.

Diego:
Que é isso! Como poderia esquecer de alguém como você? A nossa conversa aquele dia me ajudou muito. Estava triste... Deveria ter ligado. Não me incomodaria!

Não consigo deixar de sorrir ao ler que ele se importa comigo. As expectativas se tornando realidade.

Bianca:
Aww, assim você me deixa encabulada! rs Percebi mesmo que você estava triste. Seria muita petulância da minha parte perguntar o porque?

Diego:
Hum. Imaginei seu rosto corando agora! :v Talvez tenha sido esse o plano, senhorita!
Problemas no trabalho e... uma pressão minha.

Eita! Agora ele foi bem direto. Não sei nem o que responder.

Bianca:
Opa! Confesso que você me pegou de surpresa agora com esse comentário! rs
Pressão? De que tipo?

Ele demora a digitar e penso que deve estar indagando se deve partilhar sua vida comigo ou não. Talvez seja um passo grande demais para ele. A palavra digitando... aparece novamente.

Diego:
Pensei que depois daquele beijo já tinhamos intimidade o bastante para você não se assustar.
Isso é algo que eu não diria a qualquer pessoa, mas eu estranhamente confio em você. Sei que não vai espalhar isso.
Eu sinto que o tempo está passando rápido demais para mim, se você me entende. E estou sozinho.

Então, era isso. Ele está cansado de viver sozinho ouvindo o som dos ponteiros passarem. Como eu.

Bianca:
Não me assustei. Só foi esclarecedor. rs Passando ao seu assunto, você está certo. Não contarei a ninguém. Não que houvesse alguém para contar. Então, você quer dizer que...?

Eu queria ler o que ele estava pensando. Queria ver ele dizer.

Diego:
Kkkkkkkkkkkkkk Você está me provocando, Bianca? Olha que meu apartamento fica a só 3 andares a cima do seu. :v

Pode apostar nisso, penso.

Bianca:
Então, posso supor que você não queira confirmar o que estou pensando?

Diego:
Você se esquece que não leio pensamentos. Gostaria que eu fosse até aí para você me contar ao vivo?

Estou segurando o ar novamente e não sei se o solto. Talvez o dia inteiro tenha sido um sonho. Talvez eu devesse me beliscar...

Bianca:
Isso seria um encontro? A essa hora não me parece muito adequado...

Diego:
Bianca, não me provoque novamente. rs Sei que você não é dada a convenções. Não depois de ter me seguido aquele dia.

Ele sabe. Ele sabe. O que eu posso dizer?

Bianca:
Como?! Não adianta dizer que foi apenas uma coisa do acaso? O destino, talvez? E, não me julgue assim tão baixa. rs Eu não trago um quase estranho para dentro do meu apartamento.

Diego:
Garota, eu acabei de dizer algo a você que para mim é difícil de dizer para alguém que é quase estranha para mim. Mas eu gosto de você. Tem certeza que não posso dar um pulinho aí? 5 minutos. Prometo.

Não sei com que forças, mas consigo ter a certeza de que não parece certo por... 5 segundos.

Bianca:
Então, você vai me contar do que exatamente você estava falando?

Diego:
No seu ouvido, se você quiser. Estou brincando, minha recatada. Posso ir agora?

Bianca:
Preciso vestir algo adequado. Quando terminar de me arrumar lhe aviso por aqui.

Diego:
Não me faça esperar muito. Mulheres gostam de fazer homens ficarem sem paciência.

Não respondo e deixo o celular no sofá. Me sinto mais nervosa do que antes como se fosse conhecê-lo agora ou como se ele fosse me atacar quando chegasse. Só que percebo que o quero aqui e não só hoje. Não suporto mais tudo igual. Ver as horas e os anos passarem. Mesmo que eu ainda seja nova o bastante para ver, quem sabe, muitos deles passarem. Ele já deve ter 30.
Olho para as roupas e a indecisão começa. Depois de alguns minutos perdidos escolho uma blusa de alcinhas de seda preta e um short jeans desfiado. Arrumo o cabelo colocando os fios no lugar, aplico um pouco de maquiagem nos olhos e um brilho nos lábios. Me encaro no espelho criando coragem para voltar a sala. Criando coragem para encarar o inevitável.

Bianca:
Estou pronta. Não exatamente pronta. Mas, bem, pronta.

A mensagem é visualizada e em menos de 3 segundos ouço a batida na porta. Meus pés cobrem o caminho até lá rapidamente. Abro-a e me deparo com um homem que me ofusca mais forte do que o sol. O maior sorriso que eu já vi na vida estampado no seu rosto. Ele está vestido para matar: camisa pólo azul escuro com uns botões abertos mostrando parte do peito nu, calça jeans preta. Ele me olha com aqueles olhos tão pequenos como de um filhote de gato desejando carinho e inclina um pouco a cabeça antes de falar:
- Posso entrar?
As palavras se foram e o máximo que consigo fazer é abrir mais a porta para o 1.80 m de masculinidade entrar. Ele arruma o cabelo meio molhado que lhe cai sobre os olhos e se senta no sofá indicando o lugar ao seu lado.
- Pode sentar aqui. Não vou lhe morder, e também não vou dizer: "só se você quiser."
Ele faz as palavras parecerem quentes. Tenho vontade de correr e abrir as janelas para deixar a brisa entrar e esfriar meu corpo desse calor. Acabo decidindo me sentar ao lado dele no sofá, mas a uma distância confortável.
- Você estava me esperando no corredor? - pergunto.
- Talvez a ansiedade tenha me vencido. - ele diz se inclinando para mais perto do meu rosto.
- Então, se quiser já pode me contar o que não quis dizer no whatsapp.
- Primeiro, você diz o que estava pensando. É o justo. - ele ri da minha cara franzida.
- Hum. Pelo que você disse entendi que quer formar uma família porque sente que já pode estar passando da hora.
Nossos olhos se encontram como dois imãs puxados por uma única força invisível. Ele se aproxima mais ainda e sinto sua perna colada a minha. Não sei como posso continuar pensando com clareza agora.
- Você pensou certo. - ele se recosta no sofá e suspira. - É muito ruim desejar isso?
- Como poderia ser? O contrário é o mais ruim.
- Então, você também quer?
Olho para o chão procurando pelo que dizer. Claro que não me sinto confortável sozinha, mas talvez seja um passo que não esteja preparada a dar. Não se isso envolver filhos.
- Depende do que você entende por familia. Não penso em ter filhos. Não nesse momento. E também não...
Paro. Algo me deixa desconfortável em afirmar que também me encontro só.
- Continue o que ia dizer. - ele se aproxima novamente.
- Não estou com ninguém. Como poderia pensar nisso...
- Eu penso. Todos os dias.
Me assusto quando ele toca meu rosto o contornando. Seus olhos castanhos perdidos nos meus lábios.
- Eu penso em você todos os dias, Bianca. A muito tempo.
Sinto minha garganta seca, a taquicardia começando. Eu realmente não estava preparada para isso. Me sinto como o goleiro que não esperava que o jogador faria o gol.
- O que você quer dizer?
- Eu não quero. Sempre quis dizer. - sinto sua respiração ofegante em meu rosto. - Eu quero você. Desde que meus olhos cairam em seus sorrisos, em seus cabelos. Desde que venho colecionando seus gestos. Acho que não preciso mais falar.
Ele sempre me deixa de boca aberta e sempre se aproveita disso. Nossas bocas se encontram com tanta saudade que chega a doer, mas não os lábios e sim o coração que parece querer rasgar a carne até chegar do lado de fora. Talvez ele também precise de algum ar para refrescar. As mãos dele percorrem minhas costas acariciando e puxando. As minhas em seu cabelo macio não encontram onde se agarrar. Parece pouco o momento, mas a distância parece quilômetros. Mal tenho consciência de quando minhas costas encontram o sofá e apoio minha cabeça no encosto. O beijo se torna mais avassalador em uma sensação de querer sempre mais. Mas não posso deixar que isso vá além.
- Diego... não agora...
Falo entre lábios e ele parece não me ouvir. Então, o afasto. Ele me olha como um cachorro recém enxotado.
- Não sei o que você está pensando, mas não é isso. - me levanto tentando articular um pensamento firme enquanto ele se senta. - Não posso, você sabe, fazer isso... Antes... bem, você sabe.
Ele ri da minha dificuldade em raciocinar.
- Eu compreendo. Mas eu quero que você me responda uma coisa. Seja sincera.
Faço que sim com um gesto de cabeça.
- Você me quer?
Golll! De novo...
- Olha o estado em que estou. Não costumo ser assim.
Ele se levanta devagar consciente do seu poder sobre mim. Com os passos calculados de um tigre ele avança e me puxa em um abraço. Eu sei que estou corando quando ele sorri.
- Então, posso supor que você queira falar da sua vida pessoal? - ele diz como no dia em que nos "conhecemos" com a diferença que não foi no meu ouvido.
- O que você quer saber?
- Você quer namorar comigo?
Olhando nos olhos dele eu não conseguiria dizer qualquer coisa diferente de sim, então me afasto. Vou até a janela do outro lado da sala tentando pensar se seria... certo. Não nos conhecemos direito ainda, mal conversamos e ele pode estar colocando expectativas altas demais em mim. Apostando todas as fichas. Mas outro lado de mim chama por ele e me diz que devo lhe dar uma chance. A verdade é que eu também gosto dele a muito tempo. As palavras dele me atingiram de uma forma forte e constante. Suspiro. Me viro e vejo-o passando uma das mãos no cabelo parecendo frustrado. Acabo me traindo e sorrio inevitavelmente para ele. Um sorriso tão esclarecedor quanto qualquer sim surge em seu rosto e seus olhos parecem frestas de tão pequenos. Como eu posso fazer diferente se ele me ganha com um gesto tão simples?
- Esse sorriso é um sim? - ele diz se aproximando com cautela.
- Acho que não conseguiria dizer não a você nem pelo whatsapp.
- Fico feliz. Muito feliz. - diz acariciando meu rosto com as pontas dos dedos. - Você não vai se arrepender. Prometo.
Quando nossos lábios se encontram novamente não ouço mais o tique-taque do relógio, não sei se o tempo está passando ou parado. A urgência de poucos instantes atrás de mantê-lo afastado se quebrou tão fácil como um vidro já trincado. Eu só tenho uma certeza. Isso não é um sonho ou eu já teria acordado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário